Lei Maria da Penha: Como provar as cicatrizes psicológicas???

Trabalho no âmbito jurídico por vocação. Direito está no meu sangue. Flui dentro em mim o sentimento de justiça em qualquer instância, em qualquer circunstância.

Estes dias, estava mais uma vez pensando como ficam as marcas psicológicas na vida de uma mulher vitimada de ameaças, difamações e pancadarias. Tudo isto tem uma solução. Entretanto, no que concerne à violência psicológica, constato o quão difícil é desnudar isto para a sociedade, para as autoridades.

Hoje mesmo, eu estava lendo um artigo sobre a negativa de dano moral por parte de uma jovem que pedia amor da mãe, pois achava que esta nunca a amou como deveria. Buscou solução na Justiça intentando buscar um quinhão para ser amada.

Estarrecida, fiquei a pensar: - Amar de forma coercitiva??? Como será?

Fiquei boqueaberta com aquela pretensão. Explico: Não com a pretensão em si - ora, a moça queria ser amada - mas, como um sentimento intangível como o amor poderia ser delineado, cobrado em alguns reais??? Pensei: - Meu Deus, quanto vale o amor de uma mãe por uma filha??? Agora querem que o Poder Judiciário interfira nesse sentimento também? Ah, e o Judiciário ainda tem que auferir um montante para indenizar a parte que sente-se lesada.

Sinceramente, cá entre meus botões, não consigo imaginar um magistrado sentenciando alguém a amar outro alguém!!! Aí seria pedir demais.

Por outro lado, como ficam as marcas psicológicas numa mulher que sofreu calada 10, 15, 17, 18, 20 anos, e, um dia, não mais aguentou e quebrou os laços delicados dessa relação nada simples, mas complexa e desgastante?

As marcas ficaram tatuadas na alma daquela criatura. As marcas ficaram encravadas no âmago do ser daquela mulher, minha gente!Mulher ofendida anos a fio. Marcas estas que não saem jamais.

Venha a tecnologia de ponta que vier, mas me apresentem uma maquininha que tire, apague manchas na alma do ser humano.

Diante disto, volto a questionar:

- Meu Deus, como fica a vida daquela criatura? E as marcas que não saem? E o sofrer dessa 'coisa' esquisita que ela se tornou?

Caros leitores, é sim fato que é muito difícil esta mulher se reestabelecer, se reestruturar, se reanimar, nortear-se. O pior de tudo isto, é que poucas pessoas entendem o que está se passando por dentro dela. Nem ela sabe expressar!

Ela dissimula bem, ergue a cabeça, bate as 'tamancas', mas no fundo, no íntimo, as tatuagens forçadas, cravadas em sua mente não saem e nem sairão jamais.

A Lei Maria da Penha tem sido uma grande ferramenta, uma excelente aliada à mulheres, não restam dúvidas; ademais é uma lei muito presente e altamente divulgada nos meios de comunicação, mas mesmo assim, com minha experiência profissional, posso garantir que há um grande quantitativo de mulheres abusadas psicologicamente por anos a fio e ainda não deram um 'grito de alerta'. Estão acuadas, trancafiadas dentro de si mesmas e envergonhadas pela situação vivenciada , porém sem coragem de tomar uma atitude e findar seu tormento.

Oxalá que elas tivessem a oportunidade de ler este artigo tão simplório, mas tão instrutor.

Fica, portanto, minha dica: Não sofram mais e saibam que existe sim uma saída para seus dramas. Busque ajuda. Não se envergonhe!