O Poeta Manuel Bandeira e seu itinerário

O POETA MANUEL BANDEIRA

NO SEU ITINERÁRIO

O movimento modernista de 22 conscientizou os poetas de que poesia não é apenas um transbordar de emoções, mas também uma arte que deve exigir estudo, trabalho diário e aperfeiçoamento contínuo. A partir desta nova idéia do fazer poético, surgida, nos manifestos vanguardistas de Mário de Andrade, os poetas passaram a se preocupar deveras com o aperfeiçoamento de sua arte, chegando à necessidade de trocar informações com contemporâneos e amigos que, sentindo essa mesma necessidade de pedir opiniões e de se certificarem da qualidade de seus escritos, uniram-se a Mário de Andrade e criaram volumosa correspondência entre si, sobressaindo, na troca amistosa, informações e crescendos sobre o poema que acabara de ser feito. Havia uma grande preocupação com a métrica, a musicalidade, a associação de sons, enfim, o ritmo e o aperfeiçoamento do verso. Não só no Brasil, mas também na Europa, vivia-se um momento de mudança, de evolução e da conquista do “novo” em literatura. Todos os nossos poetas se incluíam na preocupação de Paul Valéry para quem o primeiro verso é a força inicial do poema e o inconsciente a força leitmotiv do mesmo.

Nestes particulares, a poesia de Bandeira se identifica plenamente, já que buscava atingir sempre “o novo” que se dá face à libertação que o poeta vai conquistando em sua arte.

Preocupados em se desempenharem com consciência, achando que era sempre possível fazer melhor, passa-se a observar um certo sentimento de minoridade em nossos poetas; Carlos Drummond de Andrade se dizia gauche, Mário de Andrade buscava acrescentar dados à sua poesia, voltando-se para os poetas do passado e trocando experiências, através de cartas, com os amigos contemporâneos e Manuel Bandeira, numa atitude negativa e, por isso, semelhante, a do amigo itabirano, dizia-se “poeta menor”, acusando o eu lírico de seus versos ao se atribuir a culpa de um poeta “que poderia ter sido e que não foi”.

Estas atitudes de negativismo, de inferioridade e quase recusa por uma arte que, no fundo, pode ser vista como o melhor da poesia, são analisadas, por certos críticos, ou como uma forma encobridora dos valores pessoais, uma atitude de modéstia e simplicidade ou como uma certa instabilidade na confiança de suas intelectualidades.

De uma ou de outra forma, os poetas do início do século e, sem dúvida alguma, Manuel Bandeira, procuraram colocar o melhor de si em sua arte, pautando-a de conceitos teóricos que permitem ao estudioso ou crítico estabelecer a seqüência seguinte: Poética- Retórica – Linguagem- Crítica – Etc.

Manuel Bandeira, mais do que se preocupar em fazer uma arte compatível com o momento moderno, buscando estar sempre a par do novo, através de trocas de informações, preocupou-se também em registrar os ensinamentos que adquiria ou que adquirira antes, certo de contribuir para que se fizesse uma poética consciente que pudesse, de alguma forma, contribuir com aqueles que se davam a essa arte e que nem sempre se sentiam ou estavam deveras preparados para ela. E, numa contribuição valiosíssima, quer na intenção de contribuir, quer pensando apenas em ditar as regras que seguia no seu dia-a-dia, o poeta nos legou o Itinerário de pasárgada (1954), um livro que se não pode ser definido como um manifesto, deve ser considerado, sem dúvida, como uma espécie de conteúdo informativo da poesia moderna, além de uma referência experimental para aqueles que se dignam à arte poética que sucedeu os anos XX.

1.Considerações históricas

Sabe-se, ao estudar um autor e obviamente um poeta, no caso Manuel Bandeira, o quanto é importante não só inseri-lo no momento literário a que pertence, como também interrelacionar sua obra no conjunto de livros que ele publicou, observando-se, através de diferentes relações com outras obras produzidas no mesmo período, o quanto é possível estabelecer-se uma análise diacrônica e, portanto, histórica. Toda a poética de Manuel Bandeira se caracteriza, sem dúvida, na experimentação e na busca constante de novos tipos de expressão.

No fazer poético, a linguagem atinge sempre “as forças mágicas da significação”(TELES, Gilberto Mendonça:1989, pág.159) e, sobre ela, atuam as primeiras investidas do ato literário. Advém daí a importância da Retórica, segundo a qual: “A Poética tem por objetivo efetuar os caracteres essenciais da criação literária (...) a Retórica é uma ciência da expressão, oral ou escrita, destinada a persuadir ou influenciar o ouvinte”( TELES, Gilberto Mendonça: ibidem, pág.166).

