Um linguajá naturá

Airam Ribeiro

Quero escrevê um pôco

No linguajá caipirês

Que aprendí cun os cabôco

Eu cito agora pra ocês.

Os meu tiradô de leite

Trabaiava na minha roça

Eles fazia os biête

Mermo cum suas mão groça.

Pôca gente intendia

O iscrito do recado

Eu pegava eles e lia

Devagá e cum cuidado.

Muitas vêiz dizia assim

Um bezerro aqui nasceu

Era o recado para mim

Qui só quem intendia era eu.

Outras vêz remédio pedia

Prum ôtro bizerro duente

Aqueles biêtes qui eu lia

Eu inté ficava contente.

Apezá de suas iscrita

Cujos erro era pôco

Eu nun axava esquisita

Os palavriado do cabôco.

E assim eu fui aprendeno

In cada carta qeu ricibia

Assim hoje sigo escreveno

O qui aprendi naqueles dia.

Nun tenho mais gado na roça

Purque a seca levô tudo

Tô alembrano aqui na paióça

Cuma foi bom estes estudo.

Estou fazeno agora

Mim sintino aqui sozin

Sinto sodade a toda hora

Do meu vaquêro Joaquim.

Aqueles qui nun gostá

Desse linguajá natural

Nun pode nem visitá

Os povo da zona rural.

Aqueles povo sofredô

Que tem suas pôca defesa

Mas que pranta cum amô

O alimento de sua mesa.

Airam Ribeiro

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 22/09/2022
Código do texto: T7611558
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