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SINCRETISMO RELIGIOSO NO CANDOMBLÉ: MANIFESTAÇÃO DA IDENTIDADE DO POVO AFRICANO

Gisely Cristina Assunção

(Psicóloga, Pós Graduação em Psicanálise Clínica Avançada e Pós Graduanda em Psicologia e o Adolescente em Conflito com a Lei). 

Contato: giselyassunçãopsi@gmail.com.

 

Helena Candida Silva Vieira.

(Pedagoga e Professora de Língua Portuguesa. Pós Graduação em Língua Portuguesa). 

Contato: hecasivieira@gmail.com).

 

Marcelo Silva Matos (Professor de História)  

Contato: marcelopensador2014@gmail.com

Como citar:

VIEIRA, Helena Candida Silva; ASSUNÇÃO, Gisely Cristina; MATOS, Marcelo Silva. Sincretismo Religioso no Candomblé: Manifestação da Identidade do Povo Africano, São Paulo, 2021. Disponível no site: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-religiao-e-teologia/7769449

 

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RESUMO

A trajetória do Candomblé no Brasil tem seu marco histórico na colonização, especificamente na escravatura. Homens e mulheres negras vindos de diversas partes do continente africano se estabeleceram em senzalas e lá se reuniam para dar continuidade a sua religião: O Candomblé e, tentavam cultuar seus orixás mas, encontraram fortes barreiras porque seus senhores eram católicos e discordavam de seus rituais candomblecistas. Neste contexto histórico, os africanos encontraram no sincretismo o caminho pelo qual a prática religiosa do Candomblé fosse realizada. O Sincretismo Religioso no Candomblé surge como a manifestação da identidade do povo africano preocupando-se com o que fizeram os negros escravizados para manter sua religião em atividade.

 

INTRODUÇÃO

O eixo central é o Sincretismo Religioso no Candomblé: manifestação da identidade do povo Africano.

Sabe-se que o Candomblé no Brasil é uma das religiões de matriz africana. O sincretismo para esta religião foi estratégia dos candomblecistas, durante a escravatura para cultuar seus orixás, já que na época a religião católica era oficial e não se permitia qualquer outra manifestação religiosa. Havia perseguição e severa punição para os que insistissem em participar de qualquer culto religioso que não fosse o catolicismo.

Partindo-se deste pressuposto e sabendo que hoje o Candomblé já não é o mesmo do tempo colonial, surgem questionamentos do porquê desta mudança e quais contextos históricos foram responsáveis pelas mudanças acontecidas, neste contexto qual o significado do sincretismo para a religião do Candomblé?

Para compor este estudo fez-se necessário de modo sucinto estudar a África destacando as regiões Angola, Congo e Benin, pois dessas regiões vieram a maior parte da população de homens e mulheres negras escravizadas no Brasil. Também a trajetória histórica do Candomblé no Brasil considerando as dificuldades enfrentadas pelos escravos africanos em manter sua cultura religiosa.

Aborda-se as principais manifestações e festividades relacionadas ao Candomblé e ao universo afro-brasileiro, analisando os valores transmitidos pelas festividades e frisando o comportamento social dos participantes e os objetivos das festividades.

Discute-se como os escravos responderam às perseguições e ameaças européias e como lidaram com o racismo incluindo no estudo o processo de diáspora.

De forma mais atenta estuda-se a representação oral da língua na religião e na vida do povo africano pensando a língua como sagrada e ao mesmo tempo recurso de ensinamento de valores religiosos.

A oralidade é um marco importante dos povos africanos portanto, analisa-se a importância da musicalidade no Candomblé partindo do princípio que a música está presente nas cerimônias privadas ou públicas como elemento alicerce do ritual religioso africano.

 

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CAPÍTULO 1 - POVOS AFRICANOS QUE FORMARAM O CANDOMBLÉ NO BRASIL

A África, de acordo com Oliveira (2019 p.1) é um continente antigo e de vasta extensão que fica no centro do mundo e é banhado pelos oceanos índico e atlântico, possui uma área de 30.000.000 de km.

D”Ornelas (2013 s/p.) usando da fala de Christine Vrey expressa que ao contrário do que se pensa e se é mostrado em alguns filmes a África não é um deserto habitado por povo beduíno e por camelos. Vrey explica que “apenas as porções norte e sudoeste do continente (desertos do Saara e da Namíbia, respectivamente) são assim; a África apresenta um rico ecossistema com florestas, savanas e até montanhas onde há neve no cume”. Comenta que a maior parte da população vive em centros modernos, com lanchonetes de fast food e todas as outras construções que atendem a praça de alimentação.

Os hábitos alimentares não divergem muito, algumas refeições são específicas, por exemplo, o braai que equivale ao churrasco bem semelhante ao brasileiro. Os que optam por morar em cabanas pertencem a grupos tribais que conservam culturalmente suas construções por décadas mas, são minorias. Existem hospedarias, dezenas de hotéis que até 2013 eram em 372 prédios modernos. Há muitos idiomas usuais incluindo mais de um importado e alguns nativos. Nenhum país do continente tem menos de cinco dialetos correntes”. A África tem miscigenação de raça devido às migrações europeias.

Macedo (2008 p. 13) faz uma observação importante ao dissertar sobre o continente africano é um continente de elevado espaço geográfico onde “há milênios abriga diferentes povos e culturas”. Por considerar injusto periodizar a história da África em três períodos: pré-colonial (até o século XIX), colonial (Figueiredo (2011) faz um breve alerta sobre a ideia distorcida que a humanidade tem sobre a África como um continente em que o ambiente é dominado pela natureza e composto por leopardos, leões, macacos, elefantes barulhentos, girafas, etc. rodeado por vasta floresta, povo primitivo, pobre e doente. Essa imagem difere da realidade, o continente é “marcado pela presença e trabalhos humanos” que torna difícil a compreensão exatamente porque a representação deste continente nos filmes de safari, das reportagens em livros didáticos até mesmo os atuais trazem a ideia da África natural.

Para Pacheco (s/a) apud Macedo (2008) “A visão que temos é de que no continente africano só há fome e miséria, bichos ferozes e Tarzan e Chita.” Sabe-se que é um continente em que a diversidade é notória nos aspectos físico-morfológico, culturais, das etnias e na vegetação.

