CORAGEM DE SOBRA

Não nasci de saco roxo

Mas tenho coragem de sobra,

Meto bronca na mulher

E brigo com a minha sogra.

Não me chamem de grosseiro

Com linguagem de tapera

Vocês me dariam razão

Se conhecessem as feras.

São duas onças pintadas,

Que estão sempre reunidas,

Com as garras bem afiadas

Pra infernizar minha vida.

Se uma onça grita: pega!

A outra já ordena: capa!

Criam uma rede de intriga

Que nem o diabo escapa.

Pra beber com os amigos

Já aprendi direitinho,

Digo que vou à igreja

E me mando pro Barzinho.

Beber em casa não posso

Pois as duas já vão xeretar,

Tomam as minhas cervejas

Quando saio pra trabalhar.

A sogra, essa que é braba!

Muito pior que a filha,

Até lutou como Cabo

Na Revolução Farroupilha.

Pra dançar com a mulherada

Nesses bailões de domingo

Saio na ponta dos pés

Quando as feras tão dormindo.

Quando volto pra casa

Lá pela segunda-feira

Fico com as orelhas ardendo

De tantos ouvir baboseira.

E assim vou levando a vida

E olha que não sou gabola,

Se me ordenam:- fique em casa!

Eu respondo:- sim, senhoras!

E eu volto a dizer de novo,

O que disse lá no começo,

Que é pra ficar registrado:

Coitadinho como padeço!

Não nasci de saco roxo

Mas tenho coragem de sobra

Meto bronca na mulher

E brigo com a minha sogra

HAMILTON SANTOS
Enviado por HAMILTON SANTOS em 07/06/2007
Reeditado em 07/06/2007
Código do texto: T517613