Ensinando por incentivo

Prólogo

Já faz algum tempo que Eu não escrevo algo gramatical. Reconheço que não é o meu lado mais forte, mas, ontem (15/01/2013) fui incentivado por uma mensagem de uma leitora que escreveu o que abaixo transcrevo tal qual recebi:

“Boa noite Wilson! Adoro seus textos e principalmente quando escreve sobre dúvidas que todos temos em Português. Aprecio muito o seu modo de comentar algumas letras de músicas, textos outros cujos erros são mascarados pelos ritmos batidos e próprios para um gingado bem rebolado. Gostaria que comentasse a letra da música: “Demorei muito pra te encontrar” ou “Só você” cantada por Fábio Júnior e outros. Claro que se quiser comentar outras músicas do mesmo artista ou de outros ficarei imensamente grata. Vou aguardar ansiosa a publicação de seu trabalho. Beijos e muito obrigada pelas atenções que me dispensar. Ass. Eduarda Santos.” – (SIC).

MINHA RESPOSTA À SIMPÁTICA LEITORA

Também aprecio o canto e como canta o Fábio Júnior e outros artistas românticos. Em textos outros faço análise de letras musicais de renomados poetas e musicistas com o propósito de ensinar o estilo formal de nosso idioma pátrio. Deixo claro que não faço críticas, mas acredito que muito se poderia melhorar se houvesse mais atenção nos detalhes das composições e partituras de algumas letras musicais consideradas pelos ouvintes como obras intelectuais.

“Você jamais terá de explicar alguma coisa que não disse” (Citação). Isso mesmo: Uma pessoa madura reflete antes de falar ou escrever; um tolo fala ou escreve, e então, depois de certa pressão, do subconsciente ou de outrem reflete sobre aquilo que disse ou escreveu.

Certamente dar mão à palmatória, depois de constatar ter falado ou escrito de forma leviana, mais do que devia, será a melhor regra do bom senso.

TRECHO DA LETRA: “SÓ VOCÊ” OU “DEMOREI MUITO PRA TE ENCONTRAR”

“Demorei muito pra te encontrar

Agora eu quero só você

Teu jeito todo especial de ser

Eu fico louco com você

Te abraço e sinto coisas que eu não sei dizer

Só sinto com você

Meu pensamento voa de encontro ao teu

Será que é sonho meu

Tava cansado de me preocupar

Quantas vezes eu dancei

E tantas vezes que eu só fiquei

Chorei chorei (...).

Antes de comentar o trecho da letra “Demorei muito pra te encontrar” quero transcrever uma piada em forma de ensinamento. Minha explicação será mais bem compreendida com a historieta em forma de uma breve narrativa:

Um grupo de estudantes dirigiu-se a uma biblioteca pública com o fim de realizar uma pesquisa. Na ocasião a líder do grupo e estagiária considerada a mais desembaraçada disse, dirigindo-se à bibliotecária:

“Nós viemos aqui para realizarmos uma pesquisa”. Imediatamente a responsável pela biblioteca perguntou: “Quando?”. Na fala da líder do grupo de estudantes houve equivoco causador de interpretação dúbia: A concordância e o tempo verbal errado motivaram a pergunta espantosa da bibliotecária.

Claro que a bibliotecária teria que perguntar desse modo e sem o leve sorriso que caracteriza o escárnio. A líder do grupo NÃO SE COMUNICOU! Referia-se a uma situação no pretérito, quando se encontrava no presente. O grupo de estudantes não visitara a biblioteca noutra ocasião ou talvez houvesse visitado e a bibliotecária não se recordara. Dai a pergunta de repente: "Quando?".

COMENTANDO A LETRA DA MÚSICA “SÓ VOCÊ” OU “DEMOREI MUITO PRA TE ENCONTRAR”

Depois da historieta contada a propósito de ensinamento, passo a comentar o trecho da letra de Fábio Correa Ayrosa Galvão, mais conhecido pelo nome artístico Fábio Júnior. Pelo título da música percebemos que o autor quis usar o pronome obliquo átono na segunda pessoa (Te).

Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, exerce a função de complemento verbal, ou seja, objeto direto ou objeto indireto. Sendo um pronome ele carrega consigo as características próprias a essa classe gramatical, ou seja, é uma palavra que pode:

Substituir um nome. Qualificar um nome. Determinar a pessoa do discurso. Em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação na forma do pronome indica tão somente a função diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento verbal da oração.

Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com a acentuação tônica que possuem. Dessa forma eles podem ser:

Pronome oblíquo átono: São chamados átonos os pronomes oblíquos cuja acentuação tônica é fraca. Os pronomes oblíquos apresentam flexão de número, gênero e pessoa, sendo essa última a principal flexão porque marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado:

- 1ª pessoa do singular (eu): me

- 2ª pessoa do singular (tu): te

- 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe

- 1ª pessoa do plural (nós): nos

- 2ª pessoa do plural (vós): vos

- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

O lhe é o único pronome oblíquo átono que já se apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o pronome o ou a e preposição a ou para. Por acompanhar diretamente uma preposição, o pronome lhe exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Os demais pronomes átonos em geral funcionam como objeto direto.

Não obstante o Fábio Júnior usar o pronome oblíquo átono (Te) já no título de sua canção observamos que na segunda linha ele usa a terceira pessoa (Você) “Agora eu quero só você”. Melhor seria se cantasse nas duas e demais linhas: “Demorei muito pra lhe encontrar” e “Agora eu quero só você”.

Essa mistura de pronomes (segunda e terceira pessoas) não é percebida pelos ouvintes embalados pelo ritmo, mas, a beleza do poema seria gramaticalmente correta pela imposição de melhor adequação formal.

EU FARIA AS SEGUINTES ALTERAÇÕES NA LETRA DO FÁBIO JÚNIOR

Mudaria o título para: “Demorei muito para lhe encontrar” ou deixaria "Só Você". O restante do poema seria da forma que se segue:

“Demorei muito pra lhe encontrar

Agora eu quero só você

Seu jeito todo especial de ser

Eu fico louco com você

Abraço-lhe e sinto coisas que eu não sei dizer

Só sinto com você

Meu pensamento voa ao encontro do seu

Será que é sonho meu

Estava cansado de me preocupar

Quantas vezes eu dancei

E tantas vezes que eu só fiquei

Chorei chorei (...).

A mistura dos pronomes pessoais ou escrever “Te abraço” – Não se inicia frase com pronome oblíquo – são erros crassos! Tenho certeza, e nem precisa ser absoluta – pois seria uma redundância, de que todos nós já ouvimos, escrevemos ou dissemos alguma frase começando com um pronome oblíquo, coisas do tipo: “ME FAÇA UM FAVOR!”; “ME DÊ UM ABRAÇO!”; ME AJUDE AQUI!”, “TE LIGO!”, 'TE AMO"!", "TE ADORO!", “TE ABRAÇO!” etc. Todos esses exemplos devem ser evitados, mormente na escrita. São lapsos graves!

Na análise da letra da música em comento mais grave ainda é a parte que diz: “Meu pensamento voa de encontro ao teu”. Ora, sabemos que “Ir de encontro a” significa “contra”, “em oposição a”, “para chocar-se com”.

Já a expressão “Ao encontro de” tem significado de “estar de acordo com”, “em direção a”, “favorável a”, “para junto de”. Exemplos: "Com essas medidas saneadoras, o governo da tia Dilma vai ao encontro da sociedade"; "O objetivo do Diretório Campinense é proporcionar ao eleitor uma alternativa que vá ao encontro dos anseios do povo"; "A sentença do juiz foi ao encontro dos anseios do autor da Ação de Execução de Honorário Advocatício", “Romário cobrou escanteio da esquerda, e a bola foi ao encontro de Ronaldo, que, embaixo da barra, estufou a rede fazendo um Gol de Placa”.

Devemos e queremos acreditar que o excelente e nobilíssimo musicista, ator (Participou de algumas novelas globais e tembém em alguns filmes nacionais) e cantor Fábio Júnior queria ir em direção de seu amor, ao encontro de sua amada e ficar junto de sua musa. Portanto, é fato: Descuidou-se da gramática quem escreveu a letra da música em comento.

CONCLUSÃO

Comparo o Professor a um abnegado pelo ardor da esperança. Um ser em chamas aquecidas e renovadas pela confiança no progresso de si mesmo e dos alunos. Um profissional que acredita na conquista do porvir. Ufana-me saber que meus escritos se tratam de um precioso instrumento de lavor, por conter diretrizes certas e seguras para a solução das dúvidas mais frequentes suscitadas no dia a dia de todos nós leitores, professores e eternos aprendizes (Eu mais do que ninguém).

Estou ciente de que este trabalho NÃO ESGOTA o assunto, não há esta pretensão! Tampouco constitui um “manual” perfeito e acabado, pois procura só dar uma visão rápida da temática, aguçando a curiosidade dos interessados no aperfeiçoamento do idioma pátrio. Espero que minha análise seja útil aos curiosos, estudantes e autodidatas.

Todavia, Não é demais lembrar: Na linguagem coloquial podemos cometer algumas barbeiragens linguísticas, dar risadas e provocar risos, mas numa prova discursiva ficará para trás aquele (a) candidato (a) que menos pontuar.