Para ilustrar essa distorção toma-se a liberdade de dissertar sobre um relato descrito pela autora D’Ornelas (2013 s/p.) sobre a jornalista da Namíbia, Christine Vrey a qual expressa revolta com o que o mundo ocidental, de acordo com ela o que o mundo ocidental sabe sobre o continente africano é “muito menos do que deveria, pecando por ignorância ou preconceito”.

 

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Completando o dissertado por D’ornelas, Macedo (2008 p. 13) relata que considera injusto que se continue pensando a África da mesma forma que se pensava durante a colonização, sugere considerar a África segundo o olhar africano e “construir o conhecimento histórico e narrar a História a partir de uma perspectiva propriamente africana”.

Bezerra (2019) explica que a África a nível mundial é o segundo continente mais populoso e o terceiro mais extenso e, possui o maior número de países, são 54 e dividem-se em cinco regiões geográficas: África Meridional (África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia, Suazilândia); África Central (Angola; Camarões, Chade, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana, República do Congo, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe); África Setentrional (Argélia, Egito, Líbia, Marrocos;,Sudão;Sudão do Sul, Tunísia); África Ocidental (Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Togo); África Oriental (Burundi, Comores, Djibuti, Eritreia, Etiópia, Madagáscar, Malawi, Maurícia, Moçambique, Quênia, Ruanda, Seychelles, Somália, Tanzânia, Uganda, Zâmbia, Zimbábue). 

Esta mesma autora relata que o continente africano, apesar de territórios não reconhecidos, abrange: Somalilândia e a República Árabe Saharaui Democrática. As regiões Angola, Congo e Benin serão destacadas neste subitem por tratar de regiões das quais foram trazidos um número expressivo de negros para servirem de escravos no Brasil. Segundo Amaral (2015) a maior parte eram oriundos da África Centro-ocidental (atual Angola).

As regiões Angola, Congo e Benin

Sobre Angola, Sousa (2002) afirma que a prática comercial em Angola contava com a comercialização de sal, tecidos, metais e produtos de origem animal, comércio este que era realizado através de troca com a adoção do nzimbu, ou seja, moeda corrente no país. De acordo com Bezerra (2019) Angola faz parte da África Central e pertence aos PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Sua capital é Luanda e possui uma extensão territorial de aproximadamente 1.246.700 km². Ainda dissertando sobre a expressividade de escravos, Sousa (2002) relata que os oriundos de Angola e Congo trabalhavam na exploração de ouro em Minas Gerais.

Quanto ao Congo (República do Congo), Bezerra (2019) afirma também fazer parte da África Central e pertencer aos PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Sua capital é Brazzaville, possuindo uma extensão territorial de aproximadamente 342.000 km². A língua utilizada nesta região é o francês e a moeda corrente no país é o Franco (CFA). Fernandes (s/a p. 1) afirma que “Congo e Benin desenvolveram-se na região Sudoeste da cidade de Ifé, atual cidade de Lagos, na Nigéria. A cidade de Ifé é considerada a “matriz”, ou a “cidade-mãe”, das civilizações do oeste africano”.

 

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Sobre Benin, Bezerra (2019) relata que está localizado na África Ocidental e tem como capital Porto Novo. Sua extensão territorial é de aproximadamente 112.620 km². A língua nativa desta região é o francês e sua moeda corrente o Franco (CFA). Cartwright (2019) ao discorrer sobre a visão geral do Reino de Benin afirma que seus. Os habitantes eram o povo “edo” cujo idioma era Kwa. Entre os séculos XIII e XIX EC era um país próspero e seu comércio era controlado por reis. Eles recebiam o título de Obá, tinham “direito divino de governar” e em suas mãos estavam o controle não só do comércio estrangeiro mas também, todos os bens de valores expressivos tais como: marfim, peles de leopardo, corais e pimentas Os reis usavam trajes específicos feitos com essas matérias primas. Marfim, coroas e colares feitos de cabeça humana com a intenção de mostrar poderio e talvez significar controle do monopólio de Obá e seu domínio na negociação comercial estrangeira. Também é costume dos reis adornos com dente de leopardo. O leopardo é considerado “Rei do Mato” e o povo não podia matá-lo, era permitido somente ao rei em um ritual de sacrifício anual em favor de sua própria honra.

 

Outros símbolos reais vistos em representações dos reis do Benin incluem um elmo com embelezamentos corais e enfeites de máscaras para ser usados na cintura, que eram brancas, uma cor simbólica da pureza do rei, e de sua contraparte na governança, Olokum, o deus do mar e fonte da riqueza e fertilidade. Assim como os deuses e os espíritos antepassados, os reis recebiam oferendas e sacrifícios, incluindo humanos, após suas mortes. (CARTWRIGHT 2019 p. 1).

 

Vários foram os reinados em Benin e cada rei com sua particularidade, Cartwright (2019) não afirmou mas, expressou que talvez o maior deles tenha sido o rei Ewuare, o Grande. Seu reinado data de 1440-1473 EC, era “um grande guerreiro e mago poderoso'', sendo considerado o governante que mais expandiu o território.

 

 

CAPÍTULO 2 SINCRETISMO RELIGIOSO NO CANDOMBLÉ: MANIFESTAÇÃO DA IDENTIDADE DO POVO AFRICANO

 

A trajetória histórica do Candomblé no Brasil

 

Para Romão (2018) o Brasil antes mesmo de receber este nome já era habitado por várias etnias. A chegada dos portugueses colonizadores fez do Brasil uma eclosão de atos violentos contra os seus habitantes naturais, os povos africanos sequestrados para mão de obras escravas sofreram e tiveram seus direitos fundamentais destruídos pelo regime da escravatura.

 

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Ao dissertar sobre a trajetória do Candomblé no Brasil vale dizer que seu marco inicial foi na colonização portuguesa, durante a escravidão vivenciada no Brasil. Homens e mulheres negras vieram de diversas partes da África para servirem de escravos nas fazendas e engenhos brasileiros. Dentre essa população, destacam-se os bantos de regiões como o Congo, Angola e Moçambique e os sudaneses da Nigéria e do Benin (iorubás ou nagôs), juntos com suas culturas, tradições, hábitos, e dialetos. Mantinham suas vestimentas e costumes alimentares. Viviam em senzalas o que proporcionou a misturar as etnias e grupos linguísticos e de alguma forma enriquecer e fortalecer ainda mais sua cultura. Procuravam conservar seus valores históricos e religiosos trazidos do continente africano, culto aos ancestrais e orixás mas, encontraram resistência à sua prática religiosa.

