“Se a casa fosse mãe, seria mãe das janelas”
                                                                                                              Sylvia Orthof

 

 

Um vulto passa pela azul janela,
Fantasma de grilhões de necrotérios,

Invadindo o jardim da tarde bela...
 

 

Alguns traços carnais, jamais etéreos,

Eu conheço... será... será você
Invocando seus mágicos mistérios?


O perfume de rosas de buquê,

O esguio corpo ao Sol, à Lua, ao dia,

A nudez pecadora, um não sei quê!


Eu sei que no jardim da fantasia

Revejo que você está chegando
Em primavera plena d’alegria...


Será você, será ressuscitando?
As glórias do passado e da paixão,

Os podres do pretérito execrando?
 

 

Se voltasse, seria rente ao chão,

Prostrada piamente na capela
Entoando o mais santo cantochão...

 

 

Será você na mística janela
Retornando em vestido branco e lindo?
Será você? Será você singela
Ou serei eu que agora estou partindo?!


NOTAS:

1. Terza rima em dec. heroicos

2. Escrito em dezembro de 2022

3. Publicado originalmente na Antologia Poetas Sombrios (2024), organizada por Jandui Felipe