Da Poesia

É fácil achar um texto em forma de poema e logo chamá-lo de poesia. Porém há distinção entre os dois termos. O primeiro é forma e o outro é conteúdo. Logo deve surgir uma dúvida a todos, se poema não é poesia, o que será?

Historicamente é difícil conceber essa distinção entre poema e poesia, pois a forma preferida de todos os poetas é, sem dúvida, o poema. Contudo é razoável analisarmos o possível surgimento da poesia. Quando primeiro se concebeu o uso de palavras, elas eram o suficiente para descrever tudo o que o homem precisava. O avanço da sociedade e do próprio homem como ser racional fez surgir diversos conceitos que a primitiva língua não podia mais conceituar. Conceitos como casa, amor, gravidade, espírito. A forma de explicar essas coisas usando aquela primitiva linguagem provavelmente foi a poesia ou algum conceito mais ancestral perdido da sabedoria humana. A poesia, o sentido extralingüístico da linguagem, conseguiu tornar possível explicar esses novos conceitos.

O avanço da língua também significou o avanço da poesia. A humanidade desenvolvia-se como sociedade e esse desenvolvimento criava coisas impossíveis de se explicar sem a poesia e isso se perpetua até a nossa época. Talvez nós nunca tenhamos conseguido explicar qualquer conceito que surgira, mas tentamos com a poesia. Até mesmo o próprio conceito de poesia é dificílimo de ser compreendido. Qualquer conceito de poesia é vago e incapaz de envolver todo o sentido da palavra, assim como casa, amor, saudade e outros sentimentos extremamente subjetivos qual sentimos e não temos palavras para explicá-los e tão somente os nomeamos.

Apesar disso, o subjetivo humano consegue diferenciar poesia de não-poesia. E essa diferenciação é relativa em cada um, o que causa atritos entre os escritores e poetas. Singelamente, pode-se concluir que poesia é um subjetivismo do poeta para conseguir explicar conceitos inexplicáveis, é usar a linguagem para abstrair-se das suas limitações, usar-se de figuras belas ou horrendas, da licença poética, das figuras de linguagem, usar a seu bel prazer o que o rodeia e até o que não para incutir no leitor seu efeito desejado tendo sempre ao fundo aqueles conceitos inexplicáveis, casa, amor, saudade, medo, coragem, traição, o sereno, o belo, a raiva... Ao fundo, ao fundo mesmo, a poesia é sobre os homens.