Segundo Romão (2018) os africanos, muito embora as severas punições das quais eram vitimados, de forma consciente ou não buscaram resolver os vários problemas do cotidiano e essa busca fez com que se familiarizassem , ao longo do tempo, com o contexto do cristianismo e por intermédio de adaptações culturais e religiosas eles viviam dois mundos distintos religiosamente.

De acordo com Santos (2018) & Barcelos (2018) inicialmente a matriz religiosa cristã católica foi a religião oficial do Brasil e por questões institucionais impunha aos que professavam outras religiões a se converterem ao cristianismo.

A forma de invocação e adoração, "transe, culto aos espíritos, manipulação de forças sobrenaturais” POSSEBON (2007) foram criticadas e até mesmo combatidas e não aceitas pela igreja católica e pelos senhores de engenhos. Os africanos eram acusados de feiticeiros, idólatras, charlatães, curandeiros, doentes e até loucos. Seus rituais e suas cerimônias religiosas foram consideradas crimes e proibidas pelas Ordenações Filipinas.

Santos (2018) & Barcelos (2018) comentam que apesar disso, as outras matrizes lutaram por conquistar sua autonomia religiosa, assim, o cristianismo não conseguiu aniquilar os outros credos como expressão cultural e social. Possebon (2007) explica que a religião dos povos africanos foi um dos mais expressivos legados nas culturas do país e, também a responsável pelas designações regionais conhecidas como Candomblé, Tambor de Mina, Xangô e Batuque.

De acordo com estas mesmas autoras, as religiões afro-brasileiras, aqui infere-se o Candomblé era entendidas como ofensiva à moral, aos bons costumes, à ordem pública e punha em risco a saúde. Em busca da preservação parcial dos rituais religiosos e para fugir das perseguições os africanos driblaram os senhores do engenho, “mascararam suas religiosidades com os panos do catolicismo” (LAMAS, 2019 p.225), fazendo a relação entre os santos venerados pelos católicos e as entidades do Candomblé estabelecendo uma espécie de correspondências entre os orixás africanos e os Santos(as) da igreja católica, um exemplo disso é que rezavam para a Santa Bárbara mas, na verdade estavam cultuando Iansã, Nossa Senhora da Conceição cultuava Iemanjá. O mesmo acontecia com os demais orixás. Como rezaram em seu dialeto era possível enganar seus senhores. Este processo é o que chamamos de sincretismo religioso.

Romão (2018) disserta que no cristianismo “parecia haver um misto de hipocrisia e perversidade: professar a religião católica e ser cristão não necessariamente eram equivalentes”. Explica que as atitudes dos cristãos são contrárias à ética religiosa cujo os mandamentos pregam o amor ao próximo, o não matar, nem cobiçar os bens, dentre outros.

 

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O fato é que os africanos lutaram para resgatar parte de seus direitos e, foram aos poucos conquistando a liberdade ao culto, muito embora, os preconceitos dos quais sofreram e continuam sofrendo desde o início de suas chegadas ao Brasil. Utilizando-se do sincretismo religioso para estas conquistas, eles estabeleceram um diálogo com o cristianismo e com os cultos indígenas tomando os mais diversos elementos místicos e formaram o Candomblé brasileiro.

Segundo Santos (2018) & Barcelos (2018) desde o descobrimento o Brasil é um país sincrético e essa afirmação está alicerçada no contexto histórico da colonização, entendida como uma (re)organização complexa de diferentes culturas étnicas, tais como europeias, africanas e ameríndias. É um dispositivo de sobrevivência, resistência e legitimação das culturas e, o sincretismo acontece exatamente na medida em que duas ou mais culturas religiosas diferentes se associam e formam uma terceira religião totalmente distintas das duas anteriores.

Os autores deste estudo comentam que o sincretismo é uma característica do povo africano, por exemplo, quando o Islã expandiu-se em algumas regiões africanas os autóctones que aderiram essa religião continuaram professando suas tradições locais já que os africanos têm facilidade de assimilar. O mesmo ocorreu com o cristianismo que na época das expansões coloniais era bastante sincrético, então, em primeira instância as tradições locais dialogavam com essas religiões.

Uma das autoras deste estudo: em uma conversa informal com o professor de Filosofia Africana, o angolano Kaendangongo (2021) o qual elenca algumas ideias que ajudam a entender a ligação entre o Brasil e a África quando falamos em Candomblé. “Para falar do Candomblé não se deve voltar para África, a palavra Candomblé é de Angola mas, o surgimento do Candomblé foi no Brasil e foi uma ponte que faz a ligação entre os africanos do Brasil com os africanos da África com a intenção de manter vivo os costumes, as tradições, a riqueza, a religião, a religiosidade e não perder sua identidade original. O Candomblé é a continuidade da cultura, das comidas, das danças, dos provérbios, da palavra e, tem de ser visto como resultante da construção do povo em permanência no país. Ao falar do sincretismo, Kaindongongo (2021) explica que foi autodefesa.

 

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O Candomblé nascido no Brasil é fruto de um sincretismo construído por africanos e seus descendentes e, pode ser interpretado de acordo com Sanchis (1997 p. 105) apud Lamas (2019) como a chave para compreender o campo religioso brasileiro e, para Bastide (1987) apud Lamas (2019) o primeiro processo de muitos outros que ocorreram no Brasil que deu origem às religiões afro-brasileira. O fato dos portugueses considerarem que os escravos (negros) eram “animais sem alma” contribuiu para o êxito do sincretismo. Os portugueses só se importavam com o corpo dos escravos e essa concepção tenha resultado na negligência da catequização desses negros. Eles eram isolados socialmente e isso, também, contribuiu para que praticassem seus cultos aos orixás africanos.

Cabe esclarecer que de acordo com Prandi (1996) apud Evaristo (2012) “até os anos 30 do século XX, as religiões negras eram consideradas étnicas ou de preservação de patrimônios culturais dos escravos e seus descendentes”.

Para esta mesma autora o surgimento das religiões brasileiras ocorreram em várias regiões do Brasil e com diferentes denominações alicerçadas nas particularidades de seus ritos. Dias (2018) relata que o Candomblé reúne milhões de adeptos e é uma das religiões africanas mais praticadas no mundo.

