Até Pensei ( Chico Buarque).

Das obras do compositor "Chico Buarque de Holanda", "Até Pensei", é uma das que mais gosto, desde a primeira vez que a ouvi, ainda muito jovem, e ainda hoje a sinto atual , o que significa que nunca passará.

" Junto a minha rua havia um bosque

Que um muro alto proibia

Lá todo balão caia,toda maçã nascia

E a dona do bosque nem via

Do lado de lá tanta aventura

E eu a espreitar na noite escura

A dedilhar essa modinha

A felicidade morava tão vizinha

Que de tolo até pensei que fosse minha

Junto a mim morava a minha amada

Com olhos claros como o dia

Lá o meu olhar vivia

De sonho e fantasia

E a dona dos olhos nem via

Do lado de lá tanta ventura

E eu a espreitar pela ternura

Que a enganar nunca me vinha

Eu andava pobre, tão pobre de carinho

Que de tolo até pensei que fosses minha

Toda a dor da vida me ensinou essa modinha "

A letra é linda, de um conteúdo poético abrangente,com métrica e rítmica perfeita, o que já sabia, desde os tempos de faculdade, aonde estudamos autores nacionais, entre ele , " Chico". Mas o meu gosto pela sua obra é herança de pai, que se apaixonou pela "A Banda" nos anos 60, música esta que a considero apenas mediana.

"...Que um muro alto proibia "

A felicidade plena é assim, inatingível, parece estar sempre do lado de lá, sabemos que existe, a desejamos, as vezes temos a impressão que outras pessoas a possuem, mas é irreal, o ser humano é inconscientemente aflito, e aceita pedaços de emoção, e nesta canção o autor coloca a inquietação da alma muito claramente, aos nossos pés.

"...A felicidade morava tão vizinha, que de tolo até pensei que fosse minha "

Já tive esta sensação tantas vezes, que perdi a conta, de parecer tudo perfeito, de materialmente não sentir falta alguma, carência alguma, e me sentir morto por dentro, uma angústia incompreensível , como se nada me pertencesse, nem a felicidade do momento.

"...Do lado de lá tanta ventura, e eu a esperar pela ternura "

A carência está nesta estrofe, assim como o sonho e a ilusão, numa linguagem ambígua, de mundos paralelos que nunca se completam plenamente.

" Lá o meu olhar vivia, de sonho e fantasia"

Quando sonhamos acordados , vivemos do lado de lá, onde tudo pode acontecer, num mundo irreal e imaginário, que criamos ao nosso bel prazer, pois a mente nos permite devanéios e fantasias.

Há muito tempo queria escrever alguma coisa sobre uma das canções de que mais gosto, e reverenciar esse grande autor que leva o nome de um rio, "Francisco" , o nosso querido "Chico Buarque". O tema é profundo, mas não posso escrever uma tese, não é este o propósito.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 06/01/2015
Reeditado em 06/01/2015
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