Conto #055: A CASA ABANDONADA


Era uma antiga casa, triste, esquecida e encravada numa chácara urbana.

Certamente fora uma vivenda onde a beleza e a opulência andavam de mãos dadas. Seus rebuscados traços arquitetônicos denunciavam o estilo suíço. Na certa, seus alpendres e varandas faziam ecoar, das crianças, hilariantes gritos feito guizos a retumbar no entorno daquele chalé. Porém, disso nem sinal. Apenas mofo, poeira decantada sobre os móveis e um misto de assombro e abandono. No jardim, as rosas dálias, papoulas, copos de leite, gardênias, cravos, bulgaris, margaridas e crisântemos, picão e outras espécies teimavam em crescer em meio aos espinheiros que os sufocavam. As heras se fixavam com toda a garra nas paredes, dando um tom ainda mais melancólico àquele sítio.

Sempre que passava em frente ao solar, ficava a imaginar como teria sido a vida nos tempos áureos dali, naquele lúgubre lugar. Resolvi investigar mais de perto. Havia na parede do alpendre frontal um aviso impresso numa folha A4. Não o pude ler visto que a umidade e a traça lhe haviam destruído a maior parte. Um número telefônico chamou-me a atenção. "532-987-”. Saquei do bolso o celular e o armazenei na agenda. Deveria ser da antiga telefônica da cidade. Acrescentei o algarismo "3" no início e no final, fui tentando do 0, 1,2... até conseguir falar com alguém:

_ Alô! De onde fala? Deseja falar com quem?

_ Com qualquer pessoa que possa dar-me informação sobre o chalé da Rua da Sapiência. Poderia ser a senhora?

_ Pois sim! Moro cá nesse duplex a duas casas à esquerda do chalé. Se quiser vir agora, eu o espero.

Era uma idosa simpática e bem conservada. Notava-se que era uma pessoa culta, de família de grandes posses e status social. Falou-me que tentara vender o imóvel há cerca de dez anos, sem sucesso. Como estava muito interessado por aquela herdade, propus e fechamos negócio ali mesmo. Logo tratei de regularizar toda a papelada. Contratei um jardineiro, dois pedreiros, um pintor e, com eles, firmei uma empreita de vinte dias, findos os quais o imóvel estaria novamente habitável. Até então, mantivera-me silente em relação a essa transação, pois queria fazer uma surpresa a Susana e nossas crianças em nossas bodas de prata que se aproximavam.

No dia determinado, convidei-os para um passeio pelas redondezas do nosso bairro. Dissimuladamente fiquei na minha, enquanto apreciávamos aquele recanto tão aprazível. Do jardim, uma suave brisa trazia olente fragrância. Deixei que ficassem bem à vontade, com água na boca e ataquei:

_ Esta é a casa dos meus sonhos. Pelo menos em sonhos ela é minha. Aliás, nossa.

Todos nós concordamos, esboçando um gostoso sorriso.

_ Peguei a chave para vermos a propriedade. Vamos lá?

As varandas decoradas com móveis de vime, xaxins de samambaia, fetus, avenca e morangueiros enchiam o ambiente de vida. Entramos na sala. Um quadro em madeira belamente entalhada. Podia-se ler: "LAR, DOCE LAR - FAMÍLIA M. PETERSON.

_ Mas o que significa isso, Od L'Aremse?

_ Isto mesmo que estão vendo, FAMÍLIA M. PETERSON. Esta é a nossa nova morada! Bem-vindos ao Lar!








 
Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 02/04/2013
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T4219146
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