ACERCA DA FALSA MORAL.

Por Carlos Sena


É sempre bom ter a noção exata da fragilidade humana. Essa certeza é meio redundante, mas os homens preferem ignorar que são frágeis ou quando não ignoram apenas preferem o entendimento físico da coisa. De fato, aspectos físicos são importantes e são igualmente frágeis em nós. Desde que nascemos somos “amparados” por médicos, parteiros, doulas, enfermeiras, auxiliares, etc., sem contar o pré-natal. Outros animais não. Nascem e já saem interagindo como, por exemplo, os patos. Quem já viu os patos saírem do ovo vê que eles vão direto pra água e saem nadando. As tartarugas idem. Nós não. Somos frágeis física e emocionalmente... Nada novo em tudo isto, mas quando a gente cresce com a consciência da vida e da nossa fragilidade, imediatamente começamos a observar melhor os que nos rodeiam. Assim, rapidamente a gente descobre quão os humanos são difíceis na sua fragilidade emocional, social, psicológica. Talvez até esses termos sejam imprecisos posto que se trata, efetivamente, do falso moralismo. Esse falso moralismo leva muitos a viverem de forma diferente daquela que realmente são. Evidente que a vida social não nos permite viver sempre em desacordo com o socialmente estabelecido. Contudo o que mais se vê no cotidiano são pessoas frágeis de conduta, ignorantes nas atitudes que deveriam tomar diante das evidências factuais das relações interpessoais. Dito diferente: são exatamente iguais a qualquer outro ser humano, mas preferem posar de melhores em atitudes e gestos. Com a maturidade, certas ilusões caem por terra por falta de substrato concreto e ai sim o “pano cai” diante de todos. Muitos são os que na sua intimidade conjugal praticam certas inovações sexuais que condenam nos amigos. Outros mentem, não pagam dívidas, deduram os colegas no trabalho, furtam, jogam os colegas em situações difíceis, mas seguram a onda e disfarçam muito bem se comportando como exemplo de tudo que condenam...
O falso moralismo talvez seja o “CÂNCER” social que mais danifica a humanidade. Pior: mata sem deixar cadáver, pois mata em vida. Isto acontece muito com os negros, homossexuais, mulheres, judeus, pobres, obesos, índios, etc. Dentre esses, o preconceito que envolve sexualidade talvez seja o pior deles – é através da sexualidade e do sexo que os sistemas políticos exercem grade parte do poder e dominação; também as religiões e seitas se utilizam do sexo e da sexualidade para manutenção dos “fiéis” nas igrejas. Por conta disto, igrejas sem responsabilidade religiosa treinam seus pastores para chantagear seus membros colocando o céu como prêmio e o inferno como castigo. Fazem teatros, combinam testemunhos, condenam veementemente qualquer forma heterodoxa de sexo e sexualidade. Recentemente o impostor Silas Malacraia em seu programa de TV vociferou a palavra GAY 700 vezes, a palavra Cristo apenas 55...
Independente, o preconceito talvez seja a maior desinvenção dos humanos que os próprios humanos arrumaram para se reinventar na falsa moral. Reinventam-se os humanos, a despeito de toda modernidade alardeada, calcados no falso moralismo. Talvez isto nos leve ao lamento de que a raça humana por não saber se reinventar no AMOR o faça no falso moralismo que alimenta, disfarçadamente, o ódio entre as criaturas. Certo que tudo isto passa por conceito, senão não seriam pré-conceitos. Este é algo como falar do que não se sabe e acreditar que os outros é que não sabem. O falso moralismo ignora experiências e a própria ciência. Voltando ao Silas Malacraia ele é de formação psicológica, mas o conselho nacional de psicologia o proibiu de falar contra os homossexuais, pois sua fala é sempre preconceituosa, ignorando o que a Psicologia estudou e orienta a todos que tem essa formação. Para quem ainda não sabe, a psicologia moderna orienta que os psicólogos devem levar os clientes a ser felizes. Ser homossexual não deixa ninguém infeliz, embora possa acontecer de alguns serem infelizes porque os homens, independente de orientação sexual são felizes e infelizes. Mesmo quem se diz feliz, não consegue sê-lo permanentemente, posto que viver é um pouco dessa combinação contraditória.
Certo que cada pessoa é dona do seu mundo. Mas nenhum mundo é isolado dos mundos dos outros. Verdade é que os nossos pequenos mundos são os componentes do SOCIUS que nos mantém vivos e interagindo com a cultura e com os valores produzidos por ela.
Retomado o fio da meada, temos o entendimento de que o falso moralismo seja, talvez, o núcleo da nossa fragilidade humana. Ele é responsável pelos nossos julgamentos diários que fazemos dos outros que, em tese são iguais a nós. Mas, seja o que for, perto de nós sempre vai estar pessoas iguais a nós em essência, mudando apenas algumas fragrâncias desse nosso perfume humano tão complexo de ser “engarrafado” em grandes frascos com os legítimos odores dos campos.