Bandeira procurou sempre empregar novas formas de expressão, entendendo-se por “novas”, as formas já existentes e transformadas em outros aprendizados. A linguagem foi, sem dúvida, o dado fundamental de suas produções e considerando-a dentro do texto literário, cumpre assinalar que “o discurso literário (...) é construído sob o signo da “opacidade”, a linguagem se torna visível, é como um vidro translúcido que deixa passar um pouco de luz, mas que não deixa ver exatamente a realidade sensível. Mostra-a, mas também “se mostra”( TELES, Gilberto Mendonça: ibidem,pág.57).

Inserindo-se, pela linguagem, nas chamadas “Artes Práticas”, a poesia realiza a verdadeira criação, muito embora não se possa esquecer que, ligada a ela está a arte que remetendo à Retórica, pode ser entendida consoante as palavras de Heinrich Lausberg como

Um sistema de regras extraídas da experiência, mas pensadas, depois logicamente, que nos ensina a realizar uma ação que tende a seu aperfeiçoamento e repetível à vontade, ação que não forma parte do curso natural do acontecer e que não queremos deixar ao capricho do acaso.(1966 APUD TELES, Mendonça Gilberto: ibidem, pág.58)

Esta parece ser a idéia exata de Manuel Bandeira e, de um modo geral dos poetas modernos para quem “Arte é mondar mais tarde o poema”(ANDRADE, Mário: 1988, pág.119). Manuel Bandeira se preocupou em exercer a poesia como um exercício contínuo de aprendizado e experiência, exercitando o tempo todo técnicas novas e formas versificadas nas quais o verso rimado imiscuía-se ao verso livre, produzindo, às vezes, novos efeitos rítmicos e musicais que, uma vez praticados, enriquecem a fluência rítmica e a prática do poeta. Estas experimentações não invalidam o aspecto mimético que envolve o discurso literário, até porque “Nesse espaço mimético, se ajustam hoje os três lados do processo mimético, decorrendo daí as discussões a respeito de realismo / irrealismo e de tradição e vanguarda”( TELES, Mendonça Gilberto: ibidem, pág.50).

Refletindo-se sobre o termo vanguarda cumpre reconhecê-lo como um momento de mudança radical nas artes e, sobretudo no Brasil, passado o primeiro momento, que se caracterizou, como é normal a todo momento em que o novo começa a ser impetrado, por um processo de transformação, surgem poetas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto que fizeram valer o “vértice da invenção e atualização de cada época” (TELES, Mendonça Gilberto: ibidem, pág.178). Manuel Bandeira preocupou-se em desenvolver uma poética voltada para o aprendizado constante, onde imperavam as experimentações lingüísticas e as tentativas de mudança rítmica e de inovações vocabulares. Saber lidar com os elementos que constituíam a formação do poema reforçou em Bandeira a inventividade e a capacidade de praticar uma arte que também na apreciação de Gilberto Mendonça Teles:

pressupõe virtuosidade e escolha, está centrada nos princípios de experimentação e escolha, assim como estes procedimentos pressupõem a esfera da competência, do saber cultural e técnico do artista, principalmente do poeta que imprime uma alta organização à linguagem do poema, valorizando os seus “pequeninos nadas” que se eletrizam no sentido da poesia. (ibidem, Ano pág.1, 2)

Manuel Bandeira, em sua constante tentativa de aperfeiçoar os seus versos, em sua incansável tarefa de buscar novos aprendizados, foi se munindo, cada vez mais, de contatos literários que serviam como embasamento para sua arte. Bandeira buscava poetas contemporâneos e de todas as épocas, quer nacionais ou estrangeiros, trocando, intimamente com eles, conhecimentos úteis à prátca de sua poesia. Munido de vários autores e textos, é claro que tinha de fazer aflorar em sua própria obra os reflexos dessas leituras. E é nesses reflexos que se justificam as inúmeras intertextualidades surgidas em seus poemas. A este “longo centão” como Gilberto Mendonça Teles denominou (ibidem, pág.11), podem-se associar as palavras de Júlia Kristeva:

Para os textos poéticos da modernidade, poderíamos afirmar, sem risco de exagero, é uma lei fundamental: eles se constroem absorvendo e destruindo concomitantemente os outros textos do espaço intertextual. O texto poético é produzido no movimento complexo de uma afirmação e de uma negação simultânea de um ou outro texto..(Apud TELES, Gilberto Mendonça: 1989: pág.48)

Em meio a estas “vozes” que interpenetram os textos apresentam-se, em vários poemas, temas que se repetem nas cantigas de roda ou na poesia popular do nordeste. Entretanto, são os poemas metalingüísticos que melhor caracterizam a experimentação poética de Manuel Bandeira. A este respeito, volta a falar o crítico:

Tanto o (plano) da linguagem como o (plano) da metalinguagem fazem parte de um sistema potencial da língua, distinguindo-se porém perante o texto: a linguagem o cria; a metalinguagem o examina e recria (TELES, Mendonça Gilberto: 1989, pág. 124)

Neste aspecto, a Crítica aparece ligada à História Literária, imiscuindo, num só elemento, Crítica e Poética. Manuel Bandeira, sempre preocupado em contestar ou em se inteirar das produções contemporâneas, desenvolve sua crítica de modo tão acirrado que, às vezes, depois de uma primeira opinião, reconsidera, dizendo: “Quando leu Paulicéia desvairada viu que “Aquele ruim esquisito era do legítimo, isto é, significava uma força e um talento ainda nos limbos dos disforme” (TELES, Gilberto Mendonça: 1989, pág. 124).

