A enfermeira e os professores

Há mais de dez anos os professores do Chuí vivem uma realidade econômica injusta. Primeiro porque existe a Lei do Plano de Carreira, segundo porque sem o Plano de Carreira são atacados diretamente no seu sustento. Nunca será demais insistir na importância dos salários para garantir a qualidade de vida dos professores e da cidadania. Aspecto que a classe política relega a desimportância e para tanto utiliza de mecanismos dissuasórios. O principal mecanismo dissuasivo é a palestra. A palestra é um recurso apurado de propaganda. Tanto o município quanto o governo federal utiliza a propaganda para ampliar a importância da educação sem qualquer ligação com o sustento dos professores.

Utilizam então o aluno para blindar a realidade do professor. Quando se torna inevitável começa o golpe de que a categoria precisa urgentemente de cursos de qualificação. Com salários pífios, para as altas responsabilidades que apontam ser da competência dos professores, zombeteiramente os encaminham para cursos de gerenciamento financeiro e quejandas temáticas. Palestra é altamente eficaz para amolecer os ânimos sobre a luta real por melhores condições de vida econômica.

Minha intenção é, apenas, a de salientar o “mecanismo ilusório” empregado para convencimento de que a vida da categoria, sem o Plano de Carreira, está perfeitamente incompatível com o direito estabelecido por lei. Esta “realidade empobrecedora” tornará futuros professores (na aposentadoria) em seres frágeis, sem recursos para enfrentar a parte mais difícil da existência.

Este aspecto central é esquecido na dinâmica política. Sobrevalorizado o esquecimento de aspectos essenciais da sobrevivência aplicam o convencimento elaborado com frases bonitas de efeito e expressões emocionais, românticas, poéticas, de apreço a educação louvada politicamente. A educação, não mais os educadores! Despreocupados da urgência começam a se enganar da importância da qualificação salarial. De modo que alguns professores chegam a trombetear: quem quer ganhar bem não deve ser professor! Nem enfermeiro.

Pois, a palestra lembra uma enfermeira que fosse igualar as profissões à importância coletiva sendo uma, o resultado da outra. Assuntando, considerando fatores morais, espirituais (de como se deve ser professor) sobre valores concretos da complexidade da vida labutada com poucos recursos. Utilizando palavras para ocultar os números! Fórmula intensamente utilizada para dissimular a realidade (Sic) lançando sobre ela um manto confuso de expectativas vazias.

As palavras então sobrevoam a audiência imobilizada e muda nas mãos de quem molda a realidade para alcançar a autopromoção política. É o que torna o palestrante líder altamente eficiente. Ele não é um intelectual revoltado com a miséria e a miserabilidade do nosso povo. Povo do Chuí que por viver das mesmas receitas econômicas como um doente da mesma dieta vai cada vez mais formando bolsões de desfavorecidos.

Todo o conteúdo exposto se baseia na representatividade institucional que deposita na figura dos educadores enormes responsabilidades. Com baixo custo salarial é claro, tratado como despesa. Porque o professor é missionário, ser espiritual, representa elevada subjetividade, deve viver de luz!

Municípios de fronteira de poucos habitantes possuem somente uma escola municipal de ensino fundamental. Para uma população pouco acima de seis mil habitantes, segundo fonte recente do IBGE, distante quase, três quilômetros da Secretaria da Educação e da Prefeitura. Vive isolada e sem Plano de Carreira, com baixa expectativa de que a correção salarial, aprovada pelo governo federal de 33, 23% seja atualizada na folha de pagamento. Sobrevive sem acessibilidade urbana percorrendo gerenciamentos que deixam os funcionários públicos a pé, expostos as grandes variações climáticas e seus rigores.

A opinião conservadora longinquamente estabelecida aproveita-se da falta de mecanismos de informação pública eficientes para lutar e garantir o direito a representação dessa clara tímida sensibilidade social. A política paternalista e clientelista cala os serviços prestados e diplomas. Com as resistências internas diminuídas a pequena escola silencia e prossegue anos a fio sem os direitos salariais garantidos. Neste ano eleitoral são convocados para palestras num hotel de luxo onde com os salários atribuídos as qualidades atuais jamais poderiam ali se hospedar. Devem sonhar, mas alheios ao futuro. A economia social distante do debate exime as gestões de quaisquer responsabilidades sobre os baixos salários.

Todos sabem que este é um ano eleitoral. Todos os políticos se ajoelharão diante da pequena e única escola do Chuí para torná-la um templo das suas intencionalidades. O Chuí rico e de fortíssima concentração de renda, começa a dar sinais da miséria num continuado processo de empobrecimento da população periférica. Lá onde se situa a pequena escolinha, a única do município rico, sobrevivem reformas estruturais parciais, que não contemplam os salários num Plano de Carreira com base nos índices do Governo Federal.

O desenvolvimento econômico dessa sociedade rica e desigual devia ser a base do pensamento social na comunidade fronteiriça. Frases bonitas trazem esperança para pobres e ignorantes formando uma forte corrente de opinião. Professores altamente qualificados e reflexivos não se deixam levar pelos embustes discursivos. A fina vitalidade da palestrante merece grandes considerações. Assuntos de grande relevância foram tratados em rápidas linhas. A transversalidade diz respeito sim à contextualização dos conteúdos e resgate da memória dos acontecimentos.

Terminados os dias em que fomos apresentados a uma idealidade de como devemos ser e proceder a palestrante se despede anunciando sua candidatura.

Os professores se retiram do hotel em que jamais se hospedarão e retornam para o Chuí pobre. Firmes em direção a escola de difícil acesso. Quem fez concurso sabia que a escola era distante e o município sem mobilidade urbana, afirmam uns sobre a dificuldade de outros. Friamente a principal lesão brasileira é econômica e sobre ela se movem os aspectos ilusórios.