De acordo com Garcia (2002 p. 24) “a religião sempre foi uma das maneiras de os povos oprimidos se organizarem e manifestarem sua resistência ao sistema de opressão, seja ele cultural, religioso ou social”. Na tentativa de organizar o sincretismo no Brasil, Santos (2018) & Barcelos (2018) utilizam-se da expressão bricolagens para explicar o sincretismo cristã-africana, cristã-indígena.

Cristã-indigina é uma bricolagem que trouxe o curandeirismo místico e práticas como: terço; imposição de mãos; gestos; etc. Na bricolagem cristã-africana “acontecida sobre a égide da Igreja Católica, inicialmente legitimava a escravidão como forma de salvar a alma dos negros trazidos da África”.

 

Reviravolta no Candomblé

Para dissertar sobre o tema deste subitem faz-se necessário trazer a breve biografia da sacerdotisa do Candomblé, mãe Stella de Oxóssi.

De acordo com Vainsencher (2020) a breve biografia de Mãe Stella de Oxóssi resume-se em:

 

Maria Stella de Azevedo Santos - Iya Odé Kayode - nasceu no dia 2 de maio de 1925, na Ladeira do Ferrão, no Pelourinho, na cidade de Salvador. Seus pais se chamavam Thomazia de Azevedo e Esmeraldino Antigno dos Santos. Como ficou órfã bem cedo, ela foi adotada por uma irmã de sua mãe (Archanjá de Azevedo), que era casada com José Carlos Fernandes, um abastado tabelião, proprietário de um cartório na Bahia. Formada em enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, com especialização em Saúde Pública, Stella exerceu a profissão durante trinta anos. Ela foi iniciada no candomblé por Mãe Senhora, em setembro de 1939, quando tinha apenas catorze anos. Mãe Senhora foi a mãe religiosa de Mãe Stella e esta lhe acompanhou durante décadas, na casa-de-santo Ilê Axé Opô Afonjá, até 1967, ano em que a ialorixá faleceu.

 

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Vainsencher (2020) declara que “Mãe Stella de Oxóssi foi uma das primeiras vozes do candomblé a condenar o sincretismo”. ela se opõe a ideia sincrética de que Iansã é Santa Bárbara, o Candomblé não é seita sincrética, não aceita isso e declara que “possui parâmetros de iniciação e liturgia próprios, defendendo sua condição de religião brasileira. Mãe Stella, sacerdotisa da vanguarda é uma figura de suma importância aos estudos religiosos, ela viajou muitas vezes para a áfrica em busca de ampliar seus conhecimentos sobre a cultura africana e em especial a cultura iorubá. Fez-se em capítulos anteriores deste estudo um apanhado de informações que registram a importância da oralidade para o Candomblé, pois hoje por intermédio de Mãe Stella foi possível o registro escrito que fica como herança cultural e de alguma forma possibilita uma maior divulgação sobre os cultos africanos e da religião dos orixás, em todo país.

Esse mesmo autor relata que ela participou, na década de 1980, de congressos nacionais e internacionais. Jornais e revistas da época a entrevistaram sobre assuntos ligados aos cultos afro-brasileiros. Em toda sua vida passou dialogando com revistas, jornais sobre assuntos ligados a sua religião e sobre a cultura afro-africana. Ela escreveu artigos e publicou livros. Com co-autoria de sua filha (Cléo Martins), 1988 estreou na literatura com o livro, E daí aconteceu o encanto, nele “(re)memoriza as raízes do Opô Afonjá de suas primeiras ialorixás". A ela se conferiu muitos prêmios, homenagens e condecorações e suas ideias são respeitadas nacional e internacionalmente.

 

Tradição oral: escola da vida

 

A tradição africana, portanto, concebe a fala como um dom de Deus. Ela é ao mesmo tempo divina no sentido descendente e sagrada no sentido ascendente.

(Hampâté Bâ).

 

Quanto à representação oral da língua na religião, Silva et al (2014) traz informações importantes acerca das rezadeiras manter a tradição oral africana. Expõe a dicotomia entre a tradição oral e o baixo nível de instrução.

Bâ (1982) apud Silva et al (2014) afirma que a população de senhoras africanas participantes desta prática em sua maioria são idosas e com baixo acesso escolar embora, tenham boa oralidade adquirida por intermédio de “um aprendizado assistemático e contínuo, feito de observação, memorização, espiritualidade e repasse de sabedoria ancestral por outra rezadeira, frequentemente da mesma família ou da comunidade de pertença”.

Silva et al (2014) relata que deve-se ter o cuidado ao transmitir o ensinamento da reza à pessoa apropriada, é necessário que a aprendiz dê continuidade a transmissão deste ofício adotando inclusive uma postura ética necessária para manter o relacionamento de honestidade e cumplicidade com as clientes. Aprendizes são instruídas a manter “bons laços comunitários e doar seus conhecimentos gratuitamente, sobretudo com os poderes da fé”.

 

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Silva et al (2014) explica que na tradição africana a iniciação envolve elementos sobrenaturais da espiritualidade percebidos por intermédio de algum fato e/ou acontecimento extraordinário que podem ser revelados por sonhos ou pela descoberta do dom vinda de uma necessidade emergencial que exija uma intervenção de cura.

Para enfatizar este aprendizado Santos (2007) apud Silva et al (2014) afirma que o ofício da oralidade é adquirido no âmbito familiar com o auxílio de mães, vizinhas, tias, avós e até mesmo por vozes e visões. Na prática da oralidade africana, Silva et al (2014) explica que é “o uso da palavra em segredo, que valoriza o silêncio'' portanto, costuma-se rezar em voz baixa para não perder a magia da reza que segundo o costume local quando realizada em voz alta perde sua força. “A fala pronunciada é encantada sendo a forma, o propósito e o ritual perpassados pela fé o que fazem a transformação de elementos simples e comuns a muitos lares do interior, em força da palavra”.

Segundo Silvério (2013) a tradição oral é muito presente na cultura africana. Entende-se que essa oralidade tem mais valor que a escrita. Para ilustrar o que foi dissertado por Silvério informa-se que existem os mestre griôs que são os portadores de saberes e fazeres da cultura, esses transmitidos oralmente. Vale ressaltar que essa tradição não é particularmente do Candomblé e, sim do povo africano.

