CANTIGAS DE CAMPONESA ( II )
101
Coração, vê se te aquieta
não bebas desse pecado,
cuidado, que ele é poeta...
não fiques apaixonado!
102
O meu tema preferido
é trovar minha saudade,
dessa forma faz sentido
minha “ausência” na cidade.
103
Que importa se é noite ou dia?
Olvida, serve e perdoa,
acende a luz da alegria,
descobre que a vida é boa!
104
O respeito migra a dor,
ele é o senhor da igualdade,
fundamentado no amor
tem o nome de...”verdade”.
105
Todo amor humanizado
difere do amor- prazer:
-No respeito praticado
dá luz ao nosso viver.
106
Estupro é o sol descobrir
o lençol deste Universo
e depois introduzir
a inspiração no meu verso!
107
Não quero viver em vão,
quero o avesso dessa malha,
tricotar com minha mão
o reverso da medalha.
108
A minha essência é o amor;
não conheço a solidão!...
Eu transformo espinho em flor
ao sabor de uma paixão!
109
Pedi a Deus, tanto, tanto
que a resposta Ele me lança:
A saudade enxuga o pranto
no grosso véu da esperança!
110
A chuva cai, com bravura,
sobre esta velha cidade...
meu olhar, com amargura,
derrama, em dor, a saudade.
111
A minha esperança eu ponho
no manto do entardecer;
abro as pupilas do sonho
para um novo amanhecer.
112
A vida é teia de aranha:
- Pode ser ponte ou clausura.
Trabalhe com "arte-manha"
e faça a própria moldura!
113
Recordo o meu pai, calado,
carpindo a roça de milhos
e mamãe, sempre do lado,
cuidando dos sete filhos.
114
A cotovia, contente,
abre a janela campestre,
pois sabe que de repente
chega o seu bem-te-vi-mestre.
115
Singrando os mares da vida,
rasgando a linha do espaço,
no coração a ferida
que a saudade fere a laço.
116
Quando a minha inspiração
se retira e vai embora,
eu procuro a solução
descobrindo onde ela mora.
117
No palco rude da vida
é preciso ser palhaço:
Ver chegada em despedida,
puxar a sorte no laço.
118
Na competição da vida,
ganha quem sabe parar.
Parando vence a corrida
que te leva a caminhar.
119
Do vale emergi ao topo,
da relva virei madeira,
do poço fui ao escopo
e em tudo fui verdadeira.
120
Eu tenho aqui na garganta
o meu grito aprisionado,
não sai porque não adianta
gritar ao velho passado.
121
Fugir de mim mesma, ousei,
não pensei nas consequências;
chegando lá não me achei,
eu não tinha referências.
122
Voltando para viver
perco minha identidade,
não poso sobreviver
amarrada na saudade.
123
Silêncio...um grito de paz,
timidez dentro de nós,
são lírios que ávida traz
perfumando a nossa voz.
124
Lágrimas são confissões,
do coração, extirpadas,
rendidas nas emoções,
pelos olhos libertadas.
125
As mais lindas melodias
nascem em tempos de dor,
enquanto , em vidas vadias,
cultivam o mau humor.
126
Meu Deus, quando estou de pé
vejo as sombras da cegueira,
se caio, já brota a fé;
na queda me sinto inteira.
127
Enquanto me redesenho,
faço o esboço do passado:
quero ver o que eu mantenho
pra deixar como legado.
128
O palhaço que eu pintava,
para o mundo era alegria,
por mim mesma ele chorava
mergulhado em agonia.
129
Da janela eu esperava,
tricotando uma ilusão,
eu ainda acreditava
num amor do coração.
130
Nas horas do meu vazio
apelo pra tua imagem:
meu avesso entra no cio,
dou à luz minha coragem.
131
Colibri beijou a rosa
que, feliz, ficou corada,
de emoção se fez cheirosa
e de amor desabrochada.
132
Na vida tem dois caminhos:
Um apresenta lições
na forma de alguns espinhos,
o segundo, as tentações.
133
Onde mora a disciplina
existe a felicidade;
ao estar sobre a colina
vista a roupa da humildade.
