Esaú e Jacó , Literatura Brasileira e os alunos do 2º ano do Ensino Médio: um diálogo possível.

As palavras têm sexo (...)

Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo."

( Machado de Assis)

Quando se pede a leitura de uma obra clássica para turmas em fase de Ensino Médio, percebe-se um grande desinteresse dos alunos para com a obra. Não que esses não sejam leitores, mas porque de alguma forma os clássicos estão estigmatizados. O papel do professor de Literatura, hoje, é retomar o valor da obras primas nacionais e armazená-las num acervo inestimável: no interior intelectual de cada ser humano que passar pela etapa desse aprendizado.. O que não se conhece e é rotulado, muitas vezes é desagradável porque sempre foi assim, dizem que é assim, então também se vê de forma igual. Literatura boa é imortal. Camões é imortal, Shakespeare também, Guimarães Rosa e Machado de Assis, idem.

A metodologia para convencer os alunos que os Clássicos têm que ser lidos no período escolar a fim de amadurecê-los literariamente, passou a ser tarefa difícil, mas não impossível. Talvez porque, anos atrás, os estudantes eram, de certa forma, obrigados à leitura e ela fazia parte de sua formação cultural, os autores estavam presentes à cabeceira, à escrivaninha, à poltrona, etc. Hoje, há diversas formas de compartilhar literatura, e assim a leitura fica em segundo plano. O que se deve fazer é adotar metodologias que incentivem os alunos à leitura dessas obras.

"A finalidade principal de aprender não é acumular informação, mas transformá-la em conhecimento que permita fazer opções interessantes entre idéias, valores, visões de mundo, com freqüência conflitantes. Esse papel mais amplo não pode ser atribuído somente à escola, mas também à família, à cada instituição, à cidade como um todo (cidade educadora). Mas a escola tem focado mais a formação intelectual do que a vivência das práticas aprendidas; isto é, se preocupa em mostrar caminhos, sem acompanhar os resultados concretos (a realização pessoal, profissional, emocional). De que adianta saber muito, se somos infelizes, se temos dificuldades em assumir desafios, em sair de situações de opressão em alguns campos? "(Texto publicado na página do blog de José Manuel Moran –www.eca.usp.br/prof/moran/escolhas.htm)

Machado de Assis era indecifrável, até que o estudo em oficinas, desenvolvidas nas aulas de literatura, permitiram desvendar o enigma de uma obra tão singular. Esaú e Jacó, romance lido pelo 2º ano A do Colégio Oswaldo Tognini, no 3ºbimestre, passou a ter um outro significado, quando, além de ser amplamente discutido, permitiu um diálogo entre a classe e o autor. A intertextualidade deu vazão à produção de um texto dramático em que o clássico fora inserido como estudo numa visão contemporânea dos fatos. O roteiro fora escrito pelo próprio grupo que o encenou. Nada foi imposto pela professora da disciplina, a idéia principal era a releitura do texto original, e assim surgiu uma adaptação, cuja apresentação aconteceu na sexta-feira, 24 de outubro de 2008, no auditório do colégio. Os colegas prestigiaram, respeitaram e valorizaram o desempenho do grupo.

Vê-se, portanto, que a escola pode ser inovadora, capaz de transformar seu espaço para interessantes formas de aprendizagem, interpretação, pesquisa e produção literária. A visão da escola precisa ser outra, não dá mais para enxergá-la como nossos pais. Os alunos precisam compartilhar seus conhecimentos, sentirem-se úteis. Vêem os métodos arcaicos sendo aplicados com recursos novos e transmitem indignação inconsciente. Quando a mesmice os incomoda, tornam-se indisciplinados.

A sala de aula, hoje, necessita ampliar seus horizontes para contribuir na formação de cidadãos plenos. A literatura dos clássicos é uma forma de aprendizado para a vida e não porque é cobrada no vestibular. É difícil conscientizar a maioria, mas da mesma forma que as pessoas enaltecem o Museu da Língua Portuguesa pela inovação, é preciso tornar a leitura um fato que faça os olhos brilharem, o coração palpitar, os ouvidos escutarem e a boca negociar no espaço de verdadeira interação que é a sala de aula.

Professora Joísia Góes Costa

Joisia Goes
Enviado por Joisia Goes em 12/02/2012
Código do texto: T3495844
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