De acordo com Tavares (2019 pp. 18 e 73, 74) na tradição africana a oralidade é forte e marcante, é a principal fonte de transmissão de conhecimento, princípios e práticas religiosas. No Candomblé a oralidade é mantida em sua essência como recurso e metodologia de ensino em toda prática religiosa. E se explica “na forma como os povos de cultura tradicional se relacionam com a concepção de divindade da palavra”. Esse autor relata que:

 

A formação de conhecedores-tradicionalistas é a preparação daqueles que utilizarão a palavra em toda a sua concepção divina. A fala possui um aspecto impulsionador daquilo que se deseja realizar. A fala é a grande propulsora das relações nas sociedades africanas. Através e a partir dela que tudo é criado. A fala conserva e destrói, e, por essa razão, aqueles que são identificados como aptos a se tornarem conhecedores artesãos de palavras lidam com a fala e todas as suas potencialidades positivas e negativas, de forma a aprenderem a dominar a verbalização ( TAVARES 2019 p.74).

 

O Candomblé não tem livro litúrgico ou sagrado descrito as orientações sobre a religião ou sobre a vida dos candomblecistas, as suas tradições são repassadas do mais velho para o mais novo. A figura do mais velho é venerada, pois é ele o detentor da sabedoria e quem tem a responsabilidade de ajudar o mais novo a transmitir o sagrado. Oliveira (2019) comenta que na atualidade alguns autores indagam sobre a primazia da língua oral nos rituais do Candomblé.

 

A Musicalidade no Candomblé

Onde tem terreiro, tem festa.

Silvia Campolim (2016)

 

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Se vocês querem saber quem eu sou Eu sou a tal mineira Filha de Angola, de Queto e Nagô Não sou de brincadeira Canto pelos sete cantos Não temo quebrantos, porque eu sou guerreira Dentro do samba eu nasci, me criei, me converti, e ninguém vai tombar a minha bandeira. Bole com samba que eu caio e balanço o balaio no som dos tantãs. Rebolo que deito e que rolo e me embalo e me embolo nos balangandãs. Bambeia de lá que eu bambeio nesse bamboleio que eu sou bambambã. Que o samba não tem cambalacho, vai de em cima em baixo, pra quem é seu fã. E eu sambo pela noite inteira, até amanhã de manhã, Sou a mineira guerreira, filha de Ogum com Iansã. [parte falada] Salve Nosso Senhor Jesus Cristo - Epa, Babá Oxalá Salve São Jorge Guerreiro - Ogum, ogunhê, meu pai Salve Santa Bárbara - Eparrei, minha mãe Iansã Salve São Pedro - Kauô Kabiesile, Xangô Salve São Sebastião - Okê Arô, Oxóssi Salve Nossa Senhora da Conceição - Odô Feiaba, Yemanjá Salve Nossa Senhora da Glória - Ora Ieiê, Oxum Salve Nossa Senhora Santana - Nanã Buruquê, saluba, Vovó Salve São Lázaro - Atotô, Obaluaiê Salve São Bartolomeu - Arrobobô, Oxumaré Salve o povo da rua Salve as crianças Salve os Pretos Velhos Pai Antônio, Pai Joaquim d'Angola, Vovó Maria Conga, saravá! E salve o Rei Nagô! (ROMÃO, 2018 p. 369).

 

Romão (2018) ao analisar sincreticamente a letra da música “Guerreira” observa que as saudações são feitas aos santos católicos e em seguida aos orixás, mostrando um sincretismo religioso afro-brasileiro, na fusão cultural entre estas religiões, mescladas de origens étnico-religiosas.

Este autor relata que os adeptos à religião afro-brasileira, aqui também inclui o Candomblé aprendem as rezas e as canções fazendo associação entre a língua portuguesa e a africana. Cita que um exemplo de associação na religião católica que a muito pouco tempo atrás utilizava-se da língua latina nas realizações de suas missas.

 

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Cords & Valente (2013) em seu artigo sobre Parentesco entre a música e religião é extremamente próximo cita a frase "Música e religião têm a mesma origem" da musicóloga e psicóloga suíça, Maria Spychiger "ambas desencadeiam sentimentos difíceis de definir com palavras, têm a capacidade de provocar experiências que ultrapassam o dia a dia."

A música é forte e faz parte da oralidade do Candomblé e tem função sagrada. Cruz (2018) explica que a música é intermediadora entre o relacionamento das divindades e, é uma linguagem de privilégio no diálogo com os orixás. Ela representa uma prece.

Cords & Valente (2013) o papel que a música representa na linguagem religiosa vai desde cantatas, lamentos e júbilo ao êxtase. Heiner Gembris, especialista em psicologia musical apud Cords & Valente ,”descreve a música como bater de asas de um anjo, que nos toca e faz sentir a presença de algo maior, que nos eleva para além dos limites de nossa prisão no mundo".

A respeito da música na religião Candomblé, Candemil (2019) diz que é funcional, não há possibilidade de acontecer o ritual Candomblé sem a música, de acordo com Lody (1987) apud Candemil (2019) são diversas as funcionalidades da música, ela sustenta e faz acontecer o culto.

Para completar a dissertação de Candemil é oportuno relatar as explicações de Oliveira (2019) a respeito da função da música no ritual do Candomblé, cita que em uma reza, ou quando se faz um pedido a uma determinada entidade, quando se invoca um espírito, ou simplesmente se faz um oferenda usa-se os sons (atabaque, agogô, xequerê, adjá, batida de palmas) para as diversas expressões: agradecimentos, despedidas, oferendas, etc. Lody (1987) apud Candemil (2019) afirma que em cerimônias sociais tais como a purificação, iniciação e funeral a música tem a função especial de chamar os Orixás e favorecer a permanência deles no terreiro.

Infere-se que a musicalidade é tão presente e forte nos cultos de Candomblé que a própria cerimônia é chamada de toque. Corroborando com a dissertação anterior, Oliveira (2019) explica que o toque acontece essencialmente por intermédio da música com a função vocativa aos deuses em favor dos seus filhos (as) independente de suas necessidades, podem ser por motivo de alegria ou qualquer outra precisão. “Motivos específicos podem transformar o toque numa festa”.