Cumpre assinalar que a longa trajetória de experimentação e aprendizado desenvolvida por Manuel Bandeira se apoiou também em enfatizar o sentimento e a emotividade que caracterizam o fazer poético. A angústia se afigura, por exemplo, num poema inicial de Cinza das horas

Fecha o meu livro se por agora

Não tens motivo nenhum de pranto

“Desencanto”

3. O poeta e o seu itinerário

Certa vez, tendo recebido do Jornal do Comércio uma crítica a respeito de seus versos, crítica que considerou como “um elogio (...) muito chochinho”(BANDEIRA, Manuel: 1934, pág.34), o poeta pernambucano resolveu decidir-se a respeito de seus poemas e, como declarou: “Nunca os exumei (aqueles versos) das páginas do Jornal do Comércio, onde espero que para sempre durmam ao abrigo de um possível póstero violador de sepulturas”( BANDEIRA, Manuel: ibidem).

Depreende-se, em meio à conscientização que Manuel Bandeira revela uma tentativa constante de aprimorar o verso e de tornar o fazer poético um processo de novas criações, invenções e transformações, buscando no passado o novo e extraindo daqueles “pequenos nadas” uma produção cujo valor maior está na experimentação. A poesia de Bandeira passa ainda por constantes mutações e o soneto parecia algo quase desconfortante e desagradável:

Lembro-me ainda muito bem da estranheza do mal-estar que me dava quando a poesia era soneto e eu, até então só afeito ao ritmo quadrado, me sentia desagradavelmente suspenso ao terceiro verso do primeiro terceto. A aceitação da forma soneto foi em poesia a minha primeira vitória contra as forças do hábito. (BANDEIRA, Manuel: 1954, pág.12)

Bandeira admirava Camões e, em sua obra, encontram-se, de fato, poemas e sonetos que caracterizam a influência deste poeta português. Segundo seu próprio depoimento

“Hiato, em Carnaval, veio da influência de Camões, Afonso Lopes de Almeida me observou um dia: “Você já reparou como são fortes os versos fracos de Camões”

( BANDEIRA, Manuel: 1954, pág.30). Esta busca ou esta influência vinda de outros autores, estrangeiros e mais antigos, justifica a tentativa de aprendizado constante por parte dos poetas modernos e em especial de Manuel Bandeira, visando a, através de leituras e de contatos com poetas e autores contemporâneos, acrescentar dados novos às suas produções. Desta forma, é que, segundo ele, “Aprendi que a boa rima é a que traz ao ouvido uma sensação de surpresa, mas surpresa nascida não da raridade, senão de uma espécie de resolução musical”.( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.32)

A importância que Bandeira dá à musicalidade dos versos está muito próxima do que Mallarmé defendeu como importante em poesia. O ritmo constitui “ a atração que sobre nós exercem certas palavras”( TELES, Gilberto Mendonça:19..., pág.42). De fato, em Mallarmé insere-se o posicionamento segundo o qual “em literatura a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com idéias e sentimentos”(id ibidem). Esta valorização do termo empregado, da palavra que proporcione o prazer da leitura constitui uma insistente preocupação em Bandeira para quem “As palavras iluminam-se de reflexos recíprocos”(ibidem, pág.43). A linguagem, a utilização certa dos vocábulos, visando a um ritmo adequado no momento da leitura e da compreensão do verso são, em Bandeira, responsáveis pela “sua técnica de poeta (que) é uma orquestração da linguagem e o alexandrino( ) uma combinação de doze timbres” (”.( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.152). O poeta pernambucano se dava a experimentações vocabulares, analisava minuciosamente o efeito positivo que era conseguido através de duas ou três substituições de palavras que considerava medíocres e concluía:

Cotejos como esses que tinge em vez de doura, ninhos em lugar de alam-se carinhos, etc. me foram ensinando a conhecer os valores plásticos e musicais dos fonemas; me foram ensinando que a poesia é feita de pequeninos nadas e que, por exemplo, uma dental em vez de uma labial pode estragar um verso.( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.25)