134
O amor, em si mesmo, arruma
um encontro na saudade,
sem dizer palavra alguma
se alimenta da vontade.
135
Não queira investir na sorte
deixando de trabalhar,
vai chegar a sua morte
sem conseguir caminhar.
136
No livro da minha vida
tem uma etapa queimada,
me acovardei na subida
e a folha ficou dobrada.
137
A “vaidade das vaidades”...
Vaidades são ilusões
que camuflam as verdades
nas amarras dos grilhões.
138
Vislumbrei ilhas estranhas
na solidão dos meus sonhos,
porém o tempo tem manhas
e colheu dias risonhos.
139
A cadeira da vovó
balançando a velha idade
- num suspiro de dar dó
geme a dor de uma saudade.
140
Quer resposta aos teus anseios?
Buscar fora não precisa!
Não a busque em devaneios,
é contigo essa pesquisa.
141
Fica pra depois do verso,
rastros de ilusão errante,
são as malhas do reverso;
dores que virão adiante.
142
Só depois que um sonho acaba
a cegueira vai embora;
na burrice a gente baba,
de vergonha a gente chora.
143
A fase do recomeço
começa com um final,
por isso nem me entristeço
quando sinto que estou mal.
144
A idade eu conto no dedo
e jamais marco a derrota ;
faço do tempo um brinquedo,
me diverte a cambalhota.
145
Tinha o rosto de inocência
aquela doce alegria,
hoje tem efervescência
nos versos da poesia.
146
O amor pede mutação
com sentido renovado,
muito além de uma paixão,
bem melhor que no passado.
147
A chuva que faz a dor
é a mesma que aduba a terra;
viva a vida com amor,
seja no vale ou na serra.
148
A folha seca do galho
promove a sabedoria;
tece a colcha de retalho
no vagar do dia a dia.
149
Meu Deus! Quando estou de pé
vejo sombras de cegueira,
se caio já brota a fé...
na queda me sinto inteira.
150
O poeta é um fingidor;
põe, na figura, a emoção
e transforma espinho em flor
no calor da inspiração.
151
É uma crença tola e vã
crer que vivem separados:
- o passado, hoje e amanhã,
os três vivem abraçados.
152
Eu sei do choro o segredo,
peço a Deus a compaixão:
me arranque logo este medo
que sofro na solidão.
153
O tempo passando em asas,
onde está o sorriso meu?
meu coração, feito em brasas,
de saudade entristeceu.
154
O tempo chega e resolve
qualquer tipo de problema,
sabiamente ele se envolve
sem montar nenhum esquema.
155
Me agarro às asas dos sonhos,
ponho esperança na mente;
igual a frutos inconhos
vivemos intensamente.
156
Saudade, o peito, escalavra,
e tira o chão dos meus passos;
Nostalgia...uma palavra
com a força de mil braços!
157
Mamãe rezando nos trilhos
das contas do velho terço:
-“Meu Deus! protege meus filhos
como se fossem de berço”!
158
A saudade traz a dor
embrulhada no prazer;
ela diz que é por amor
que faz a gente sofrer.
159
Na hora que sopra o vento
vem saudade e vai o riso...
Às vezes, num só momento,
vivo o inferno e o paraíso.
160
Nas dobras do meu sofrer
dou à luz minha alegria;
das cinzas sei renascer,
da noite faço meu dia.
161
O Universo inteiro é nosso,
por nós vive a conspirar!...
Escolher a sorte eu posso...
...e o segredo é acreditar!
162
Minha mãe sempre embrulhava
nossos sonhos na esperança,
o seu terço, debulhava
na mais pura esperança.
163
A canção da cotovia
tece um manto de verdade;
por cantar a nostalgia
ela deixa a eternidade...
164
Saudade que rasga trilho,
-na cidade eu não me encerro,
me arranque desse cadilho
e me leve a um trem de ferro.
165
Arrasta seu abandono
sem um pingo de esperança,
olha o céu... terá um dono?
Só queria ser criança.
167
Como a tinta traça a escrita,
carregue a marca do amor,
escolha a cor mais bonita
pra singrar o seu valor.
