A FESTA



O dia era seis de janeiro de 1896, uma segunda-feira de muito calor na Cidade do Rio de Janeiro. No bairro de Bonsucesso moravam em uma chácara, o Barão e a sua única filha, Isabel.

A mãe da jovem havia falecido meses atrás. Sua morte passou-se a bicos calados na Sociedade Carioca. Isabel completava naquele dia vinte anos de idade, isto deixava seu pai aflito, pois, a donzela apesar de linda, não havia ainda, interessado nenhum dos rapazes da nobre sociedade.
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Preocupado com a filha ainda solteira, o Barão providenciou para aquele dia, uma festa de fazer inveja às mais belas donzelas da época. Isabel que não apreciava festas não esboçou, entretanto, nenhuma resistência às ideias e aos caprichos de seu pai.

Tudo fora cuidadosamente arrumado: o salão da mansão, os móveis, os jardins e as escadarias. Tudo bem limpo e brilhando a impressionar até o próprio Presidente da República, que mantinha um relacionamento de amizade com o Barão. Portanto, não se poderia deixar passar a oportunidade para convidá-lo.

As comidas servidas no acontecimento foram providenciadas pelo Senhor Edgar, um cozinheiro francês famoso que servia as mesas dos mais ilustres nobres da Cidade. Os doces, alguns feitos pelo próprio cozinheiro, outros com o intuito de agradar a Gregos e Troianos foram encomendados na recém-inaugurada Confeitaria Colombo, onde existiam maravilhosos doces e petiscos portugueses.

À tarde, a movimentação na mansão tornou-se imensa, gente trabalhando por toda parte na produção do vestido e nos penteados de Isabel. Nada menos que oito pessoas, servas da casa. Algumas delas, amigas de Isabel, outras apenas se serviam da simplicidade da jovem. Todas se tomavam de alguma coragem para imaginar que aquela festa, bem pudesse delas, sê-la. Não somente para sentirem na pele toda magia, todo glamour que a noite prometia, mas, principalmente, pela possibilidade de se encontrarem e dançarem com o filho do Barão de Ipanema. Um rapaz de vinte e seis anos, feições finas, educadas e atitudes bem avançadas, trazidas da Inglaterra onde o jovem estudara.

O relógio do saguão mal bateu as sete badaladas e já se anunciava a chegada da primeira carruagem. Carmelita, uma prima vinda de Petrópolis, filha de sua tia por parte de mãe, adentrava pelos jardins da mansão apressada, de modo a se encontrar com Isabel. As duas eram muito amigas e costumavam trocar confidências sobre um e outro rapaz.

As jovens, depois de longos cumprimentos dirigiram-se aos aposentos de Isabel. A mãe de Carmelita por motivos de saúde, não foi possível acompanhá-la. Sendo a Senhorita conduzida somente por seu pai. Logo, outras carruagens foram chegando e às vinte horas, os músicos iniciaram cantigas do tempo que Isabel ainda criança. Em seguida tocaram uma linda canção de amor. Neste momento, uma luxuosa carruagem estacionou bem em frente a uma roseira florida e dela, desceu o jovem mais cobiçado da festa.

O rapaz aproximou-se das flores, escolheu a mais bonita, a mais vermelha, a mais perfumada e, então, retirou do bolso, uma espécie de canivete cortando a flor da planta. Caminhou até o saguão à procura de Isabel e lhe presenteou a rosa. Isabel sentiu-se ruborizada, seu rosto pegava fogo. Fogo que sua timidez não conseguia esconder, tanto que o pai de Carmelita sentindo o embaraço da sobrinha tentou ajudá-la, convidando o rapaz para uma conversa. Entretanto, o rapaz pedindo desculpas fora enfático em dizer que: naquele momento, o que mais queria era percorrer com Isabel, os salões daquela mansão, no prazer da primeira dança.

Praticamente a festa parou naquele instante, o filho do Barão de Ipanema conduzia a donzela de maneira espetacular. Pareciam flutuar no brilho do assoalho e um bom tempo se passou, até que outros casais ousassem dividir o salão com a aniversariante e o belo rapaz.

Na maneira que a festa ia caminhando, olhos de desejos lançavam-se discretamente em direção ao jovem. Era mesmo de uma beleza ímpar, se vestia como Príncipe, agia como um Rei. Às vinte e uma horas, a orquestra interrompeu a música para anunciar a presença do Excelentíssimo Senhor Presidente da República do Brasil, Senhor Prudente de Morais. Isabel, ao cumprimentá-lo recebeu de suas mãos, uma pequena caixa contendo um anel com delicada pedra azul.

A orquestra retornando o seu trabalho toca a música favorita do Presidente, que de pronto, posta seus olhos em direção ao maestro em sinal de agradecimento. Depois de muito dançarem, os jovens se espalharam pelos jardins da mansão. Ali encontrariam a oportunidade para trocas de olhares mais insinuantes, uma e outra palavra e para as mais desinibidas, uma rápida troca de beijos. Tudo muito escondido, tudo muito bem compartilhado entre os jovens daquela época.

