A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS ORAIS E ESCRITOS PARA O ADVOGADO

'Se eu perdesse a voz, estaria morto', diz Lula a jornal – Portal Terra 30/03/12.

Observando esta fala do Ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva, fica demonstrada a importância da fala dentro da sua profissão. Ele chegou a afirmar que teve mais medo de perder a fala do que de morrer. Por incrível que possa parecer, no caso dele, a fala é sua vida, a forma de expressar o seu trabalho, a forma de angariar seguidores e foi a forma que o levou a tornar-se conhecido mundialmente. Existem casos como o do também Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que, por ser um intelectual, domina a fala, mas tem na escrita seu trunfo por intermédio dos livros editados que possuí. Sem comparar estes personagens, mas as formas de textos utilizados pelos dois podem concluir que ‘’Lula’’ é conhecido pelas ‘’massas’’, por falar uma linguagem popular, com uma oratória envolvente e convicta, o que o levou ao topo do universo político mundial, enquanto ‘’FHC’, é reconhecidamente um político de intelecto refinado e conhecido da ‘’elite’’ e escritor desde 1969, com diversos livros publicados. Com esta pequena história, podemos enxergar de uma forma mais simples as diferenças entre um texto oral e um texto escrito, pois no nosso dia a dia, os textos orais são corriqueiramente usados em todos os tipos de comunicação, porém como futuros profissionais do Direito, nossa responsabilidade muda radicalmente, pois por incrível que possa parecer, a Língua Portuguesa escrita, passa imediatamente a ser uma prioridade, passa a ser uma necessidade de cada um de nós, pois dentro do ambiente Jurídico, são inaceitáveis linguagens grotescas, é inaceitável tanto oral quanto escrita, uma linguagem informal, que leve o profissional ao ridículo ou ao descrédito perante os seus pares, diante do Ministério Público e futuros clientes.

É preciso e é fundamental que evidenciemos que o entendimento de uma linguagem se materializa por meio de texto, tanto orais quanto escritos, entretanto cada tipo tem suas características próprias, pois não tem a mesma gramática nem os mesmo recursos expressivos. Na linguagem oral, muitas vezes usamos textos vagos, o que é próprio da linguagem oral, pois a interação entre os interlocutores da conversa produzem o entendimento da linguagem, o que é impossível se fosse o mesmo texto em uma linguagem escrita, já que ambos partilham o conhecimento que possuem do assunto.

Em nosso dia a dia, convivemos mais com textos orais, alias todos os povos são assim, pois a escrita não pode reproduzir muitos fenômenos do texto oral, pois temos gestos, mímica, olhos e outros movimentos do corpo e na linguagem escrita, temos o tamanho das letras e seu tipo, cores, pontuações etc. Para ter uma ideia, se transcrevermos um texto oral de uma sala de aula, provavelmente não entenderemos muita coisa, pois é muito repetitivo, não tem uma composição lógica, pois ‘’vai para frente, volta, vai para o lado e depois o outro, depois volta etc.” e por esta razão, torna-se inapropriada para o texto escrito. De modo geral, ambas apresentam distinções, que bem interpretadas, nos fazem compreender suas diferenças.

A fala é uma forma de texto que completada por gestos, mímica e movimentos do corpo se completa e transmite ao ouvinte o seu sentido, enquanto a escrita é um modo de produção textual que se caracteriza pela sua constituição gráfica, e trata-se de uma linguagem complementar á fala. Existem muitos textos escritos próximos ao da fala, como por exemplo, bilhetes, cartas familiares etc., e textos falados que também se aproximam do texto escrito. Parece-nos que a verdadeira linguagem é a escrita, sendo a fala um subproduto, isto é um engano, pois por força escolar e a autoridade que emana da escrita, achamos que a escrita é a principal forma de linguagem. Há quem diga que devemos ‘’falar como escrevemos’’, outro engano, pois de tempos em tempos temos reformas ortográficas que apenas mudam a forma de grafar as palavras. Existem razões para a supervalorização da escrita em detrimento da oralidade, pois os que dominam a escrita se sobressaem perante seus pares, além do fato de que o texto oral é natural, basta uma criança conviver em sociedade que ela aprenderá a falar, enquanto o texto escrito vai depender de interpretação, pontuação, verbalização etc.

Aqueles que dominam textos escritos, geralmente são vistos como intelectuais como ‘‘mais inteligentes’’ e por esta razão, acaba havendo uma segregação, uma separação e com isto a discriminação, pois os que não dominam este tipo de linguagem acabam sem entender o significado e desta forma, são excluídos naturalmente. Se considerarmos que a língua padrão é um sistema de comunicação e uma parte reduzida de uma comunidade a detém, pois faz parte de um patrimônio cultural que não é acessível á todos, iremos concluir que a escrita é dominante, porém a oratória tais como discursos, sermões na igreja, etc. são exemplos de linguagem oral que servem para posicionar o orador frente aos ouvintes, ou para se destacar, ou para divulgar uma cultura de uma forma mais democrática, pela palavra. Línguas como o Francês e o Inglês, são exemplos disto, a primeira foi tida como a primeira na escala de valor internacional das línguas que foi posteriormente substituída pela segunda.

A associação de uma variedade linguística e a escrita é o resultado histórico indireto de oposições entre grupos sociais que eram e são usuários, não necessariamente os nativos das diferentes variedades. Apesar da declaração que todos os cidadãos são iguais perante a lei, na realidade são discriminados, pois a maioria não tem acesso aos nossos códigos em que a lei é redigida ou tem acesso reduzido á isto. Apesar das pessoas serem discriminadas pela maneira como falam isto ocorre no mundo todo, muitas vezes vemos formas e maneiras diferentes de falar em regiões diferentes, por força da cultura local, o que muitas vezes é confundido com a ‘’verdade da língua padrão’’. Refletindo, vemos que a escrita é mais conservadora e a fala muda sempre indo de encontro com épocas e acontecimentos, enquanto na escrita isto demora a ser incorporado. Talvez este seja o maior choque daqueles que se aventuram no mundo da escrita, pois a riqueza da linguagem falada fica reduzida á linguagem padrão, já que não existem escolas de dialetos regionais. O falante regional sempre procura identificar-se com a língua padrão, pois é histórico que aprendemos na escola que a língua falada é a língua errada e a padrão a certa. Por outro lado, quando conversamos mudamos de assunto sem nenhum tipo de rigidez, enquanto quando escrevemos, dependemos de frases mais longas que possam passar a devida compreensão do texto. Quando falamos usamos nossa linguagem corporal e com o texto temos que expressar tudo ‘’no papel’’. Como já foi dito, uma criança aprende a falar naturalmente vivendo dentro de um grupo familiar, enquanto a escrita depende de estudo, é preciso um duro trabalho prolongado de aprendizagem e de alguém que nos ensine.

Geraldo Cossalter e Luis Arthur Bertini Farina
Enviado por Geraldo Cossalter em 05/06/2012
Reeditado em 02/07/2012
Código do texto: T3707644
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