A HUMANIDADE SUBMERSA

Fico muito agradado por estar sendo um estimulador para a confecção de tua literatura. Tenho total certeza de que as leituras sugeridas irão ajudar no teu aprimoramento. Entendo que os livros chegam às tuas mãos na hora certa. Segurei um pouco a entrega das obras a fim de que estivesses mais afeiçoado à confecção dos poemas e prosas, porque me percebi que terias que te aproximar mais do associativismo literário, a fim de que tudo isto fosse capaz de desencadear em ti o desejo de compor esteticamente bem o poema com Poesia, não ficando somente na inspiração. Ainda mais que ainda não constatava um conjunto de amigos que pudesse despertar em ti não somente o ego e, sim, o alter ego, de modo a que soubesses que o espiritual forjador espontâneo do poema é este último e não o ego. Este é sempre egocêntrico, individualista, possessivo, e nada possui de confraternidade, portanto incapaz de te fazer exigente quanto à criação artística. Nesta, o que mais vale e tem de sobressair é a densidade humana, o sentir pejado de humanismo que está submergido nas palavras, de modo que o poeta-leitor se identifique quanto ao conteúdo e se sinta acarinhado pela força dos signos. Estes vetores ajudam-no a vencer os temores e a insegurança que lhe faz vulnerável. Lembra-te: o leitor não é apenas o alvo, e, sim, o agente transmissor que fará a seta chegar a muitos pontos mais. Com o tempo, vais entender melhor o que digo agora. O reiterado fazer melhorará tua garatuja inicial e fará mais densa a tua palavra, mesmo que a codificação verbal, especialmente em Poesia, não permita antever isto de pronto. Mas que não seja tão hermético ou enigmático que faça a seta-mensagem desviar-se do caminho do entendimento...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2014/15.

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