O PORTAL CIRCUNSTANCIAL

Frente ao imensurável número de escritores dedicados à poesia no país e no planeta, é pouco expressivo o número de pesquisadores da humilde palavra em seu vestido de festa, enquanto corpo estético psíquico-energético, benesse peculiar ao poema em que comparece a genuína poética. Sim, porque há inúmeras peças verbais em que somente a retórica, vale dizer, o discurso prosaico pelo qual os (pretensos) versos sequer conseguem navegar no universo da linguagem em sentido conotativo, ficando no usual e cotidiano sentido denotativo. O poema é uma peça estética instigadora ao lúdico e à reflexão, e funciona como fonte energética sugestional a todo o tempo. Por fim e ao cabo, esta é a sua íntima e vital utilidade ao humano ser – a única – porque tudo o que se pode amealhar em termos de utilitarismo provém de ação prática e este não é, seguramente, o plano em que se situa a porta emergencial da Poesia, expressa por sua materialidade, o poema. Essa é a palavra essencial pela qual se pode morrer e viver como estrela tardia e fonte de exata temperança para a felicidade. Mesmo que o poema com Poesia seja o mais alto patamar da invenção, da farsa, da fantasia, do sonho, e, por sua fortaleza de significantes e significados, seja capaz de coroar de veracidade a balsâmica mentira vertida no poema. Esta, de tão repetida, se tornará verdade inconteste para que o poeta-leitor continue sua saga com o coração pleno de esperanças. Enfim, até as pandemias não resistem à circunscrita poética da máscara de viver.

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020/21.

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