PERFEIÇÃO
(OLAVO BILAC).

Nunca entrarei jamais o teu recinto:
Na sedução e no fulgor que exalas,
Ficas vedada, num radiante cinto
De riqueza, de gozos e de galas.

Amo-te, cobiçando-te... E, faminto,
Adivinho o esplendor das tuas salas,
E todo o aroma dos teus parques sinto,
E ouço a música e o sonho em que te embalas.

Eternamente ao meu olhar pompeias,
E olho-te em vão, maravilhosa e bela,
Adarvada de altíssimas ameias.

E à noite, à luz dos astros, a horas mortas,
Rondo-te, e arquejo, e choro, ó cidadela!
Como um bárbaro uivando às tuas portas.


     O título, que já traz a indicação do tema do poema, evidencia a principal preocupação da estética parnasiana: a busca da perfeição artística. Todo o corpo do soneto, os dois quartetos e os dois tercetos, pode ser considerado como uma grande anáfora em relação ao título: tudo o que é dito no poema está relacionado com a perfeição. Além de ser o tema de que o poeta trata, a figura da perfeição funciona também como destinatária intratextual: o “eu” poemático a ela se dirige, como se fosse um ser humano, usando o pronome “tu”, e a ela invoca através da imagem da “cidadela”, que aparece no penúltimo verso.

     A ideia abstrata da perfeição encontra-se configurada no poema por imagens plásticas que a tornam um objeto concreto: ela é descrita como se fosse um castelo, uma fortaleza circundada de muros altos, impossível de ser expugnada pelo homem. Nessa cidadela, reside tudo o que é o objeto de desejo do ser mortal: a riqueza, o prazer, as honrarias, o aroma, a música, todas as maravilhas sonhadas.
    
     A aderência de Olavo Bilac à estética parnasiana se percebe não só pelo tema ¬- a busca para alcançar a perfeição na arte __, mas também por elementos estruturais. A própria forma poemática - o soneto -, de largo uso na poética clássica, obriga o poeta a disciplinar os arroubos do sentimento aprisionando a inspiração no reduzido espaço de dois quartetos e dois tercetos, com rimas alternadas e entrelaçadas. Também a escolha lexical releva o gosto parnasiano por palavras eruditas, preciosas, que embora dicionarizadas, não pertencem sequer ao uso da norma culta: “pompeias”, “adarvada”, “ameias”.

     Enfim, este soneto de Olavo Bilac é uma boa amostra da preocupação estética parnasiana: a volta aos modelos formais do Classicismo, imitando Petrarca, Camões, Tasso, produzindo uma poesia erudita, perfeita na sua construção fônica e sintática, retomando os temas que idealizam a existência humana. Por incrível que pareça, a lírica parnasiana coloca-se aos antípodas de alguns princípios estéticos do Realismo.




LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 11/04/2011
Reeditado em 11/04/2011
Código do texto: T2902589
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.