Segundo Casari (2009 p. 11) apud Candemil (2019) “a música de candomblé apresenta características próprias, assim, deve ser entendida como um evento musical complexo em que fatores como mitologia, liturgia e dança são relevantes para sua compreensão”

Oliveira (2019) relata que no Candomblé o ritual e suas manifestações acontecem em torno dos atabaques, são eles que conduzem as ações realizadas do início ao fim. São instrumentos consagrados e somente os ogãs alabês podem manuseá-los. As cantigas tocadas nos atabaques são apropriadas a cada divindade e, cada ritmo está em concordância com essa divindade.

Cardoso (2006) sub relaciona os instrumentos musicais usados no candomblé em dois grupos:

Os de instrumentos de fundamento são menos usados, menos complexos e variados, simbolizam o poder da divindade e está ligado diretamente ao fenômeno possessão, eles são cinco instrumentos, o xére, um sino (sem nome específico) o arô, o cadacorô, e o adjá todos associados a divindade. Cabe esclarecer que a respeito de outros instrumentos musicais usados em rituais do Candomblé, Oliveira (2019) ressalta que o adjá é um instrumento que deve ser agitado e a intensidade da execução reproduz o som adequado para induzir o transe.

 

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Os de instrumentos quarteto sua presença é mais constante nos rituais do Candomblé, mais complexo e variado e são três atabaques, um agogô ou gã. Amaral e Silva (2010) apud Oliveira (2019) quanto aos atabaques classificam-no de acordo com seu tamanho em três: Rum – tambor maior e mais grave oferecido ao Orixá Ogun; Rumpi – tambor médio, também conhecido como Pi, oferecido à Orixá Iansã; Lé – tambor pequeno e mais agudo oferecido ao Orixá Oxalá. Lody e Sá (1989, p. 25) apud Cardoso (2006) afirmam que o Lé, também é conhecido por runlé (1989, p. 25).

Silva (2010) apud Oliveira (2019) explica que cada atabaque possui uma função rítmica, sendo a marcação gerada pelo Rum improvisando variações musicais diferentes sobre o Rumpi e o Lé “como se fossem os dedos entrelaçados das mãos”. Parés (2006) apud Oliveira (2019) informa que por intermédio de um diálogo com um ogã teve conhecimento de que cada nota musical possui uma cadência diferente, ou seja, “Nanã dança lento; Oiá, pontuado; Ogum, ligeiro ”.

As batidas dos atabaques são precisas e tudo no ritual do Candomblé acontece dependendo de três atabaques que fazem soar o toque durante o ritual também são responsáveis pela convocação dos deuses.

Lody e Sá (1989 p. 25) apud Cardoso (2006) observa que os atabaques embora instrumentos musicais eles não são simplesmente meros produtores de sons. O atabaque no terreiro sempre “ele ocupará o papel de uma divindade e, por isso, será sacralizado, alimentado, vestido; possuíra nome próprio, e apenas sacerdotes e pessoas de importância para a comunidade poderão tocá-lo e usá-lo nos rituais” (1989, p. 25).

 

CAPÍTULO 3 CANDOMBLÉ E O UNIVERSO AFRO-BRASILEIRO: MANIFESTAÇÕES FESTIVAS

 

Quem gosta de cachaça é Exu. Quem veste branco é Oxalá. Quem recebe oferendas em alguidares (vasos de cerâmica) são orixás. E quem adora os orixás são milhões de brasileiros.

Silvia Campolim (2016). (2016)

 

O psicólogo, mestre em ciências da religião e sacerdote no Candomblé Guaraci M. Santos escreveu para “Domtotal” - Revista eletrônica que para o Candomblé a festa é o momento de inter-relação entre dois mundos, o físico e o espiritual. As festividades na religião propicia encontros e reencontros, construções e reconstruções de sentidos existencial ou não, e tem importância crucial para os adeptos, porque é o momento de celebração onde há o encontro entre o homem e o divino.

 

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Campolim (2016) elucida que no calendário litúrgico do Candomblé há variação de terreiro para terreiro e não possui uma data específica para acontecer, normalmente estão relacionadas aos dias dos santos católicos. “De maneira geral, o que importa é comemorar o orixá na sua época’.

Santos (2005) relata que as festividades e manifestações religiosas estão de alguma forma ligadas ao universo afro-brasileiro como componentes importantes em que une os adeptos a população de uma forma geral (simpatizantes). O sincretismo nessas manifestações e nas do terreiro pode significar uma aproximação de ritos de outras religiões e não só do Candomblé. Abaixo lista-se algumas manifestações festivas em que o sincretismo está presente:

 

A Festa do Bonfim

É celebrada na capital baiana no mês de janeiro e associada ao Orixá Oxalá. Sodré (2021) em uma entrevista com o antropólogo e professor Vilson Caetano ao indagar qual a origem desta ligação religiosa resumidamente responde que tanto o Senhor do Bonfim como Oxalá são figuras religiosas cultuadas nas montanhas e reconhecidas como criadores dos seres vivos. Estas semelhanças permitiram o sincretismo entre as religiões.

Chartier (1990) apud Nunes Neto (2014) explica que a Festa do Senhor do Bonfim que acontece na segunda quinta-feira do mês de janeiro iniciou-se no século XVIII sendo uma forte manifestação popular de fé existente na Bahia que atrai pessoas de diversas origens, etnias, credos religiosos, classes sociais, etc..

De acordo com Hobsbawm (1997) apud Nunes Neto (2014) a origem da Festa do Senhor do Bonfim está diretamente ligada com o capitão de mar e guerra da Marinha Portuguesa Theodózio Rodrigues de Faria que em 28 de novembro de 1742 junto com sua tripulação nau Setúbal depois de enfrentarem uma tempestade conseguiram atracar em Lisboa. Ao retornar à Bahia, especificamente em sua capital, Salvador, em 18 de abril do mesmo ano, o capitão levou uma imagem Senhor Jesus do Bonfim semelhante à existente em Setúbal (Portugal) para a atual igreja da Penha. Com o intuito de continuar reverenciando e agradecendo por tê-lo permitido aportar em terra firme.

