O CADAFALSO DO DIA SEGUINTE

E, por incapaz de futuros, a altissonante e rouca alegria de viver sem maiores inquietações absorve transgênicas sementes. Realmente, é a antítese do utópico sobre suas singelas utopias de corpo e matérias inertes. Respira-se o pó da mola do mundo. Este hausto inusitado comanda a perspectiva de fazer o universo somente na primeira pessoa. É muito cômodo viver somente o tempo presente. Um tsunami quase microscópico abre-se sob os pés, quando a água do copo derrama-se sobre o solo calcinado. Não há como mensurar os exageros. Nem a fome de justiça espalhada sob a vontade de nada fazer para mudar. A instigação ao pensar incide nua e crua sobre a cabeça dos condenados. Nada como o poder do sexo; o mundo se dobra acima dos joelhos. Nada como o poder da posse e do vil metal; dobram todas as ilusões.

– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

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