Desde criança, Manuel Bandeira parece se interessar pela escolha de palavras, pois, segundo ele o pai se sentia, às vezes, invocado por certas palavras. Lembra-se até de uma delas que empregou num de seus poemas: protonotária e é a respeito dessa espécie de invenção lingüística que ele ironiza: “Se eu tivesse algum gênio poético, certo poderia, partindo dessas brincadeiras que meu pai chamava “operas”, ter lançado o surrealismo antes de Breton e seus companheiros”( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.11). Esta tendência para a minoridade, para se dizer um poeta sem importância reconhecida está presente nos poetas modernos, muito embora a doença que o acometeu logo cedo tenha sido um motivo a mais para se dizer sempre um “poeta menor”. Talvez tentando superar a dificuldade, encontrasse em si estímulo tão grande para dedicar-se ao estudo contínuo da tékne e das inovações poéticas. Aliás, esta afirmativa é declarada pelo eu lírico de “Infância”. É compreensível que a doença revelada cedo

O senhor tem lesões teoricamente incompatíveis com a vida; no entanto, está sem bacilos, come bem, dorme bem, não apresenta em suma nenhum sintoma alarmante. Pode viver cinco, dez, quinze anos. Quem poderá dizer?

Continuarei esperando a morte para qualquer momento, vivendo como que provisoriamente. (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.122)....

tenha sido a responsável pelo sentimento triste que se depreende de versos como:

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste:

Passei a vida à toa, à toa.....

(Andorinha)

E o desencanto da vida face à doença é, de fato, ironicamente trazida para a poesia:

- Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”

(Pneumotórax)

Uma certa fragilidade parecia dominar desde cedo o sentimento de inferioridade do poeta que, embora se dizendo “menor” como os demais contemporâneos se diziam “gauches” ou se mostravam negativos e tristes, confessava o mal que a doença lhe causara: “Fui um menino turbulento, nada sentimental. A doença, porém, tornara-me paciente, ensinara-me a humildade”( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.59). Este sentimento influenciou, certamente, a sua contínua predisposição para se dedicar ao estudo e à experimentação poética. Em sua voluntariedade em se dizer um poeta menor havia a “consciência de que sua matéria poética seria sempre a das pequenas dores e ainda menores alegrias”(TELES, Gilberto Mendonça: ? pág.45). Por outro lado, o mesmo crítico admite que

Bandeira se dizia, reiteradamente, um poeta menor porque não sabia transformar as “emoções morais” em “emoções espontâneas”, e dizia ter consciência de que a sua matéria poética seria sempre a das pequenas dores e ainda menores alegrias.(ibidem, pág.45)

A verdade é que sua angústia parecia dominar-lhe os maiores prazeres e até insistir em revelar-lhe certa incompetência para a poesia: “Tomei consciência de que era um poeta menor; que me estaria para sempre fechado o mundo das grandes abstrações generosas....”( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.22). Motivado pela necessidade de escrever, de se tornar poeta na acepção do termo, Bandeira procurou fazer de sua arte um constante aprendizado, uma espécie de jogo de intuições que o levava a dizer: “Não faço poesia quando quero e sim quando ela, poesia, quer”( BANDEIRA, Manuel: ibidem pág. 109). Em meio a este processo, Manuel Bandeira deu grande valor ao inconsciente, às idéias que proliferavam em liberdade e que adquiriam proporções maiores graças ao exercício de experimentações constantes: “o vocabulário, a sintaxe podem ser inaturais: as formas de sentir e de pensar, não. Somos duplamente prisioneiros: de nós mesmos e do tempo em que vivemos” (BANDEIRA, Manuel: ibidem pág. 108). Dada à facilidade de criar a partir do inconsciente, o ritmo se tornou dado indispensável para a boa entonação do verso, já que

o bom fraseado não é o fraseado redondo, mas aquele em que cada palavra está no seu lugar exato e cada palavra tem uma função precisa, de caráter intelectivo ou puramente musical, e não serve senão a palavra cujos fonemas fazem vibrar cada parcela da frase por suas ressonâncias anteriores e posteriores.

( BANDEIRA, Manuel: ibidem pág. 41)

O ritmo acompanha o pensamento (TELES, Gilberto Mendonça: ? pág.30), logo, pouco a pouco, Bandeira se foi libertando do tradicionalismo poético e, ao saber do verso livre, até exultou: “E vejam como eu andava atrasado: em 1911 ainda não tinha idéia do que fosse o verso livre”( BANDEIRA, Manuel: ibidem pág. 35). O contato com este tipo de verso exerceu tamanha influência no poeta pernambucano que, logo depois, surgiram poemas como “Meninos Carvoeiros” e “Noturno de Mosela”, que revelam total liberdade métrica.

Manuel Bandeira, embora tenha atendido ao impulso do inconsciente, nunca se furtou à necessidade de aprimorar o que escrevia, quer adequando o vocabulário, quer procurando o ritmo adequado à leitura do verso. Por outro lado, esta constante preocupação em fazer sempre o melhor, provocava-lhe um senso crítico acirrado sobre o que escrevia, fazendo-o refletir sobre suas produções e chegar a conclusões como esta onde a insatisfação predomina nitidamente:

A Cinza das horas não continha tudo que eu havia escrito até 1917, data da publicação. Fizera eu uma escolha, preferindo os poemas que me pareciam ligados pela mesma tonalidade de sentimentos, pelas mesmas intenções de fatura... Nada tenho para dizer desses versos, senão que ainda me parecem hoje, como me pareciam, então não transcender da minha experiência pessoal, como se fossem simples queixumes de um doente desenganado, coisa que pode ser comovente no plano humano, mas não no plano artístico. (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.49).