No que se refere aos participantes da Festa do Senhor do Bonfim, Nunes Neto (2014) informa que acontece com a participação de membros da irmandade Devoção do Senhor do Bonfim, autoridades eclesiásticas católicas, ekedes, ialorixás, ogãs, babalorixás e iaôs dos terreiros de Candomblé local e de outros estados, etc. No decorrer do evento há comercialização de comidas, bebidas, objetos artísticos, vestimentas e a presença de profissionais de saúde, segurança pública e imprensa.

 

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Festa de São Roque e São Lázaro

A vida de São Roque é envolta de controvérsias. De acordo com Benevides (2006) apud Bruno (2019), há incertezas, lendas, mitos e mistérios provindos do imaginário popular, nem o seu nome pode ser confirmado. Sabe-se que vem tradicionalmente da família Roch e, aportuguesado, passou a Roque (não é nome de batismo). Esse santo foi trazido para o Brasil pelos portugueses e sua origem está alicerçada no catolicismo, porém sua presença na religiosidade afro-brasileira por intermédio dos rituais do Candomblé e da Umbanda é forte, correspondendo ao Orixá Obaluaê ou Omolu. No catolicismo assimila-se São Roque a São Lázaro. A sua festa celebra-se no dia 16 de Agosto, data de seu falecimento com 32 anos. Seu pai era um mercador bem sucedido e a família fazia parte da nobreza. Lendariamente diz-se que ele tinha uma marca de nascença que era uma cruz vermelha e, logo o pré destinaram à santidade. Seu pai passou a orientá-lo a ser eclético, bondoso, protetor e religioso.

 

Fazendo-o herdeiro e administrador do Senhorio de Console, o pai lhe recomendaria estes quatro mandamentos: primeiro, será sempre e continuamente imitador de Jesus Cristo; segundo, ser caridoso e compassivo para com os pobres, as viúvas e as órfãs; terceiro, fazer bom uso da sua herança da qual será herdeiro e administrador; quarto, visitar frequentemente os lugares pios e os hospitais onde se encontram os pobres, membros sofredores de Cristo (BRUSTOLONI, 1992, p. 13 apud BRUNO, 2019 p. 62).

 

 

Segundo Bruno (2019) ficou órfão muito jovem e, um tio o educou. Estudou medicina, mas, não se sabe se concluiu seus estudos. Fazia caridade ainda na adolescência. Na maioridade doou uma pequena parte de sua fortuna ao tio, e o restante o distribuiu com infortunados. Sua trajetória de peregrinação vai até em Roma. Foi preso como espião, esquecido, abandonado e morreu na prisão. Foi reconhecido após sua morte por causa do sinal da cruz em seu peito, daí a fama de santidade, “e sua glorificação continuou crescendo com o passar do tempo, e chegou às terras brasileiras com seus primeiros povoadores em 1549, por ocasião da fundação da Cidade do Salvador na Bahia”.

A respeito de São Lázaro Viveiros (2020, p. 2) relata que era muito respeitado, de origem nobre e família religiosa. Na bíblia há histórico de ser amigo de Jesus, tinha duas irmãs e viviam em harmonia familiar. Lázaro morreu e “tamanha era a dor de Cristo em ver seu fiel amigo morto que esta é a única vez que vemos em toda história da vida do Messias a citação de que ele havia chorado”. Jesus o ressuscitou a pedido de uma de suas irmãs (Marta) após quatro dias de seu falecimento. Foi o último milagre de Jesus antes de ser capturado, levado à morte na cruz do calvário e Lázaro também foi morto por ser “prova viva da divindade de Cristo, Senhor da vida e vencedor da morte”.

 

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No Candomblé são considerados padroeiros dos enfermos e dos médicos cirurgiões, protetor dos gados e santo das enfermidades. De acordo com Santana & Ribeiro (2011) “é representado sincreticamente por Obaluaê ou Omolu, Orixá responsável tanto pela cura, quanto pela disseminação de doenças infecto-contagiosas”.

Dissertando sobre os mencionados orixás Leite (2019) faz um paralelo sincrético entre o Orixá Omolu como sendo o “Velho/Médico” e Obaluaê sendo o “Novo/Guerreiro” por vezes é confundido ou somado com os santos São Lázaro e a São Roque’.

Durante a Festa de São Roque e São Lázaro, Marinho (2017 p. 1) ressalta que é realizada a cerimônia do banho de pipoca para afastar-se de tudo o que é ruim.

Este banho é dado por babalorixás que chegam no raiar do dia e lá permanecem à espera da chegada dos fiéis. Há duas modalidades de banho: os simples são utilizados apenas pipoca; os elaborados utilizam pipoca, benzimento com arruda, pó de pemba e água de cheiro. “O valor do banho é simbólico e pode custar aquela moedinha esquecida no bolso. Todo o dinheiro arrecadado durante a celebração vai para o Olubajé, festa realizada nos terreiros de Candomblé no dia 26 de agosto, em homenagem a Omolu”.

 

A Festa de Erê

Não importa a nomenclatura do culto, a festa de Cosme e Damião (catolicismo), de Erê (Candomblé) ou qualquer outro credo religioso está envolta de fé popular, simpatias e, orações com objetivos diversificados tais como, arrumar casa para morar, proteção, prosperidade, saúde, acalmar as crianças briguentas, agradecimento pelos milagres realizados, etc.

Freitas (2021) relata que há uma cultura de entregar guloseimas, doces e brinquedos no dia de Cosme e Damião como manifestação da fé popular, acrescenta que não é só no catolicismo que este ato se realiza. Na religião católica eles são lembrados no dia 26 de setembro e nas afro-brasileiras dia 27 do mesmo mês. Nos terreiros de Candomblés a tradição é mantida e Cosme e Damião estão associados aos orixás Erês. Freitas comenta que até 1980 nas periferias de São Paulo essa tradição era forte, mais populares e hoje já não é tão especial como antes, isto se deve a expansão dos evangélicos (neopentecostais) estabelecidos nas periferias de São Paulo que “fez com que essa manifestação que tem forte ligação com a matriz africana escasseassem como manifestação popular, ficando restritas aos terreiros". Este mesmo autor enfoca que Cosme e Damião nasceram no século IV na Arábia e na Síria estudaram medicina e aliaram o conhecimento com a fé (dom profético de cura), os doentes em situação avançada para quase morte eram por eles curados e este fato era visto como milagres. Não cobravam pelos milagres realizados. A data que a igreja católica instituiu para se lembrar destes santos está diretamente ligada à inauguração da basílica dedicada a eles em Roma. E as distribuições de doces foi a maneira encontrada dos fiéis pagarem promessas.

