Bilac e o amor à pátria
                               (Artigo publicado no jornal Estado de Minas, 21/6/2001)

  Lendo no ESTADO DE MINAS, domingo, 10.6.2001, "Tempo de Reconstrução", artigo do jornalista Dídimo de Paiva, nele vejo citados dois expressivos filósofos e ex-professores meus: Luís de Carvalho Bicalho e padre Henrique Cláudio de Lima Vaz. (S.J)
   Gostaria de perfilar, ao lado deles, um pouco de Olavo Bilac,  que, ao que me parece, consubstancia o pensamento do autor.
    Como propagandista do serviço militar compulsório, Bilac viaja por todo o País, esmerando-se em conferências e debates.
   Ano de 1914 se aproxima.
   O Estado alemão invade sub-repticiamente os países indefesos. 
  No Brasil, apesar de uma surdez  pecaminosa ou covarde, Bilac clama contra o absurdo de brasileiros natos desconhecerem o idioma pátrio. 
  Apavorado com a possibilidade de desmembramento - pois nunca o Brasil estivera sofrendo tão gravemente este perigo, com o Sul do País literalmente contaminado pelos alemães, até alemães brasileiros
, exorta o Exército Nacional, por ocasião do banquete oferecido no Clube Militar:
   "O que me aterra é a possibilidade de desmembramento. Amedrota-me este espetáculo: este imenso território povoado por mais de 25 milhões de homens que não são continuamente ligados por intensas correntes de apoio e de acordo, pelo esmo ideal, pela mesma educação cívica, pela coesão militar".
 E Bilac percorre o Brasil, falando aos jovens, aos velhos, aos estudantes, aos intelectuais, aos soldados, aos marinheiros, grandes apostólos do civismo, incitando os corações jovens a sofrer pelo Brasil, a chorar e amá-lo; e nos velhos, procura, entre as cinzas da descrença, aquela união que possibilite um novo acender de fogo de amor à pátria.
  E sua palavra é mais galvanizadora de que pesadas leis estatais. Ele empolga e acalenta. Faz brotar e cultiva. Sua sinceridade flagrante é a melhor bala, que sua voz atira em todos os ouvidos.
 Enfim, a compreensão surge. Os jovens despreocupados, felizes, os janotas embonecados e mulherengos, sem rumo, sem ideal, sem sofrimento, os literatos teóricos, os velhos descrentes sentem aos poucos a gota d`água mole que fura a petrificação em que se encontravam.
  Não mais permitiriam um Brasil dividido; humilhado, ao sabor das potências poderosas que o dividiriam como um bolo.
   Não!
 Quando o invasor chegasse, aqui encontraria homens unidos e dispostos a lutar, por todos, por cada um, por si mesmos. As mães, compreendendo que perder um filho para a pátria, era a mais honrosa das perdas, estimulavam-nos e esperavam comovidas até verem-nos de farda e arma ao ombro, o peito inflado de amor não só pela pátria, a qual finalnente estavam em condições de defender, mas também pela mãe que estimulara a seguir um caminho de honra.
    Bilac conseguira!
  E o entusiamo foi tão ardente e profícuo que se apresentou um voluntariado nunca visto. Foi então preciso devolver aos respectivos tetos jovens mal entrados na puberdade e anciãos que ficariam a orar para o engrandecimento da nação. E lia-se, em cada rosto animado, nos olhos decididos: "Brasil, quero amar-te e defender-te".
   Aliada  ao seu talento, o poeta tinha uma fé inabalável na  pátria e na necessidade de serví-la, o que o levou, em certo episódio, a dizer:
  "Nessa campanha em favor da unidade e da honra do Brasil, dou tudo e nada peço".
    Bem diferente do ânimo de muitos políticos que, hoje, esperam ser, por ela, constantemente servidos e acariciados.
         
                                         Roberto Gonçalves
                                                  Escritor