Sobre Antonio Machado- O poeta.

Antonio Machado foi um grande poeta andaluz ,do século XIX, da geração de 98. Ele morreu na França durante a guerra , exilado. Pouco se sabe dele no Brasil, e foi pouco traduzido para o português, o que é uma pena.

" Caminante son solos tus huellas el camino y nada mas,

Caminante no hay camino al andar

Al andar se hace camino y al volver la vista atras,

Se ve la sienda que nunca se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino, sino estelas en el mar "

Nesta estrofe o poeta nos diz que o caminhante (o peregrino) são as marcas (huellas), o caminho e nada mais.

A palavra "huellas" ao pé da letra são as nossas digitais, única em cada um, o que sugere que nos tornamos um caminhante quando trilhamos a nossa própria rota.

O andar faz o caminho, que o vemos quando olhamos para trás, e onde vemos um sulco que nunca voltaremos a pisar.

Caminhante não há caminho, senão trilhas (estelas) sobre o mar.

O cantor e compositor "Joan Manoel Serrat", de quem tanto falo, e que tanto gosto, fez uma canção sobre o poeta Machado, e numa de suas tantas estrofes, selecionei duas, as que falam do exílio ;

" Hace algun tiempo en este lugar

Donde hoy los bosques se visten de espinos

Se oye la voz de un poeta gritar

Caminante no hay camino

Se hace camino al andar

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos de su hogar

Le cubre el polvo de un país vecino

Y al alejarse lo vieron llorar

Caminante no hay camino

Se hace el camino al andar

Golpe a golpe, verso a verso... "

Joan nos fala através da sua canção , sobre a tristeza do poeta andaluz ao sair da sua pátria, durante a guerra civil espanhola, que terminou em 1939, e se iniciava a segunda guerra mundial, anos de chumbo para os povos da Europa. Os intelectuais e artistas sofrem muito, pois tem um compromisso com a verdade, e dela não abrem mão, e algum pagam por essa ousadia do "não engajamento" , com a própria vida, ou com o desterro.

Gosto muito quando Serrat nos diz " Donde hoy los bosques se visten de espinos", é uma forma poética de dizer que encanto se fechou, nasceram espinhos pela falta de compreensão. Ainda se ouve a voz do poeta no bosque ;" Caminhante , não há caminho...", enquanto se afastava em lágrimas, para a França, onde seria seu derradeiro destino.

Antes de encerrar esta análise, separei um verso pequeno de Machado, sobre a hipocrisia, e que gostaria de compartilhar;

" El hombre sólo es rico en hipocresia

En sus diez mil disfraces para engañar confías,

Y con la doble llave que guarda su mansion

para la ajena hace ganzúa de ladrón"

O homem só é rico em hipocrisia

Em dez mil disfarces para enganar, confia

E com a chave dupla da sua mansão

Para a alheia faz gazua de ladrão.

A palavra "gazua", vem do basco ( gatzua), que é uma chave falsa, e enquanto fecha a sua riqueza e a sua mansão a chave dupla, ( isto tem um duplo sentido), faz uma gazua para abrir a vida dos outros, como se nada valesse.

O duplo sentido é justamente a hipocrisia humana, a perda dos valores, a falta de amor ao próximo, e o desrespeito velado que os falsos poderosos colocam aos menos favorecidos . Quantos posam de excelentes chefes de famílias, maridos exemplares, à beira da piscina na revista , após terem feitos barbaridades com funcionários ,subjugando-os, burlando as leis através do dinheiro ,achando que nunca serão desmascarados ? As filhas e esposas dos outros , de nada valem, as demais famílias nem existem , a pobreza e sensibilidade então, passam longe . Estes são os que usam as dez mil máscaras .

Esta homenagem que faço é a todos os artistas ,a intolerância que o fascismo praticou contra eles, e que representam toda uma geração , anterior aos fatos, mas vítimas dele, como "Frederico Garcia Lorca" e o genial "Pablo Ruiz Picasso , com o seu 'Guernica".

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 27/10/2015
Reeditado em 28/10/2015
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