Observa-se que a autocrítica prevalece nos pontos de vista do poeta que recusando, às vezes, aquilo que escreve “Até os quinze anos não versejei senão para me divertir, para caçoar. Então vieram as paixões da puberdade e a poesia me servia de desabafo. Sou poeta de desabafos e circunstâncias” (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.119). A idade influenciava, segundo Bandeira, na competência do poeta; em Lição do amigo,( ) livro de cartas entre Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, constata-se que, ao perguntar ao poeta se tem menos de vinte anos, descarta a possibilidade de nesta idade ter escrito bons versos. E isto se explica no fato de considerar que a poesia é uma arte que exige aprendizado e amadurecimento de conceitos, logo exige tempo para ser aprendida. Por outro lado, aliada a essa necessidade de ser levada a sério, trata-se também de algo que transporta ao sonho e de transposição para o prazer. E neste particular,o “Vou-me embora pra Pasárgada” , revelando ao poeta uma “noção de haver uma realidade mais bela, diferente da realidade quotidiana....” (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.11), reflete sua predileção pelo poema.

Esse nome Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas” suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias....de tudo o que eu não tinha feito por motivo de doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.88)

Pasárgada afigura-se para o eu lírico e, apoiada no depoimento de Manuel Bandeira, para o autor, como o lugar paradisíaco, onde, como no poema “Fim” de Carlos Drummond de Andrade, o eu lírico encontra o porto seguro para a sua existência. De fato, lá tudo é prazer: ginástica, bicicleta, mulheres e ainda uma cama idealizada pelo sonho. A respeito de tal prazer, Gilberto Mendonça Teles se refere ao cuidado que o poeta teve com a musicalidade das palavras, fazendo ainda da poesia o seu instrumento de evasão em busca do escapismo. (TELES, Gilberto Mendonça:? Pág.48),. Todas estas conclusões vão ao encontro do poeta e do leitor que, na visão do crítico referido acima, “a poesia não existe em si; será uma relação entre o mundo interior do poeta, com a sua sensibilidade, a sua cultura, as suas vivências e o mundo interior daquele que o lê” (ibidem, pág.9). Esta observação é importante na medida em que sua poesia é pragmática e busca constantemente o leitor. Em muitos poemas, o diálogo com o leitor é visível, ora interpelando-o a respeito de si mesmo, ora imiscuindo nos poemas intertextualizações diversas. Em “Sextilhas Românticas” o romantismo se revela presente nos versos, além de, ao longo da poesia de Bandeira encontrarem-se outros poetas, outras formas populares do Nordeste, da infância e de autores diversos, intertextualizados em seus poemas, sobretudo em “Balada das três mulheres do sabonete Araxá”. Segundo as palavras do poeta, trata-se de “uma brincadeira, mas em que, (...)pus ironicamente muito de mim mesmo....”(BANDEIRA, Manuel APUD TELES, Gilberto Mendonça, ibidem, pág.25).

A poesia deste pernambucano imiscui poemas metalingüísticos como “Poética”, “Neologismo” e “Nova poética”, os quais afirmam sua conscientização ante o fazer poético. Aliás, o seu itinerário é realmente marcado pela necessidade de o poeta aprimorar a sua técnica, tornando o seu ofício um exemplo do que Castro Alves definiu como sendo poesia: “A poesia é um sacerdócio – seu Deus o belo – seu tributário, o poeta”(Apud BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.194).

4. Manuel Bandeira e Teorias poéticas

O esforço de Manuel Bandeira em desenvolver uma poética centrada num aprendizado constante repercutiu num esforço bem sucedido:

Cheguei ao apaziguamento das minhas insatisfações e das minhas revoltas pela descoberta de ter dado à angústia de muitos uma palavra fraterna. Agora a morte pode vir. – essa morte que espero desde os dezoito anos; tenho a impressão que ela encontrará, como em “Consoada” está dito: “a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar” (BANDEIRA, Manuel, pág.195)