168
Controlei meu pensamento
e tracei uma divisa,
prendi a força do vento
e dei asas para a brisa.
169
A saudade traz nos fios
velha malha já vestida,
de tão gasta pelos “frios”
não mais serve, está perdida.
170
O poeta verdadeiro
passa a noite em cantoria,
a paixão do seresteiro
é fazer da noite o dia.
171
A lembrança, em sua ausência,
enche de dor meu vazio...
um vulto sem aparência;
saudade em tempo tardio.
172
É...certamente os meus passos
mostram minha identidade:
- Incertos, também escassos...
prisioneiros da saudade!
173
Injustiça é nosso avesso,
fazemos tudo escondido:
na aparência um endereço
...e por dentro o do bandido.
174
O passado e seus escombros
de preces que a Deus eu fiz;
Um vazio sobre os ombros
dos sonhos que Ele não quis.
175
Quisera ser transparente
- da maneira como eu quero -
viver assim... livremente!...
...colhendo fruto sincero.
176
Passa o tempo e fica longa
cada meta que eu adio;
sem coragem se prolonga
um sucesso já tardio.
177
Minha serra da saudade
tem a fonte no sertão,
bem antes da mocidade,
quando era flor em botão.
178
Tem gente que faz barulho
com o peso do seu ego;
centraliza em seu orgulho
sem perceber que está cego.
179
Eu meto a espora no Baio
cortando mato e campina,
não tenho medo, eu não caio,
me segura a mão divina.
180
Sedução...eis uma via
que nos leva à perdição.
Mudar de rota, sabia?
não impede a tentação.
181
A saudade melindrosa
vai cosendo em minha mente
- sutil, porém maliciosa-
uma vida sem presente.
182
Chave de sabedoria
fica pronta na velhice,
saber não se faz num dia,
pensar assim é burrice.
183
Não se curve ante a batalha,
que um coração altruísta
na força do amor trabalha
e ao sopro de Deus conquista.
184
Pelas ilhas mais estranhas
vivem almas isoladas;
Volte o olhar, veja as montanhas,
pise em grotas e chapadas.
185
Entre o que a alma pretende
e o corpo anseia e procura,
astuta, a razão entende
que o duelo é na tortura.
186
A noite tecendo laços
- num simples tocar de dedo -
que me envolvem nos teus braços
pelas malhas de um torpedo.
187
A lua joga o seu manto
sobre os amantes da aurora...
o sol descobre, entretanto,
o véu, dos sonhos de outrora.
188
Eu vivo um drama sem fim,
sentir saudade é meu fado:
só , eu não me vejo em mim...
...eu só me encontro ao seu lado!
189
Tempos idos, lá no campo,
abraçada à solidão!...
Um bem-te-vi, pirilampo,
dissipou a escuridão.
190
É por ter passo hesitante
que o sábio produz seu brilho;
busca Deus a cada instante,
não se exibe, é sempre o filho.
191
O riso adormece a fera
que devora nossa crença;
lance mão da primavera,
não deixe que o mal te vença.
192
Ao encarar a verdade
não me sinto prisioneiro;
ao viver a liberdade
eu me aceito por inteiro.
193
Se a vida é feita de escolhas,
busque os sonhos, tenha estima;
tão pequeninas, as solhas
sempre nadam rio acima.
194
Deixe de lado a aparência,
busque somente o importante;
deixe a razão na gerência,
o exagero é redundante.
195
o meu pensamento busca
forças em minhas raízes
e o meu caráter rebusca
as lições nas cicatrizes.
196
Sofrimento não assola
quem tira dele a lição;
nossa dor é a grande escola
que ministra a conversão.
197
Não engendre mesquinharia,
lute e caia de cansaço;
não imite a maioria
que não ousa além do braço.
198
Dia claro,ensolarado,
janelas todas abertas
e no coração, o amado
provocando as descobertas.
199
Recostei minha cabeça
no teu peito, ó bem-te-vi,
fizeste com que eu me esqueça
toda dor que já sofri.
200
O tempo resolve tudo;
o rio corre sozinho.
Não pare a vida, contudo,
faça um esboço do caminho.