Curso Produção de Textos - Encontro 1

Olá, meus queridos amigos.

Resolvi iniciar o Curso de Produção de Textos, haja vista o direcionamento do site Racanto das Letras.

Neste curso, não desejo criar um "sistema fechado" de produção de textos. Não tenho esta pretensão. Nem quero esgotar todo o assunto. Aqui, vou descrever a minha experiência como escritor, os meus mecanismos de construção textual e os intrumentos que utilizo para executar a minha arte: a manipulação da palavra.

"Aula 1"

"A Arte de Escrever"

Sim, estamos fazendo Arte. E como toda Arte, a Literatura é um "artefício": utilizamos símbolos para transmitir uma outra realidade: emoções, idéias, fatos.

Utilizamos a ARTE para nos desnudar, para expor como pensamos, como somos e o que sentimos.

"A ARTE é mentira que revela a verdade"

- Pablo Picasso.

Eis a melhor definição de ARTE.

Imagine um quadro pintado por Picasso.

- O quadro em si é apenas um objeto - possui a utilidade de compor um ambiente. É um elemento estético.

- A "ideia" que o quadro representa, o seu significado, é a OBRA DE ARTE, a produção artística.

- O Pintor é o ARTISTA - aquele que, conscientemente, produziu a obra de arte.

- A ARTE é o mecanismo pelo qual um Artista cria sua OBRA.

A ARTE não é aquilo que é útil (o objeto), nem a ideia que ela transmite, a Arte é artífício de fazer uma coisa representar outra.

"Toda arte é completamente inútil."

- Oscar Wilde.

Eis a melhor caracterização do que é ARTE: completamente inútil, e absolutamente essencial.

A arte não é o vaso. A Arte é o "que" este vaso pode representar: a morte, um casamento. O artista utiliza "qualquer" coisa e a transforma naquilo que ele assim desejar: Manipulação.

Um artista pode transformar uma flor (objeto) em uma mulher, uma canção, em qualquer coisa: Alquimia.

A Literatura é a arte da manipulação da palavra - nossa matéria prima!

Observe o texto seguinte:

"Alguma coisa acontece no meu coração."

Todo escritor deve ser capaz de fazer pelo menos 5 interpretações diferentes de uma mesma mensagem, para que ele mesmo possa produzir textos ricos e bem estruturados.

Observe:

1. Interpretação Gramatical:

"Alguma coisa acontece no meu coração."

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Morfologia: (Pron Adj) (Subst) (Vebro) (Prep/Art) (Pron Adj) (Subst)

Sintaxe: (Adj Adn) (Sujeito) (Ação) (ligação) (Adj Adn)

_____________________

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(Adjunto Adverbial: Onde.)

Nesta interpretação, temos os componentes básicos do texto, as palavras.

É importante que haja uma estrutura gramatical correta para que a mensagem seja perfeitamente entendida.

2. Interpretação Literal:

Aquilo que a mensagem diz por ela mesma, ou seja: o seu significado primitivo.

"Alguma coisa acontece no meu coração."

- Caetano Veloso.

Segundo o autor, algo aconteceu no coração dele. (Literalmente)

3. Interpretação Semântica:

O que cada palavra representa nesta mensagem.

Quem ou o quê? - alguma coisa.

Faz o quê? - acontece

Onde? - no meu coração

O texto está escrito em Primeira Pessoa: O Autor fala dele próprio e de coisas que acontecem com ele.

4. Interpretação Contextual

Nesta interpretação, a frase é analisada dentro de um contexto mais amplo, ou seja, dentro de um texto maior, em que ela se relaciona com outras frases, criando uma concepção diferente da interpretação LITERAL, quando a frase é estudada sozinha, em seu sentido primitivo.

"Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João..."

O Autor estava em São Paulo, "acontece" - Tempo presente.

Estava bem no cruzamento da Av. Ipiranga com a Av. São João, e lá "alguma coisa" aconteceu no coração dele.

5. Interpretação Subtextual

Até aqui estudamos apenas "a coisa" em si, o objeto, a obra.

Mas sempre há um subtexto, mensagens "escondidas" no texto, ou seja: aquilo que o texto pode representar, mesmo sem dizer.

No subtexto está a ARTE, o jogo, a manipulação.

Observem a manipulação das palavras por Caetano Veloso:

"Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João..."

"Alguma coisa"

- O autor não diz o que é essa "coisa". Ele deixa ima ideia vaga... "alguma"; talvez por não querer que o leitor saiba do que se trata, talvez por ele mesmo não saber o que é. (Isso ele responde depois: "é que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi.") Mostrando coerência e justificando o uso de um pronome indefinido "alguma"... Por ele também não saber o que é esta "coisa".

"que só'

- O Autor particulariza um fato.

Ou seja: esta "alguma coisa" que ele sentiu, "só" sentiu ali: no cruzamento da Av. Ipiranga com a Av. São João. Ali existia "algo" especial que fez ele sentir "algo" único!

"Ipiranga e a Avenida São João"

- Centro de São Paulo, região muito conhecida, o Coração da cidade. Caetano usa "meu coração" e "Ipiranca com São João" para dizer que algo aconteceu no coração dele, quando estava no coração de São Paulo.

Observe:

Um texto não-artístico resume-se em sua mensagem. Diz o que tem que dizer.

O Texto artístico vai além, traz mensagens, referências, e "zilhões" de significados e possibilidades dentro de sua obra.

O Artista Escritor deve ser capaz de explorar cada palavra em seus plurissentidos e suas multipossibilidades.

Neste Curso, aprenderemos alguns segredos desta Manipulação.

Seja bem vindo, leitor, ao meu mundo da Criação Literária.

Observação!

Escritores que desejarem ter seus textos analisados aqui neste curso ou utilizados como exemplos de minhas aulas, entrem em contato pelo msn superborg@hotmail.com.

Boas leituras.

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