O seu fazer poético visa a alcançar o mesmo aperfeiçoamento buscado, em épocas anteriores, por Pope, Horácio, Malherbe e Boileau que entendendo a poesia como arte cabível a um gênio, buscavam sobretudo a simplicidade e a precisão (SUHAMY, H.: 1986, pág.21). Fazendo desta arte a virtuosidade exigida dos mais capazes, também em Bandeira a estética se interliga à emoção, conservando o dom consciente que Castagnino entende como sendo pertinente à “La poesia (que) conlleva concepciones del mundo y de la vida que operan cuando ponen em juego (...) mecanismos, fantasia, intuición, de recônditos estremecimientos...(CASTHAGNINO, Raúl H. 1980, pág. 16-17). Numa atitude bastante próxima, Manuel Bandeira declarou que “o conteúdo emocional daquelas reminiscências da primeira meninice era o mesmo de certos raros momentos de minha vida adulta”(BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.9). O resultado de sua poesia se deve à linguagem, ao efeito das palavras e dos sons produzidos por elas para externar o seu “conteúdo emocional”. De uma ou de outra forma, sua poesia pode ser entendida como uma forma de catarse ou de exteriorização de sentimentos, o que vem ao encontro do conceito que se tem de poeta e artista:

La poesia es el desborde, exteriorización o proyección del pensamientoy sentimientos Del poeta, o dicho de outro modo (...) la poesia es definida imágenes pensamientos y sentimientos del poeta.(ABRAMS, H, TL. Ibidem, pág.39)

A imaginação tanto quanto a emoção fazem parte do mundo do poeta e, evidentemente, do mundo que Manuel Bandeira criou para si. A este respeito, cabe ressaltar que “el mundo del artista es el de la intuición imaginativa, o del sentido común, o el de la ciência natural”

.(ABRAMS, H, TL. Ibidem, pág.18). Assim como o poeta pernambucano se ocupa com o ritmo e a musicalidade do verso, exigindo para sua arte uma certa consciência, buscando “exprimir pela humana linguagem, reconduzida ao seu ritmo essencial, o sentido secreto das aparências do mundo” (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.144), também Mallarmé revelava a sua preocupação face à musicalidade do poema. Segundo ele, a poesia é obtida através de “uma centelha de aproximação de certos vocábulos”(Apud TELES, Gilberto Mendonça:? Pág.8). Também em certo estudo hindu “L´intonation revele, à son gré, inlassalablement, lê sens cachê: elle met em evidence l´habilité à répresenter l´état d´âme des beaux caracteres”(RAJASEKHARA Apud SEGHERS, Pierre: ibidem, pág. 56). Para Castagnino, a musicalidade é tão importante no poema que até o leitor “presiente convocadas vibraciones em cada repliegue de su aparato fonador, oye em le profundo la melodia del poema.Hay uma secreta música interior Del verso fijada em los signos...”(CASTAGNINO, Raul: ibidem, pág.17)

Esta preocupação em relação ao leitor é muitíssimo importante para a poesia moderna e, de um modo geral, para a arte que, até para certo estudioso já referido neste discurso, tem como elemento final “el publico, o auditório: los oyentes, espectadores o lectores a quienes la obra va dirigida o a cuya atención, de todos modos, llega a hacerse disponible”(ABRAHMS, H..TL: ibidem ,pág. 17). O poeta moderno e, obviamente, Bandeira, se preocupa sempre com o leitor, dirigindo-se a ele até mesmo no momento de dor:

Só a dor enobrece e é grande e é pura.

Aprende a amá-la que a amarás um dia.

Então ela será tua alegria,

E será, ela só, tua ventura....

(“Renúncia” in Cinza das horas)

O eu lírico se dirige ao leitor, imiscuindo-o em seu sofrimento, atraindo sua atenção para suas experiências. E sob este aspecto, dir-se-ia que o caráter pragmático é importante para a crítica que, segundo Sidney, “tiene uma finalidad: lograr cierto efecto em el auditório”(ABRAMAS: M.TL: ibidem, pág. 28). Ainda para este crítico, cumpre “concebir um poema como algo hecho con el propósito de obtener la repuesta que se desea em los lectores.( ABRAMAS: M.TL: ibidem, pág.30).

Desde tempos remotos, que um dos propósitos da arte e, conseqüentemente, da poesia é agradar e deleitar o leitor; Horácio tinha já este objetivo e Bandeira não hesita em conseguí-lo através da emoção, sentimento contido, é verdade, pela consciência do fazer poético, mas que repercutia sobretudo como um efeito catártico para o próprio poeta:

Deus me conserva as minhas criancices! Talvez neste gosto, (...) o que há seja o desejo de me conhecer melhor, sair fora de mim para me olhar como puro objeto.”(BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág. 78).

