INTERPRETANDO MILTON NASCIMENTO

INTERPRETANDO MILTON NASCIMENTO

(em seu texto “MÓRBIDA INDIFERENÇA”)

O texto de MILTON NASCIMENTO - “MÓRBIDA INDIFERENÇA“ - podemos dissecar e analisar conforme segue adiante.

A indiferença doentia está na alma das pessoas. Elas podem estar à margem, perto ou vivendo no interior dos problemas, mas nada lhe afeta os sentimentos dos outros. É insensível à dor alheia.

O texto ilustra dois pescadores, estando à margem de um rio, que ouvem gritos de crianças, olham a primeira vez e nada vêm. Só depois é que percebem que duas crianças descem rio abaixo. Se levantam, pulam na água e tentam salvá-las. Mas após isso, enquanto ainda se debatem no salvamento das duas primeiras, aparecem mais quatro, das quais duas são resgatadas. Mais alguns segundos (ou minutos) vislumbram descer e ouvem gritos de número maior de crianças: oito. E, nesse torpor, um dos pescadores se retira, explicando que irá diligenciar no sentido de saber quem está jogando as crianças no rio.

O autor está retratando uma lenda indiana que reflete a nossa realidade brasileira, das pessoas (crianças ou homens ou famílias inteiras) que estão sucumbindo (sem dizer o motivo), mas pode-se deduzir que seja por motivo de fome, de carências de bens ou de carência de justiça até. E, em meio a esse caldal de realidades há muita gente indiferente a tudo que vê e ouve. Não lhe importando a dor e o sofrimento alheios.

Desse público de pessoas podemos dividir, assim: os que “arregaçam” as mangas e caem dentro do problema tentando resolvê-lo; os que ficam à margem e apenas vislumbram o problema, torcem, mas nada fazem, não agem; os que não estão “nem aí” para os problemas dos outros, totalmente alheios e, por último, os que estão por perto, mas fingem não ouvir e nem ver as questões e dificuldades de seus semelhantes, pois são totalmente indiferentes. Nada querem fazer em termos de solidariedade, fugindo do dever solidário que lhes compete executar, mesmo estando no alcance de efetivá-lo. São os que vivem como se nada fosse de sua competência. Isto é que é mórbido, uma doença da alma – a indiferença!

Podemos comparar o acima aludido à tão conhecida ilustração corriqueira de um ônibus encalhado na estrada vicinal barrenta, após longa e tenebrosa chuva que se abateu em certa região, dificultando o prosseguimento da viagem, ou seja, “atolando” mesmo o “busão” no lodaçal. Mas, à parte daquele cenário pode-se contemplar e relacionar vários grupos de pessoas: O primeiro grupo, eram os acomodados, os que continuaram assentados dentro do ônibus, mas não se arriscaram a descer do veículo para realizar alguma coisa; o segundo grupo, de longe, apenas contemplava o espetáculo de atolamento do referido ônibus, sem ao menos chegar perto, tentando oferecer ajuda; o terceiro grupo, constituía-se dos que apenas punha as mãos por trás do ônibus, fingindo estar fazendo algum esforço para empurrar o ônibus; e, por último, o quarto grupo, o mais afoito, se esmerava com todo empenho, em empurrar, de verdade, o carrão, demonstrando trabalho, responsabilidade e autêntica solidariedade a quem se encontrava em dificuldades. E, através deste grupo o carro andou e chegou ao seu destino. A que grupo você faz parte?

Muniz Freire, 18 de outubro de 2006.

Fernandinho do forum