Advertência Latino Americana

(de San Vicente – Argentina) Bastamos sair do Brasil que passamos a enxergá-lo com outros olhos. Até mesmo os enfraquecidos argentinos, sobretudo os desta área geográfica onde estou agora, analisam a nossa política como forte, mas suspeita. Mesmos eles, “los hermanos porteños” que já elegeram duas mulheres para o cargo mais alto do país, acreditam que a “nossa mulher”, a Dilma, apesar do jeitão forte, inspira milhares de suspeitas na América Latina.

O grande problema, para os argentinos, e creio que muitos de nós também, é que Dilma foi uma militante de esquerda radical, que já pegou em armas em nome de um ideal de democracia durante o regime militar; como todos sabem, foi presa, torturada e humilhada, mas que soube dar a volta por cima e agora, depois de tantas vitórias pessoais, através de seu pai político, Lula, chegou ao cume de todos os cargos brasileiros.

A eleição de Dilma não seria nenhum problema, não fosse à ligação íntima com pessoas de índole duvidosa e plenamente antidemocratas como Hugo Chávez da Venezuela, Rafael Correa do Equador e Evo Morales da Bolívia; como se diz no Nordeste, “de quebra”, Dilma herda de Lula o carinho de Ahmadinejad do Irã, Kadafi da Líbia, Fidel de Cuba e Mugabe do Zimbábue, todos, sem dubiedade, genocidas e facínoras.

Dilma terá ainda que conviver harmoniosamente com os Estados Unidos da América, os quais sempre chamaram de Ianques Imperialistas, na sua época de militância e guerrilha; sem alguns apoios dos Estados Unidos o Brasil, infelizmente, não consegue avançar com o propósito de sair do terceiro mundo ou se ver livre do rótulo de emergente; para tanto, precisa sim ser fria e calculista, porque as relações diplomáticas influenciam nos acordos comerciais que poderão mudar os rumos do país, mas também podem gerar problemas que vai de gravíssimos a até os moderados.

Há quem diga que Lula jamais obteve uma vaga no conselho efetivo de segurança da ONU, porque se aliou estreitamente com alguns dos nomes já citados e mesmo o mais acéfalo dos asnos sabe que com este tipo de gente não se dá para confiar. Nossa esperança, como brasileiros, é que Dilma, tenha de fato, amadurecido desde a época de sua ligação com o terrorismo e que saiba lidar com mais rigor com estes nomes, pois alguns deles já nos promoveram dores de cabeça e muito prejuízo.

A América Latina vive hoje uma crescente onda de implantação de sementes revolucionárias, algumas inofensivas e claramente poéticas, como é o caso do meu querido Uruguai e seu Presidente Mojica; outras em mais alerta, beirando o estresse mundial, caso da Venezuela e Chávez e no meio disso, muitos países que são comandados por gente desqualificada e dotada de intenções particulares de enriquecimento ilícito; gente que sempre se auto-afirmou como de esquerda e pelo povo, mas que pratica mesmo é a poupança pessoal na Europa; é desta gente que eu e tantos brasileiros temos medo da associação e do envolvimento de Dilma Rousseff.

Sabemos claramente também que os Estados Unidos e a União Européia dão bola apenas para quem pode lhes ajudar; em se tratando de laços econômicos, tanto o Brasil quanto os EUA e CE dependem uns dos outros em várias questões, mas há outras que eles pugnam entre si para que o vencedor obtenha o melhor lucro; isso acontece nas questões da soja, do aço e dos derivados de petróleo. Dilma Rousseff sabe que enfrentará dias difíceis e outros tenros quando tiver que discutir acerca de problemas co-relatos aos interesses dos grandes; da mesma forma que também sabe que outros emergentes enfrentam crises parecidas, como Índia, México e Indonésia.

Daqui do Sul da América, onde as florestas se encontram com as águas e onde a outra comandante mulher, a argentina Cristina, sequer dar as caras, o povão vive mais uma expectativa do Brasil ser um líder latino americano, do que a esperança fatídica de outra nação sê-lo. O povo argentino pobre e humilde, reconhecidamente mais culto do que o nosso, discute nas ruas sobre as tendências brasileiras para os próximos anos de Governo de Dilma e eles não acreditam que a brasileira conseguirá manter a aceleração do crescimento econômico como foi detectado no Governo Lula.

A China também já detectou esta fragilidade camuflada, segundo me comentou um forte comerciante de Misiones, que, aliás, é meu amigo há uma década. Para este amigo estimado a China já percebeu que o Brasil é forte, mas que a nossa economia é frágil e vulnerável; devido aos devaneios dos Governos que sonham alto e não se estruturam politicamente. Segundo o estudioso da política latina, chineses e outros grandes investidores já designam mais verbas em nações vizinhas, como no Uruguai, Chile e na própria Argentina, para evitar uma possível bancarrota brasileira.

Numa outra linha que começa aqui pertinho entre o Paraguai, seguindo a cordilheira dos Andes até chegar à Venezuela, ninguém fala em investir nem mais um centavo. A mão de obra barata poderia ser um facilitador para a implantação de mais empresas, mas os investimentos em acessos a portos e aeroportos e a credibilidade nos governos, fizeram com que os melhores do mundo investissem em outras glebas, como Panamá.

