A nova Caça às Bruxas

Em outras oportunidades escrevemos uma matéria em que falamos sobre a “Criação dos Demônios”, e pudemos traçar um parâmetro científico sobre como a figura malévola do diabo e seus asseclas foram criados, primeiro com as deportações babilônicas e o enfrentamento dos judeus com as religiões de Baalins e depois com o Mazdeísmo de Zaratustra com o advento da invasão de Dário da Pérsia na Babilônia. Falamos também que estes deuses pagãos foram contados entre os demônios absorvidos pelo cristianismo através da crença judaizante. E segundo que, ao chegarem os cristãos na Europa nos primeiros séculos, ao se depararem com elementais e deidades com chifres como os sátiros, faunos e deuses celtas e normandos, alguns, como no caso dos faunos com quadris de bode, apressaram-se em dar forma ao inimigo Satanás, que outrora, no Velho Testamento era somente um anjo a serviço de Deus, mas com o advento do cristianismo é demitido das hostes angelicais e encontra emprego como o demônio-mor, inimigo, dragão, tinhoso, diabo e outras nomenclaturas para o seu ofício.

Mas não quero falar sobre o pobre diabo, mesmo porque já dedicamos duas matérias teológicas vastas sobre o injustiçado personagem. Quero falar mesmo sobre a volta da Caça às Bruxas no Brasil.

Quando no século XV os europeus, principalmente portugueses, espanhóis e ingleses, mas também franceses e holandeses retomaram o comércio escravo na África sub-saariana, o Vaticano autorizou o tráfico e o tratamento desumano aos africanos através de uma Bula-Papal In-Plurimis, que decretava que “Estes selvagens pagãos não possuem alma, são animais que jamais poderão ser catequizados, como qualquer outro animal jamais poderá. Portanto a sua escravatura e tratamentos desumanos não se constituem e nem podem ou devem ser considerados pecados”.

E assim foram considerados eles animais e o que eles cultuavam demônios. E isto ficou mais ainda caracterizado com a autorização para a sua catequização no Sec. XVII, para que pudessem, por “misericórdia da Igreja” serem libertos destes “demônios”.

Se por um lado este ato acabou por precipitar a criação do nosso culto chamado de Candomblé, por outro levou este mesmo culto à clandestinidade. Principalmente no final do século XIX e começo do século XX, pois negros libertos começaram a propagar este culto e abrir casas de Candomblé.

A perseguição foi tanta que sacerdotes eram perseguidos, presos, torturados e mortos somente por praticar o culto de Orisá. Que era considerado crime de feitiçaria. De onde vem o termo “MACUMBA”. Uma flauta de bambu tocada por um menino no alto da colina para avisar que a polícia vinha chegando. Estes meninos da flauta-macumba eram chamados de “Meninos- Macumbeiros”.

No início do Sec. XX, mais precisamente em 1908, Zélio Fernadino de Moraes cria no Rio de Janeiro a Umbanda, partindo do Kardecismo que criou o paradigma da baixa evolução iluminatória dos espíritos de índios e pretos escravos.

Se a Santa Inquisição católica fez vítimas diversas pessoas que não professavam a fé romana, ou mesmo tinham origem judaica ou eram cristãos novos, na América não foi diferente, temos o episódio lamentável das Bruxas de Salém, que usaram a mesma literatura dos Católicos na Inquisição, o mítico ”Malévolus Malificae”, conhecido como “Martelo das Bruxas” para queimarem na fogueira dezenas de mulheres consideradas bruxas.

No início do Sec. XX, mais precisamente em 1908, Zélio Fernadino de Moraes cria no Rio de Janeiro a Umbanda, partindo do Kardecismo que criou o paradigma da baixa evolução iluminatória dos espíritos de índios e pretos escravos.

Com a Constituição de 1946, o Brasil decretou tardiamente a Liberdade de Culto e o seu laicismo. E assim as religiões de matriz africanas puderam então ter um pouco de paz. Mas não por muito tempo. No final do século XX o advento de novos inquisidores chamados de Neo-Petencostais reavivou o ódio e a perseguição aos cultos chamados pagãos e demoníacos, a saber, cultos de matriz africana.

Como se não bastasse todo crime bárbaro ser atribuído à malfadada “Magia-Negra”, e esta tal magia ser atribuída aos nossos cultos, estes “evangélicos” iniciaram uma tal de “Guerra Santa liderada pela pastora Valnice Milhomens. E esta guerra extemporânea já tem causado grandes problemas. Com o auxílio de uma imprensa ligada a igrejas da mesma natureza, a saber a TV Record da IURD, barracões de santo têm sido invadidos, sacerdotes presos, pejis e locais santos como roncós e camarinhas invadidos e profanados. Em completo desrespeito ao que apregoa a Constituição Federal no Artigo V- §VI – “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”.

Como se não bastassem estas ignomínias ao povo de Orisá, agora surgem no Rio de Janeiro como falamos em matéria nesta edição, Bandidos, traficantes evangélicos que estão perseguindo, agredindo e expulsando sacerdotes e praticantes de cultos de matriz africana de suas casas e suas comunidades.

Seria hilário se não fosse tão absurdo e lacônico o ponto que chegamos nesta sociedade, e na formação eclesiástica deste país. Estamos falando de quadrilhas, facções criminosas lideradas por “BANDIDOS EVANGÉLICOS” que, sob as ordens de seus pastores estão perseguindo aqueles que não professem a fé cristã.

O que está acontecendo? A que ponto chegamos? Estes “soldados do evangelho” apaniguados de pastores e líderes neo-petencostais são o maior exemplo do que temos pela frente. Pois estamos enfrentado em outra frente deputados e vereadores criando projetos de Lei para proibir o sacrifício de animais e outras práticas do nosso culto. Então o que nos resta a fazer é nos unirmos para lutar. Lutar incansavelmente pelo nosso direito de cultuar nossos deuses, nossos orisás com a nossa liturgia milenar. Chegou a hora irmãos de sermos sérios muito mais que sempre fomos. Procurarmos ser exemplos de cidadãos para darmos uma resposta à altura para estes senhores. A nossa voz tem que ser ouvida aos quatro cantos deste país.

Digamos como disse Mameto Maria Neném, fundadora da Casa Tombeicy, primeiro Inzo de culto Banto do Brasil:

CÁ TE ESPERO!

Tá Falado