Será que não sou PATRIÓTICO??????????

Sempre fui patriota ...

Nos meus áureos tempos do ‘antigo’ curso primário, todos os dias eram reunidas no pátio do nosso Grupo Escolar todas as classes e perfilados e em ‘irretocável’ fila indiana, enquanto havia o hasteamento da bandeira brasileira, do nosso estado e do nosso município, entoávamos a alto e bom som o Hino Nacional Brasileiro!

E em minha passagem pelo ‘antigo’ curso ginasial, tínhamos aulas de Educação, Moral e Cívica e desfilávamos, em perfeita formação devidamente vistoriados pelos nossos vigilantes professores, em todas as datas cívicas, tais como: Descobrimento do Brasil, Independência do Brasil, Proclamação da República, ...

Em minha passagem pelo ‘antigo’ Cientifico, também ‘nos dávamos ao luxo’ de participar de algumas ‘paradas cívicas’ e comemorações com hasteamento de bandeiras, entoar de hinos, etc.

E, em minha passagem pela minha licenciatura em Matemática, preparado que fui para exercer o magistério, não deixei de ter minhas noções de cidadania nas aulas mais específicas para a docência!

E também por esta época, tive o ‘privilégio’ de ser ‘convocado’ para exercer funções patrióticas como mesário em eleições. Na primeira convocação, exerci o cargo de segundo secretário; em uma segunda convocação, fui ‘guindado’ ao posto de primeiro secretário e em uma terceira ‘chamada’ assumi o posto de primeiro mesário.

Tenho de confessar ... No íntimo não fui tão patriota assim! Até que não desdenhava tanto assim minhas ‘incursões’ pelos campos da cidadania durante minha época do primário. No entanto, já na época ginasial, participava dos desfiles e comemorações cívicas sem muito entusiasmo e de forma um tanto quanto ‘forçada’. Isso se estendeu na minha evolução educacional tanto no meu Científico quanto em minha licenciatura!

E ‘eclodiu’ em minha ‘convocação’ para integrar o quadro de colaboradores ‘voluntários’ que participam patrioticamente da festa democrática da nação. A contragosto comparecia ao ‘trabalho’ e questionava como haviam ‘descoberto’ meu nome para efetuar esta ‘convocação’. Mil conjecturas povoavam minha mente para tentar explicar esta ‘premiação’. A mais justificável era a de que por estar cursando superior e em minha zona e sessão eleitoral não existir um nível razoável de formação cultural dos eleitores, optaram pela minha convocação. Tenho a meu favor o fato de que, apesar da minha insatisfação, agir com a devida presteza e dar de mim o melhor para que tudo transcorresse a contento seguindo os preceitos que nos foram transmitidos nas orientações preliminares que tivemos. No entanto, não conseguia conceber como, de forma mais acentuada o primeiro mesário e o Presidente tendo total responsabilidade pela segurança e destinação da urna, não ter nenhum respaldo por parte do TRE que facilitasse esta incumbência outorgada.

Foi por estas e outras que ao ler na secção CARTA ABERTA de um jornal de grande circulação na capital de meu estado a publicação do desabafo de um mesário como eu, não me furtei em corroborar com sua opinião e também enviar o meu DESABAFO DE UM MESÁRIO DESCONTENTE, que também foi publicada nesta mesma secção deste mesmo jornal. E foi por esta época que ouvi ‘rumores’ que havia possibilidade de ser ‘excluído’ da indesejável convocação devido ao fato de já haver ‘trabalhado’ por três eleições consecutivas. Não me fiz de rogado e compareci ao Cartório Eleitoral de minha competência onde expus minha condição solicitando minha liberação desta ‘obrigação’. Recordo-me perfeitamente que a funcionária que me atendeu colocou uma série de restrições em relação à minha liberação, porém, não deu ênfase ao fato de uma possível inveracidade deste meu ‘direito adquirido’.

Ainda por este época, ‘mudei de endereço’ indo residir em outro município e, conseqüentemente, tendo de alterar o meu domicilio eleitoral. Até hoje não sei se devido ao meu pedido de ‘isenção’ ou se devido à minha mudança de domicilio eleitoral, na eleição seguinte não fui convocado mais como mesário!

Houve alguns casos interessantes que ouvi dizer e que presenciei durante a minha ‘gestão mesarística eleitoral’ ... casos de embriaguês, casos de cabos eleitorais ‘barrados’ na porta da sala de votação, elemento que colocou seu título na urna ao invés da devida cédula de votação. Porém, o caso mais escabroso e terrível ocorreu em sala vizinha àquela em que eu estava ‘alocado’. Um elemento, no momento de ‘executar o seu voto’ na cabine indevassável, pura e simplesmente derramou um tinteiro cheio da antiga TINTA NANQUIN na abertura da urna pela qual eram depositadas as cédulas de votação. Dá para perceber o que ocorreu quando houve a abertura da aludida urna para a devida contagem dos votos. Vários votos foram impugnados por não haver condições de se detectar qual seria o teor do voto concedido!

Por esse e por outros motivos, sempre tive e mantenho firme a convicção de que o voto aqui no nosso pais não deveria ser obrigatório! Creio que ‘numa festa’, como se apregoa que a eleição seja (uma festa democrática...), só vai quem realmente deseja participar e com vontade de ‘divertir-se bem’ ... Creio eu, que em não sendo obrigatório o voto, só haveria ganhos no processo eleitoral como um todo. Em minha opinião, o trabalho de apuração dos votos tornar-se-ia menor, haja vista a diminuição do número de eleitores; haveria uma seleção natural de candidatos, haja vista, além de persuadirem o cidadão a sair de sua casa para votar, teria de persuadi-lo a votar nele! E, é claro, não poderia ser somente flores para os eleitores... este dia da ‘festa democrática’ deveria ser em um dia normal de trabalho e aqueles que não quisessem participar ‘da festa’ teriam de trabalhar normalmente!

Nestes dias tive oportunidade de assistir a uma palestra sobre Direito Eleitoral e o palestrante, renomado advogado que atua grandemente neste segmento eleitoral, principalmente defendendo os interesses dos candidatos, colocou-se totalmente favorável à obrigatoriedade da eleição!

Não ‘me fiz de rogado’ e formulei-lhe uma pergunta: “O que o Doutor aponta como desvantagens se não houver obrigatoriedade de voto aqui no nosso país?”.

O doutor não mostrou-se muito satisfeito com a minha pergunta e somente ‘apelou’ para o sentido patriótico dos cidadãos. Disse que demonstra um alto grau de cidadania aqueles que participam ‘com alegria’ do processo eleitoral e que devem fazer este ato com consciência e estabelecer bem seus critérios para escolher seus candidatos. Enfatizou que a isso chama PATRIOTISMO!

Agradeci-lhe pela resposta, no entanto não fiquei convencido e continuo firme e forte com minha posição da não obrigatoriedade de voto em nosso pais!

Apesar de acreditar que o fato de ‘deixar rolar’ e aceitar governantes que foram escolhidos por outros à revelia de sua vontade não define em nada a sua cidadania, tenho convicção de que este PATRIOTISMO é definido pelo procedimento diário e demonstrado nas pequenas atitudes que tomamos e que são efetuadas de maneiras tão espontâneas ...

HICS
Enviado por HICS em 08/05/2010
Reeditado em 12/02/2013
Código do texto: T2244996
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