Posicionamentos deste tipo corroboram para que se visualize em Bandeira o seu auto senso crítico. Esta característica que se vê assinalada tanto em referência às suas deficiências como poeta:

Em O Ritmo dissoluto muitas são as poesias sem ritmo de espécie alguma; mais do que ritmo dissoluto portanto... Mas a maioria delas oscila entre a notação sucessiva de notações desagregadas uma das outras e a repetição de certos temas já cansados, em que a nota da melancolia se entrelaça com a da voluptuosidade, mas “sem poder de convicção (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág. 66).

quanto em referência às críticas que faz a si mesmo: “os reacionários são uns velhinhos amáveis que não fazem mal a ninguém: querem é sossego. Como eu...” (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág. 101). A auto-crítica se torna mais acirrada quando, num contexto metalingüístico, Bandeira se volta para um fazer poético no qual se identifica, muitas vezes, a tékne de Horácio. Castagnino também se preocupou com a metalinguagem, tanto assim que, segundo ele:

Poetizar sobre la poesia, ascender a la metapoesia, asediar poeticamente lo inefable de su esencia es intentar outra via para aproximarse a lo inefable de su mistério atísbar la cumbre de su prestígio desde otro parajódico enigma.(CASTAGNINO, Raul, H: ibidem, pág.24)

A função de ensinar, referenciada, inclusive, por Sidney (CASTAGNINO, Raul, H: ibidem, pág.28), está implícita na metapoesia. Já para Bandeira, a linguagem crítica nada mais é senão “fusão de informações clássicas e populares”(TELES, Gilberto Mendonça:? Pág.40), constituindo-senum manifesto poético comum ao período modernista. Quando o eu lírico clama:

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo

e manifestações de apreço ao sr, diretor”

“Poética”

o que está pretendendo é soltar-se do verso tradicional e trabalhar o verso com mais liberdade. E este desejo adquire seu clímax quando o eu lírico declara:

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação,

Em outros momentos do fazer poético, o eu lírico declara o quanto um poema deve achegar-se aos sofrimentos do leitor:

O poema deve ser como a nódoa do brim:

Fazer o leitor satisfeito de se dar o desespero

Sei que poesia é também orvalho.

(“Nova Poética”)

Estes aspectos se tornam importantes quando vêm ao encontro de posicionamentos como, por exemplo, este de Edgar Allan Poe: “a melancolia é o mais legítimo de todos os tons poéticos”(POE, Edgar Allan: ?, pág.?). E o mesmo parece dizer Abrahms:

Los objetos significados por um poema tienden a ser considerados como nada más que un equivalente proyectado – símbolo extenso y articulado –del estado de la mente del poeta.(ABRAMS, M. Tl., ibidem, pág. 42)

Analisando-se o poema “Nova Poética”, identifica-se nele a tentativa de o poeta buscar em sua arte uma aproximação com os seus sofrimentos, estabelecendo-se um paralelo entre obra e autor. Entretanto, à diferença de Saint-Beuve, Proust discorda desta relação entre autor e obra. Segundo determinado estudioso:“Proust avait déjà refuté toute explication de l´oeuvre par la vie de l´auteur. Lê moi social et lê moi créateur, disait-il contre Saint-Beuve, n´ont rien à voir l´um avecx l´autre”(APUD COMPAGNON, Antoine: ? pág. 463). Este ponto de vista, de modo algum concorda com o desempenho de Manuel Bandeira. Ele mesmo declarara que a emoção de “Infância” era a mesma sentida em certos raros momentos de sua vida adulta (BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág. 9) e, de fato, é correto admitir no autor pernambucano o critério de valor poético que admite

a noção de sinceridade, desde que compreendamos que ela se relaciona antes com o estilo do que com a veracidade autobiográfica do escritor. A sinceridade em arte é uma forma de rigor e autenticidade....O poeta coloca-se a serviço da poesia, não do indivíduo que existe nele. O que houver de novo em sua contribuição, virá de seu amadurecimento mental, não dos acidentes de sua vida privada ou pública.(SUHAMY, H. ibidem, pág. 22)

Este amadurecimento mental referido na abordagem acima adequa-se ao aprendizado do poeta pernambucano que, embora fazendo poesia através da emoção causada pelos acontecimentos, não se desprende da elaboração consciente do verso, evitando sempre o transbordamento do eu. A filosofia hindu defende para a poesia este mesmo exercício duplo:

L´exercice consiste à pratiquer sans interruption. C´est lui qui, accédant à tout, confère partout une habilite insurpassé. Lê rassemblement mental est um éffort intérieur; l´exercice um éffort extérieur. Lês deux reunis fait rayonner lê Talent. Lê talent est à lui Seul la cause determinante em poésie... Il se developpe, en partant de l´inspiration et de l´experience (RAJASEKHARA: ibidem, pág. 50)

Este exercício que caracteriza a poética de Manuel Bandeira tem, como pano de fundo, o exercício constante que leva a um aprendizado sempre maior. Embora em determinado momento se admita que o objetivo foi atingido em sua completude:

O meu dia foi bom, pode a noite descer.

(A noite com os seus sortilégios.)

Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,

A mesa posta

Com cada coisa em seu lugar.

(“Consoada”)

conclui-se que seu aprendizado permanece em desenvolvimento, confiando-se talvez na teoria segundo a qual “el poeta imita no “lo que es, há sido o será sino solo lo que poderia y debiera ser”(ABRAHMS, H.Tl. ibidem, pág.29).

