Selvageria

Janice, uma abóbora velha. Está cortada, pronta para a decoração. Será enfeitada por criaturas irrefreáveis. Sabe do futuro: amassarão seu topo, sujarão sua cor quase única - muito tentada pela indústria pop - e enfiarão dentro da sua falta de alma toda espécie de quinquilharias. Perderá tanto do orgulho estético em prol de uma alegria efêmera.

Janice não quer estar ali.

Janice não quer perder o miolo.

Janice não quer um sorriso vazado.

Mas Janice é uma abóbora velha, e ninguém dá a mínima para abóboras velhas. Sente-se irremediavelmente traída, porque não viu suas irmãs desfibradas no Halloween brasileiro. Chega a primeira agente da fibroficina. É cruel. Tem sede de caldo laranja.

Adeus, Janice, não posso mais olhar. Espero que alguém salve sua dignidade.