Por tudo isso e por muito mais é que os amigos argentinos estão com um pé atrás com o atual governo brasileiro e justificam esta preocupação à medida que nós somos os que ainda lhes ajudam economicamente, mesmo sem querer, como agora, no turismo.

O povão argentino está insatisfeito há décadas com as políticas econômicas adotadas pelos últimos governos, principalmente os governos do clã Kirchner. O país vizinho está quase esfacelado devido há anos sem investimentos públicos e suas cidades padecem a mercê da própria sorte sem hospitais decentes, sem saneamento básico, com uma educação capenga e uma segurança pública, sobretudo em Buenos Aires, corrompida ou amedrontada pela crescente onda de crimes. Nunca antes foram vistos tantas falsificações de moedas por aqui, chegando ao ponto de termos que xerocopiar as cédulas que adquirimos em outros países como garantia das casas de câmbio; locais públicos no entorno de Buenos Aires sofrem com arrastões e assaltos constantes.

Muito pior ainda do que na Argentina, Paraguai e Bolívia estão à beira de um abismo sem fim. O Bispo Fernando Lugo no Paraguai ainda não disse para que veio, após 60 anos de domínio colorado. Evo Morales conseguiu uma paz decadente apenas com os povos indígenas, gente de sua descendência, mas não agradou o restante da nação, nem tampouco o restante do mundo; ainda assim, conseguiu mudar a constituição e pelo visto quer se aposentar no Poder. Na mesma rota de colisão com o crível estão Equador e Colômbia; um faz vista grossa ao narcotráfico e o outro, berço dele, até o combate, mas mantêm-se amedrontado com o poder da cocaína e das FARC; e na linha de fronteira do Norte, a Venezuela que dispensa apresentação e o trio da inércia, com as Guianas e o Suriname.

Eu que, modéstia a parte, conheço todos da América do Sul, posso afirmar, que em nível de política interna, exceto na Argentina, Uruguai e Chile, os níveis de corrupção são tão altos quanto os da África; eu desconheço algo pior do que no Paraguai e Bolívia e registro isso, porque já tive inúmeros incidentes vergonhosos onde a polícia cria um problema para que ofertemos R$ 10,00, às vezes menos! Em geral o Brasil deu alguns saltos rumo à normalidade; nosso país, por ser enorme; muitos recantos ainda estão sem nenhum acesso à justiça e sem punição contígua os olhos brilham por qualquer punhado de dinheiro advindo de contrafação.

Muito embora sejamos um país industrializado e gozando de certa garantia junto ao resto do mundo, necessitamos ter ao nosso redor uma cadeia de desenvolvimento no mínimo similar, para que possamos colher os louros da bonança futura e é justamente isso que nunca tivemos e pelo visto, demorará que possamos enxergar. A América do Sul é parte de um continente nervoso, onde as diferenças são tão desniveladas e onde dois são muito ricos e os demais são paupérrimos; isso nos deixa de certa forma descontroladamente em busca de oportunidades concretas e sonhando com um Governo empenhado, técnico, diplomático e com uma pitada de sorte. Se Dilma reúne estes predicados, somente depois de algum tempo saberemos!

Somos um subcontinente e estamos na porção meridional das Américas; significamos 12% das terras secas e 6% da população do mundo; fomos descobertos por europeus, predominantemente por lusitanos e hispânicos, mas tivemos influência direta inglesa, holandesa, francesa e mais tarde estadunidense. Deixamos de ser indígenas para incomodarmos o mundo com uma cultura diversificada e estamos, ainda, na vanguarda do patrimônio ecológico terrestre. Somos formados por 13 países e 3 territórios; temos participação desde o Caribe até a Antártida; temos neve, florestas, lagos enormes e terras férteis. Em geral o povo é pacífico, humilde e amigo e raramente tivemos ajudas significativas que nos fizessem crescer sem o próprio esforço.

Assinamos acordos intermináveis como ALADI, CAN, ALALC, Unasul e Mercosul; já sonhamos com uma união similar a européia, mas como já disse, os interesses são tão distintos e tão afastados do bem comum que enquanto nós brasileiros movimentamos 2 Trilhões de Dólares por ano a Guiana movimenta apenas 1,3 Bilhão de Dólares. Imaginar que um dia poderemos viver sem fronteiras é utópico e doente, do tipo que já nasceu morto; mas os governos independentes podem sim se unirem na troca de experiências sustentáveis, que possibilitem de fato que cada povo provenha seu próprio sustento; isso já bastaria para enxergarmos a América do Sul mais capacitada e mais digna.

Infelizmente, vista daqui da Argentina, num lugar muito parecido com a maior parte do continente, onde a floresta se encontra com a cidade e onde o povo humilde e ordeiro nos apresenta suas flores e suas poesias, nosso lar americano carece apenas de bons governos; gente que se sinta povo, mas que tenha a capacidade de pensar e agir, afastando de vez o estigma da incompetência que impera há séculos e que apenas nos puxou para o báratro.

Precisamos urgente de escolas e jovens que cresçam tendo em mente a mudança, mas não o terrorismo ou o barbarismo como forma de mudança. Necessitamos dispor das armas e empunharmos a ciência e com o respeito aos costumes dos mais antigos e a disposição dos mais jovens, quem sabe um dia, nossa América Latina se poste numa enciclopédia com um sorriso pujante para todos os outros irmãos de outros continentes?

Utopia ou realidade, eu quero contribuir, porque sou parte dela e me orgulho disso!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 03/01/2011
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