Em outras palavras, concorda-se com Manuel Bandeira:

“da vida inteira que poderia ter sido e que não foi”

3. Considerações finais

O itinerário de Manuel Bandeira tem muito a ver com sua vida; ao longo de suas produções, observa-se o desenvolvimento, muito embora em Cinza das horas, publicado em 1917, já o poeta tenha observado: “a minha experiência pessoal, como se fossem (esses versos) simples queixumes de um doente desenganado”(BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág. 49). E este livro, refletindo grande influência camoniana, foi “elogiosamente saudado por João Ribeiro”(TELES, Gilberto Mendonça:? pág. 4). Em seguida, influenciado pelo movimento modernista, surge o Carnaval. Nele, consoante o título, as fantasias e as permissividades da festa popular, estão inseridas. Como o próprio autor admite, há alguns sonetos que guardam resquícios parnasianos. Na epígrafe, registra-se a intencionalidade de uma alegria a mais: “-Tu és a minha esperança de felicidade e cada dia que passa eu te quero mais, com perdida volúpia, com desesperação e angústia”.

Em seguida, Manuel Bandeira publicou Ritmo dissoluto que, em suas memórias, ele caracteriza como “livro de transição entre dois momentos de sua poesia”(BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.67). Depois, surge Libertinagem, no qual o “Vou-me embora pra pasárgada” transporta o eu lírico a uma realidade diferente daquela na qual se tem caracterizado; revela-se, agora, um clima de sonho e deleite paradisíaco. Já Estrela da manhã abre-se para uma etapa de maior equilíbrio na poética; é o momento em que o poeta se exercita através de formas que intermedeiam o velho e o novo, ajustando os dois momentos através de um lirismo bem trabalhado. A partir daí, surgem livros que denotam um amadurecimento maior e até uma autocrítica evidente: “Aos 52 anos eu ignorava a admirável forma lírica da canção paralelística, a não menos admirável combinação estrófica (ab ab ed e ef gg)... do soneto petrarquiano.”

( BANDEIRA, Manuel: ibidem, pág.108).

Belo, belo, além de demonstrar esta sabedoria, remete à idéia aristotélica de beleza, na qual “Na linguagem corrente, a poesia evoca o sonho, a imprecisão, a irrealidade, a beleza incomum” (SUHAMY, H, ibidem, pág. 19) e Mafuá do malungo, um livro de poemas circunstanciais, possui alusões a uma mulher que nada mais significa senão a metáfora da vida:

Belo, belo, belo, belo

Tenho tudo quanto quero

(“Bela”)

Por esta época, o poeta publicou Lira dos cinqüenta anos, que reunia poemas já publicados e criações novas e que só seria publicado depois de seu ingresso na Academia. O mesmo poeta escreveu ainda poemas em prosa como o “Poema tirado de uma notícia de jornal” e, nele

Todos os ingredientes de uma narrativa, de um conto, (...) uma história (um caso)que se conta; o encadeamento de seqüências narrativas; o tempo da enunciação e do enunciado; uma personagem (logo) “o próprio texto oferece outros componentes mais da ordem da poesia que da prosa, a começar pela possibilidade de conotação dos nomes próprios.” (TELES, Gilberto Mendonça: ? pág.41).

A produção poética de Manuel Bandeira se constitui, pois, de algo no qual “la pintura es poesia muda y la poesia pintura que habla” ou, em outras palavras, esta produção nada mais é senão uma voz incessante no tempo, precisando ser ouvida por todos aqueles q eu se entregam, de fato, ao lirismo.

BIBLIOGRAFIA

ABRAMS, T.L.- El espejo y la lâmpada. Buenos Aires, Editorial Nova, 1953/1962.

ANDRADE, Carlos Drummond de- Lição do amigo.

ANDRADE, Mário- “Prefácio interesantíssimo” in Literatura comentada. 2ª ed. São Paulo: Abril

Cultural: 1988.

BANDEIRA, Manuel- Itinerário de pasárgada. Rio de Janeiro: São José, 1954.

CASTHAGNINO, Raúl H. – “Prestigio de lo poético”in Fenomelogia de lo poético. Buenos Aires, Plus Ultra, 1980.

COMPAGNON, Antoine- “Pour um tableau de la critique littéraire”

MESHONIC, Henry- “Lês états de la poétique aujourd´hui en France” in Les états de la

poétique Paris: Puf, 1985

POE, Edgar Allan- “A Filosofia da composição” in Poemas e ensaios

RAJAJEKHARA, - apud SEGHERS, Pierre- L´art poétique. Paris: Seghers, 1956.

SUHAMY, H.- “De Aristóteles aos manifestos literários” in A Poética. Rio: Zahar, 1986.

TELES, Gilberto Mendonça- Retórica do silêncio 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

---------- “A Experimentação poética de Bandeira em Libertinagem e Estrela da manhã”.

Regina Souza Vieira
Enviado por Regina Souza Vieira em 04/03/2007
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