POR UMA ESCOLA SEM MEDO E OPRESSÃO

A tragédia ocorrida na escola Tasso da Silveira não pode fazer com que levantemos a bandeira de uma escola de segurança máxima, que distribui suspeitas entre alunos, pais e comunidade. É claro que se há de criar novos dispositivos básicos de segurança, mas não a ponto de transformar as instituições de ensino em ambientes frios, duros, impessoais. Se nos deixarmos endurecer ou apavorar, veremos em cada visitante um assassino em potencial; em cada pessoa que se aproxima da escola com finalidades culturais, de fornecimento e voluntariado alguém que se oculta em intenções macabras.

É claro que as situações extremas exigem medidas também extremas, mas o Brasil ainda não é um país com vocações terroristas. Ainda estamos chocados com uma tragédia que matou e feriu crianças, assustou uma população ávida por segurança, paz e justiça social e quebrou o encanto de famílias que julgavam seus filhos seguros dentro daquela escola. Entretanto, ainda se trata de um evento pontual. É assustador, passível de um cuidado bem maior na lida com o cotidiano letivo, mas fazer das escolas presídios, ambientes onde ninguém confia em ninguém é roubar-lhes toda a vocação educativa; privar alunos e funcionários da liberdade que lhes confere autoestima e cidadania.

Creio que podemos trabalhar em prol dessa questão que a sociedade, a opinião pública e os órgãos de imprensa ora massificam, se partirmos das salas de aula. Conhecermos melhor o aluno, identificando conflitos e patologias possíveis. Procurando entender e ajudar. Promovendo ações reais, eficientes, de conscientização sobre os casos de bullyng. Elevando a autoestima desses alunos no simples trato pessoal. Assumindo, enfim, esse novo papel do educador, diante da sociedade moderna; destes tempos em que a família ganhou tanto em abertura social e tecnologia, mas perdeu em tempo e aconchego; em cumplicidade interna e partilha de vivências. Não se pode negar que novas leis melhoraram muito a vida, mas isso ficou para trás e cabe à escola prover essa lacuna.

É claro que o educador comprometido não foge a essa questão, mas o sistema não provê os educadores de capacitação para tanto. Não permite aos mesmos uma vida menos acelerada, com tempo maior para percepções e ações desta natureza. Há uma grande corrida pela melhora dos índices de aprovação a qualquer custo, para fins de pesquisa, visibilidade mundial e verba. São muitas as pressões que desestruturam um professor e o tornam forçadamente alheio a questões mais pessoais e profundas, mais delicadas e sensíveis no dia a dia da sala de aula. Os burocratas e empresários da educação transformam educadores em robôs e os incapacitam para o essencialmente humano.

Outra deficiência das escolas, pelos menos das que conheço – e conheço inúmeras – é a falta de orientadores psicológicos ou assistentes sociais, como é dever. Esses profissionais são encontrados nos presídios, nos hospitais e tantos outros ambientes, mas a escola não os oferece aos alunos nem aos funcionários. Ou seja: O sistema não os oferece à escola, e essa ausência é o um dos fatores gravíssimos do meio educativo. Será que somente a escola, nas cabeças do poder público e privado não precisa? Digo, então, que ela é a que mais precisa desse tipo de profissional.

Se depois de todos esses quesitos devidamente observados – e providenciados – a escola continuar crescendo em insegurança, marginalidade, agressão e outros perigos, o que duvido, aí sim; será hora de a transformarmos no que tantos querem: Presídios, isolamentos, ambientes de suspeitas; lugares onde crianças, adolescentes e jovens se desligam da cultura, da sociedade ou da civilização, o que será um percurso contrário ao que os políticos pregam nas tribunas. Ao que os donos das escolas privadas pregam nas reuniões pedagógicas, pouco antes de voltarem a “arrancar o couro” de seus mestres, com o excesso das exigências – muitas delas desumanas e desnecessárias – que vilanizam a educação.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 12/04/2011
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