Crítica cultural do Brasil: Um clichê desgastado

Há um clichê que, constantemente, profere-se no Brasil: “País do futebol, carnaval e corrupção”. A partir disso, as pessoas que se autodefinem como “expertas” ramificaram outros vários jargões do tipo: “O que estou fazendo no Brasil, país de funk, de axé, de sertanejo?”, e adentraram com essas e outras especiarias da rua brasileira em suas amostragens, provando como nossas terras são medíocres culturalmente. Fato é que, assim, tornam explícita a eterna crítica à cultura brasileira, à estrutura cultural do Brasil, sem maiores raciocínios, de forma definida e imposta, e aceita pela maioria. No entanto e por isso eu gostaria de me pronunciar na correção desse estigma em alguns pontos.

A cultura de um país ela não é reflexo de sua intelectualidade nem de sua produção de massa exclusivamente, mas ela é um apanhado geral. Cultural é aquilo que se difunde como patrimônio, tradição, veio artístico... coisas que fazem parte de nossa evolução e raiz, de nosso crescimento, desde o senso comum ao filosófico. Coisas que nos acompanham e contam a história de nossa sociedade. E ‘isso’ se dá em todos os níveis. Dizer que o funk não faz parte da nossa cultura é alienarmo-nos da própria realidade, mas considerar que esse ritmo seja toda a égide de nossa força cultural, supervalorizando-o, mostra-nos como somos limitados e midiáticos. Pois buscamos aquilo a que estamos dispostos, não mais!

Por exemplo, critica-se muito às telenovelas, por serem medíocres... Ora, eu não poderia criticar na maioria das vezes, pois raramente assisto a tais produções ou, quando assisto, não lhes dou tamanha importância, a não ser em alguns aspectos relevantes. Se vou a festas em meus finais de semana, do tipo: “Noite da cerveja”, “Dj Blá blá blá”, o que quero eu encontrar? Mozart em alto volume? Elis Regina em ritmos modernos? Há que se considerar...!

Eu, por exemplo, não creio no Brasil como um país em que só haja funk, carnaval e futebol; em primeiro lugar, porque não assisto ao futebol na TV, praticamente nunca; só raramente vou a festas do tipo carnaval, DJ e bailão, ou como seja; e, além do mais, não ouço rádio para saber o que está tocando. Muito embora ouça as músicas da mídia por aí, faço na maior parte das vezes um belo chimarrão e deixo tocar nas caixinhas do computador ou nos pen-drives e CDs da vida um belo rock inteligente ou uma MPB e fico ali, ouvindo e sorvendo as letras e os ritmos, muita coisa boa brasileira... Desde Legião Urbana e Titãs à MPB4, Egberto Gismonti, Renato Teixeira, Sepultura, Teatro Mágico, Os Mutantes, Secos & Molhados, e tantos outros e outras que seria pouco o espaço para citar...

Sobre o samba, ele está muito além do que se diz, porque quem o critica são aqueles que o ouvem justamente na rua ou nas festas de massa. Ouço muito Chico Buarque e Clara Nunes, por exemplo, sem contar o grande número de excelentes letristas e suas musicalidades, entre a viola e a cuíca, sensacionais! Gostamos, ainda, eu e meus amigos, em vez de combinarmos ir à praça e abrir o porta-malas do carro em alto e estrondoso som; de nos reunirmos em nossas casas e deixar rolar um som ambiente, conversando e conhecendo sons novos, e coisas novas, e pessoas e ideias diferentes. Para mim isso é Brasil. Será que só para mim? Falamos sobre Brecht, Hitler, Nietzsche... política, saúde e cinema... mas também sobre flores, jardins e baboseiras, e coisas que crianças não podem escutar, bem piores do que, às vezes, dizem as letras de funk, mas sem ofender. Divertir-se é bom também.

A questão é: Você é o que você procura! Aquilo com que você se envolve. Não dá pra ser diferente. Portanto, em vez de ficar aí criticando o Brasil em relação à sua cultura, busque conhecê-la melhor, não só ver e ouvir o que está na mídia e pensar que o Brasil, culturalmente, seja isso.

Seja inteligente, nosso país é grande e imensamente rico!

E, para encerrar, fica, por Chico Buarque mesmo, o link para uma belíssima reflexão sobre o samba e o carnaval: Vai passar! http://www.youtube.com/watch?v=Ma5ThSwFbIg