VELHAS NOVIDADES OU NOVAS VELHIDADES MAGEENSES?

Ainda com o pensamento voltado pras eleições suplementares realizadas há meses em Magé, para efetivação de um novo prefeito, quero repetir o que disse a um amigo: Mesmo feliz com o resultado que pareceu dar fim à dinastia cruel de pelo menos trinta anos, não posso me eximir de comparar o momento àqueles fins clássicos de filmes de terror. Quando parece que tudo se resolveu, todos estão felizes e aliviados, eis que surge lá fora, no silêncio da noite, um par de olhos vermelhos que somente os expectadores mais sagazes podem ver. Ou irrompe o silêncio e a escuridão, aquele uivo misterioso e distante, que não é de um lobo comum.

Trata-se de clichês. Esses detalhes dão o sinal de que o enredo não acabou ali. Pelo menos completamente, não. O expectador esperto imediatamente percebe que haverá segunda parte. O que atormentou as personagens daquele filme, logo estará de volta ou virá em seu lugar um descendente. Os vampiros, lobisomens e outros demônios de cada filme de terror sempre deixam sêmens ou sementes que asseguram sua continuidade. Seus autores não os matam; imortalizam, para que sejam juntos imortalizados. Tais histórias nunca serão episódios isolados que se resolvem nas duas ou três horas de assombramentos, mordidas, uivos, urros, nojeiras, águas bentas, estacadas, tiros de balas de prata, exorcismos e outros expedientes. As coisas não são tão fáceis pros os heróis ...nem pros vilões.

É assim que vejo a tal da nova era em Magé. Como diz a música de Moska, “vamos mergulhar onde já caímos...”, “...é tudo novo de novo”. Não vejo novidade real quando nosso voto contra o “velho” na verdade elege um “novo” que é cunhado ou algo parecido do velho. Quando quem comandou a campanha vitoriosa do “novo” é o mesmo que sempre garantiu, enquanto lhe conveio, a manutenção do “velho” na mesma vaga... Por anos e anos... Por décadas. Quando o vice do “novo” é cônjuge de alguém das bandas do “velho” e, a “nova” cúpula do “novo” é uma espécie de ferro-velho no qual estão infiltradas quase todas as sucatas de tudo aquilo que abominamos e contra o que julgamos ter votado... Ou até votamos, equivocadamente, para dar no mesmo.

Pior do que a segunda parte de um filme de terror, é essa segunda parte ser muito parecida com a primeira, como quando escutamos velhas frases do tipo “no momento estamos arrumando a casa...”; “não esperem milagres...” ; “o povo precisa ter paciência...”. Enquanto isso, o mesmo não fazer; o nenhum sinal de mudança de postura, de novidade no transporte que continua exatamente o caos que era, tanto quanto a saúde e o abandono completo das comunidades mais afastadas, que estão na lama, na poeira, expostas a doenças advindas da falta de saneamento básico. E há um sinal ainda mais grave do mesmismo; do reflexo do “velho” no “novo”: Já existem desavenças no governo. Já há vazamentos de notícias sobre “rachas” entre prefeito e vice; membros do partido; assessorias insatisfeitas; pessoas revoltadas por causa das boquinhas prometidas e não cumpridas. Os tais compromissos de campanha.

E o povo que ouviu, dos então candidatos “da mudança”, promessas de que eles não ficariam arrumando a casa; fariam não apenas o possível, mas também o impossível; sabiam que o povo estava impaciente e tinha razão; começariam a mudar a cara da cidade desde o primeiro dia de mandato; resolveriam imediatamente o problema de transporte, agora ouve as mesmas ladainhas... vê a segunda parte da história de terror que sempre viu, vivenciou e já não suportava... Ou continua não suportando, porque já sabe que a mudança foi só de bundas no trono e nas muitas cadeiras em derredor do poder executivo (ou executor) mageense.

Será que estou errado? Pode ser que sim. E tomara que esteja. Mas se estiver, são inúmeras as pessoas que estão erradas junto comigo, porque são inúmeras as queixas. Torço pelo engano. Quero muito que tudo isto seja um equívoco em massa. Que, por exemplo, a multidão dentro dos ônibus da Rodobus, dos hospitais e postos de saúde ou nas imensas filas paralisadas no “atendimento” lá no Palácio Anchieta não estejam passando pelo que afirmam unanimemente. Queremos estar delirando enquanto Magé, ao contrário do que vemos e vivenciamos, progride oculta ou invisivelmente para os nossos olhos de pouca fé.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 09/10/2011
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