Carmelita parecia encantar-se com um rapaz vistoso, que ao menos sabia o nome. Trocaram no salão, alguns poucos olhares.  Ele oferecera para ela, um sorriso breve e tudo havia se perdido por entre as pessoas que dançavam no salão. O rapaz pertencia à família dos Guimarães, que possuíam um importante comércio na Cidade.

Os jovens ficaram por um bom tempo na varanda conversando, com o rapaz fazendo para ela, alguns galanteios sutis. Ela, o respondia com sorrisos brandos até que ele, a convidou para passearem pelas alamedas dos jardins da casa. Carmelita olhou para os lados, não vendo seu pai por perto, aceitou o convite.

No salão, as pessoas se aglomeravam próximas à mesa do Senhor Presidente, aquela era sem dúvida para muitos, uma oportunidade única de se sentirem mais importantes ainda, ao serem vistos conversando com o Senhor Prudente de Morais. Isabel ficara no salão para dar atenção aos convidados e, por vez e outra, uma conversa rápida com o jovem que havia lhe ofertado a rosa. As serviçais da casa, apesar de muito atarefadas, conseguiam arranjar algum tempo a olhar para o filho do Barão, como se fosse um doce.

Isabel estava feliz! Dirigiu-se a seu pai pedindo que a acompanhasse naquela música. Foram dançando sorrindo ao mesmo tempo em que conversavam. O Barão teceu para a filha, alguns comentários sobre a rosa e o jeito gentil com que o rapaz a cortejava. Isabel mais uma vez tornou-se ruborizada, desfazendo as insinuações de seu pai, com outra conversa.

- Sabe meu pai, nunca gostei dessas festas, mas, estou me sentindo muito bem hoje e queria agradecer, pela iniciativa de proporcionar-me tal alegria. A festa foi mesmo o meu melhor presente. O pai olhando para a filha, sorri mais uma vez, e diz com palavras próximas aos seus ouvidos.
 
- Minha princesa, na verdade o seu presente ainda está por vir.
 
- Como papai, o que o senhor está planejando?
 
 E outro sorriso surgiu na face do Barão. Neste momento de alegria, Isabel se lembra de sua mãe que havia partido há dez meses. Um esboço de tristeza percorreu o seu olhar  tocando o seu coração. Pedindo licença ao pai sobe discretamente as escadarias se dirigindo aos aposentos de seus pais, para um pequeno momento de reflexão e carinho, junto às lembranças de sua mãe.

Minutos depois sentada na cama do lado onde sua mãe costumava repousar, Isabel escuta uma voz sorrateira adentrando a porta do quarto e se assusta. Reconhece a voz, mas, antes mesmo que pudesse virar-se sente a mão forte envolvendo seu pescoço dizendo em seus ouvidos. Este vai ser o seu melhor presente! Afônica, Isabel por um segundo imaginou estar sonhando e só percebeu que aquilo tudo era realidade, quando as mãos desceram aos seus seios comprimindo seu corpo frágil ao dele, segurando-a pelos cabelos com uma das mãos, beijando-a intensamente.

A jovem, com os olhos arregalados e com a cabeça dizendo que não, mesmo assim, fora puxada para cima da cama sentindo pela primeira vez, um membro rígido subindo por entre as suas pernas. Apavorada, Isabel juntou de todas as suas forças, para que num repentino movimento desvencilhar-se do agressor. A jovem chorando corre aos jardins à procura da prima e melhor amiga, para relatar aquilo que para ela, certamente, seria a maior tragédia de sua vida.

Ao encontrar-se com Carmelita, Isabel chora mais ainda e antes mesmo que pudesse alguma coisa dizer, um único e fulminante tiro é ouvido, alvejando as costas da jovem, que cai sobre Carmelita. Carmelita, grita pedindo socorro com as mãos e vestido manchados de sangue da amiga, ainda percebendo por entre as árvores, o vulto do assassino.

A orquestra imediatamente interrompeu a música e todos correram aos jardins. O pai de Carmelita apavorado segura sua filha pelos braços de modo a perceber se a jovem estava ferida. O pai de Isabel grita ao ver o corpo da filha estendida no chão e ordena que se fechem os portões da mansão. Imediatamente, o ilustre presidente presenciando a cena ordena aos seus seguranças que vasculhem a mansão à procura do agressor ou da arma do crime. Os jovens estatelados junto ao corpo da amiga morta se olhavam perguntando. Quem matou Isabel?
 
Este é um conto interativo em que convido os amigos leitores, a descobrirem o assassino de Isabel. Informo, entretanto, que em algum momento deixo de maneira implícita, o nome do assassino revelado.  
 
Boa sorte e boa leitura!
Respostas para: paulopoetacoelho@bol.com.br  




 
Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 11/07/2008
Reeditado em 05/07/2017
Código do texto: T1075730
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