Um Fado de volta ao Mar!...

Tenho saudades de tudo, 
E até de tanto Mar que eu ali vi. 
Um dia mais tarde fiquei mudo,
Comecei a navegar nas mágoas que senti.


Das velas do Mar da Palha,
Eu vejo a Barra de São Julião.
A lágrima no meu rosto se espalha,
E assim chora o meu Coração!
 

Dia e noite... noite e dia,
Há tantos anos eu aqui cheguei.
Santa Apolónia ainda amanhecia
Ao escutar o quanto eu ali chorei.


Pequenino e a soluçar acabrunhado,
Senti-me só e apenas um simples Infante.
Saí de casa só, no dia retrasado,
E assim me fizeram Emigrante!
 

Nas Velas do Mar da Palha,
Eu parti rumo à Barra do Rio Tejo.
Depois de rezar a quem nos valha,
E nos traga a alegria que não vejo!


Neste povo de aventuras e glórias mil,
Onde os homens ao mar se fizeram,
Fui em busca da liberdade daquele Abril. 
Mas, os “deuses” da política não quiseram,
Me trazer a liberdade de cantar
O meu fado de volta ao mar... 

(in: “POESIAS SOLTAS” De: Silvino Potêncio – Emigrante Transmontano em Natal )



Notas do Autor:
1 - o Mar da Palha fica no Estuário do Rio Tejo e é hoje atravessado pela Ponte Vasco da Gama. 
2 - Aos 13 anos de idade eu cheguei aqui - Estação de Santa Apolônia em Lisboa - e vi o Mar da Palha pela primeira vez! 
Memorizei esta saudade, esta angústia de ali chegar e "ninguém conhecido" para me receber. Foram momentos de medo e completo abandono pois não sabia de nada.
Eu era apenas um "menino"... Já descrevi essas angústias no Meu Livro "Crônicas da Emigração" cujo título do texto foi recentemente divulgado pelo "Jornal o Mundo Português " sob o nome "Do Pocinho a Santa Apolônia"  e hoje vos deixo aqui umas quadras que eu fiz de memória!
Obrigado pela leitura. 

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 19/05/2018
Reeditado em 11/11/2019
Código do texto: T6340959
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