PESSOA DE VIDA DUVIDOSA

É possível alguém ser de “vida duvidosa”? É correta esta assertiva? Duvidosa em que sentido? Em todos os sentidos não seria possível!

Será que é porque alguém que taxa outrem desta forma, tendo curiosidade aguda sobre a vida alheia e gostaria muitíssimo de saber detalhes ou intimidades de certas pessoas e, não conhecendo, preferem carimbá-la de pessoa de vida duvidosa? Desde quando é correto a gente querer saber de tudo que se passa na vida de uma pessoa?

É entendimento geral e corrente entre as pessoas civilizadas que não se deve saber de todos os detalhes da vida das pessoas da família a qual se pertence (irmãos e pais), quanto mais da vida dos alheios!

Ninguém é detetive de ninguém, não estando, portanto, com o direito de denominar outrem de “vida duvidosa”, principalmente de forma genérica.

Se sobre a “vida duvidosa” os taxadores (ou carimbadores) querem se referir no sentido moral, em que sentido da moral paira tal dúvida? (Na honestidade, na sensualidade, nas relações interpessoais? Na profissional? Na sentimental? Qual?) Mas vamos ao que interessa: há comprovação? Há provas? Ou só há “sumu” (fumaça)?

Se, para alguém, uma terceira pessoa tem vida duvidosa e não se discrimina aquilo em que ela está sendo duvidosa, não prevalece a alegação, pois, como diz um adágio jurídico “alegar, sem provar, é não alegar”. É prudente deixar bem claro o que se pensa ou o que se diz sobre o caráter de alguém. Ou seja, é preciso dar nomes aos bois, para não ficar parecendo julgamento prematuro ou desfaçatez sem provas, o que cheira a deslealdade.

Acompanhando de perto os princípios bíblicos, aprendemos que algumas pessoas de “vida duvidosa” foram alcançadas pela graça de Deus, foram salvos e tiveram alguns privilégios que outros mais achegados não conquistaram. Exemplo: Raabe, a prostituta que passou a fazer parte da linhagem de Jesus (Mateus 1.5); Tamar que se fingiu de prostituta, se deitando com o próprio sogro, também passou a fazer parte da família de Jesus; Bate-Seba que adulterou com Davi e Rute, a moabita, que era por lei proibida de entrar na congregação dos justos (a Igreja do deserto dos hebreus) – uma bastarda de sentido pleno no judaismo. Os publicanos em geral, tal como o caso específico de Zaqueu que deu provas de conversão autêntica – para muitos, Zaqueu era alguém de “vida duvidosa”. No entanto, o evangelista Lucas não o denomina assim, nem mesmo como ladrão, como pensam outros. Mas o certo é que Zaqueu foi amado por Jesus e por ele transformado com apenas um contato pessoal.

Então, a gente comprova pela Bíblia que Jesus se aproximou e conviveu, com as ditas “pessoas de vida duvidosa”, mudando-as emocional e radicalmente, consertando-as de uma vez por todas, bem diferente dos preconceituosos que fogem de tais pessoas, como se existissem pessoas “melhores” do que as outras. Ou como se este tipo de pessoas aqui focalizadas tivessem uma “chaga maligna” estampada de forma visível, a ponto de fazer com que as demais “perfeitinhas”, tivessem o direito de fugir delas, como o rato foge da mulher com a vassoura!

Muniz Freire, 20 de setembro de 2005

Fernando Lúcio Júnior