A OURIVESARIA POÉTICA NOS VERSOS

Sempre cuidadoso no exercício do poético, gostaria que observássemos a título de provocação e/ou desafio ao estudo e à pesquisa, que a criação poética na qual aparecem protagonistas oriundos da mitologia e suas intercorrências normalmente tornam prosaico o discurso poético, especialmente registros decorrentes do helenismo, suas relações, e interações psicoemocionais surgidas no decurso da realidade fática que acaba transpassando ao plano literário.

Aderindo a este proceder, foge o poeta-autor ao sempre apropriado e prazeroso andamento rítmico e muito dificilmente propõe ao poeta-leitor o gozo estético que a poesia contém, sugere, emite, inspira ou suscita. Enfim, ser o promotor do aparecimento do poema e/ou do surgimento da peça poética com apreciável valor estético.

A rítmica é a ciência do ritmo que se irá desenvolver através da ourivesaria ou artesania, a qual poderá aprimorar a estética no trato com as palavras nos versos do poeta-autor, acrescendo original virtuosismo à obra poética: o ritmo genuíno, cadenciado e harmônico, agradável aos olhos e ouvidos.

A ritmação é elemento essencial ao molde plástico-literário no qual comparecem elementos que conduzem à metaforização, figuração ou mutação do sentido das palavras, criando imagens, sendo a palavra o significante habitual da codificação, fixando em definitivo o poema contendo Poesia, que é o que destaca o conjunto verbal como objeto estético.

É bom ter-se em conta de que há versos em que não ocorre o comparecimento ou a constatação da Poesia neles. Confunde-se muito a ternura ou a doçura da linguagem com a existência do poético na peça. Atrevo-me a registrar que a maioria dos autores (especialmente os principiantes, mormente nas plataformas virtuais) não conseguem atentar para o poema, o qual representa a concretude da materialidade poética.

A Poesia é uma abstração, especialmente no eu-lírico, conquanto o poema é a estrutura textual, a concretude, a materialidade.

Para Octavio Paz, “o poema é criação artística, linguagem erguida. O poema não é uma forma literária em si, mas, sim, o ponto de encontro entre o ser humano (poeta e até o leitor) e a poesia. Cada poema é único e irredutível. Não se pode reduzir criação poética à poesia. Há poesia sem poemas; paisagens, pessoas e acontecimentos podem ser poéticos: são poesia sem ser poemas. O poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia erguida.”

É muito comum ocorrer, na construção da peça poética, que o escrito possa ser contaminado pelo andamento rítmico inerente ao prosaísmo e venha a escorregar para a Prosa Poética, que é uma espécie híbrida, ou até mesmo para o gênero Prosa, na espécie crônica ou na "croniqueta", como é chamada atualmente a crônica de pequena dimensão, na qual é rarefeita a utilização de metáforas e outras figuras de linguagem, a começar pela dificuldade decorrente do pequeno número de vocábulos que lhe dão formato.

Lembremos sempre que Poesia é essencialmente síntese vocabular, ritmo e utilização do sentido conotativo da linguagem, na qual a figuração é o apreciado traje festivo que orna a palavra capaz de produzir o airoso concerto das imagens, ou seja, as ideias voejando no imagético.

Acresça-se, registrando a excepcionalidade da temática em pauta, ainda identicamente no sentido de provocar a leitura e a discussão decorrente, dois dedinhos de prosa sobre assunto conexo deveras importante:

“A Poesia Visual é um tipo de expressão poética que utiliza outros elementos visuais além das letras e palavras em sua composição. Ou seja, ela trabalha tanto a parte poética quanto a parte visual, criando poemas que podem ser visualizados como obras de arte. É uma expressão artística que explora a relação entre a palavra e a imagem.

Não podemos ler um poema visual atentando-se apenas às palavras escritas nele: precisamos considerar também a maneira como essas palavras estão dispostas na folha.” É o que brilhantemente nos leciona o Prof. Alexandre Garcia Peres, in https://literaturaonline.com.br/author/alexandre/

Enfim, é por esses territórios da consciência humana que a estética em Poesia massageia as retinas dos forasteiros da casa da palavra e seus mistérios.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=7984602