 

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Costa (2021) acrescenta que nas religiões afro-africanas, aqui destaca o Candomblé os pedidos são realizados aos Erês, entidades espirituais do bem e puras, não admitem a mentira, nem a maldade, à eles está conferida a responsabilidade de ajudar na evolução dos médiuns, passando a mensagem de que o caminho para “vida vantajosa” é ser puro como uma criança, reforça a natureza ingênua das pessoas. No terreiro de Candomblé, a festa é celebrada com fartura, alegria, doces, bolos, frutas, enfeites coloridos, e o tradicional caruru “tudo organizado com muito axé e seguindo o rito da espiritualidade”.

 

A Festa das Yabás: Oxum, Iansã, Nanã e Iemanjá.

Araújo (2017) explica que “a palavra Yabá quer dizer Mãe Rainha” e que na cultura africana cultua-se apenas Iemanjá e Oxum como yabás, enquanto no Brasil este culto estende-se a outros Orixás femininos.

Segundo Maia (2011) a festa é comemorada no dia 13 de dezembro. E Machado (2019) complementa relatando que a celebração está ligada à cultura de ancestrais, é uma mistura do Candomblé e do catolicismo.

Para falar com propriedade desta festa Maia (2011) assistiu a convite de uma filha de santo “A Festa das Yabás", que aconteceu em um espaço cultural religioso o qual não foi citado em sua pesquisa. Foi uma observação empírica objetivando os detalhes do evento: canto; orações; comidas típicas; e bebidas; etc. Observou que é perceptível o sincretismo religioso nesta festa, reúne pessoas de diferentes, classes sociais e etnias, portanto desmistifica a história de que só pobres, negros e pessoas má intencionadas participam destas festas afro-religiosas.

Araújo (2017) explica que há sincretismo entre as yabás e santas da igreja católica. Carybé (1979) apud Gomes et al (2015) amplia este sincretismo afirmando que Oxum relaciona-se a diversas santas do catolicismo conforme citação abaixo,

 

Oxum é sincretizada com diversas Nossas Senhoras, na Bahia, ela é tida como Nossa Senhora das Candeias ou dos Prazeres. No Sul do Brasil, é muitas vezes sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, enquanto no Centro-Oeste e Sudeste é associada ora à denominação de Nossa Senhora, ora com Nossa Senhora da Conceição Aparecida. (CARYBÉ, 1979 apud Gomes et al, 2015).

 

Segundo Veloso (2019) a santa Nossa Senhora Aparecida é adorada pelos católicos e reverenciada pelos adeptos de Candomblé como Oxum a deusa do amor, Orixá das águas doces. Em várias situações da vida ela é intercessora pelos seres humanos, mantém equilibrada as “emoções da fecundidade e natureza”, representa a delicadeza das mulheres. É mãe dos antigos e dos novos.

Mendonça (2011) ressalta que no Brasil esta santa é padroeira de muitos Estados e cidades e é conhecida por Imaculada Conceição de Maria, a virgem Maria, Maria Santíssima, Virgem da Conceição.

 

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Em relação aos orixás femininos citados no segundo parágrafo deste subitem, cabe dissertar sobre Iansã, Araújo (2017) afirma que Iansã quer dizer “mãe de nove filhos” e Machado (2019) complementa que é considerada uma Orixá guerreira, rainha dos ventos. No sincretismo religioso passa a ser Santa Bárbara, venerada e cultuada no catolicismo há mais de 300 anos.

Mendonça (2011) aponta que o historiador Jaime Nascimento diz que há sincretismo também nas iguarias. Muitas espécies de comidas tomam sentido cultural mais que ritual, pois a diversidade relaciona-se com os diferentes orixás e complementa, o historiador que “a comida oferecida aos orixás se torna referência aos santos católicos".

Araújo (2017) relata que Nanã é considerada a avó dos orixás. “Senhora dos pântanos, da lama e dos manguezais” também está ligada à fertilidade. Juntamente com Oxalá criou o mundo emprestando-lhe o barro, entretanto havia uma condição, no momento da morte aquele ser vivo que fora criado deveria ser “devolvido aos seus domínios”, retornando ao barro sagrado. No sincretismo está relacionada a Santa Ana. Frazão (2020) afirma que Santa Ana no catolicismo é conhecida como avó de Jesus. É tida como “a padroeira das mulheres casadas, especialmente as grávidas, tornando seus partos rápidos e bem sucedidos”.

Araújo (2017) menciona que um dos Orixás mais idolatrados no Brasil é Iemanjá, considerada senhora das águas salgadas, mãe de todos. É chamada de “Yiá Ori” que significa “mãe de todas as cabeças”. Sincreticamente se relaciona com Nossa Senhora dos Navegantes.

Salata (2020) relata que Nossa Senhora dos Navegantes “era considerada Santa Protetora das tempestades e dos perigos constantes do mar, a Padroeira não só dos navegantes, mas também de todos os viajantes”.

 

Quaresma:

Falar da quaresma nos remete a uma comemoração sagrada realizada no catolicismo em que a festividade vem acompanhada por penitências, abstinências, meditações, sacrifícios, peregrinações e conversão. Conservado pela igreja católica até os dias de hoje como forma de manter a tradição popular. No calendário litúrgico da igreja católica é o período de quarenta dias antes da chegada da Páscoa. É a preparação para a semana Santa.

É oportuno neste subitem esclarecer de acordo com Ramos (2021) no calendário do Candomblé a Quaresma propriamente dita não aparece em manifestações festivas do povo candomblecista. O que se encontra de registro sobre a festividade que coincide com a Quaresma católica no Candomblé é o fechamento temporário dos terreiros, realiza a festa Olorogun ou Lorogun, em homenagem a Oxalá, trata-se de uma cerimônia de celebração que “marca um tempo de pausa encerrando um ciclo e o começo de outro”. Não são todos os terreiros que fazem este ritual.

 

 

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CONCLUSÃO

Fica entendido que a ideia inicial trazida do continente africano é distorcida e muito diferente da realidade, é notória a diversidade nos aspectos físico morfológico das etnias deste continente, ao contrário do que se pensa a população vive em centros modernos parecidos com os existentes no Brasil. Há os que optam por morar em cabanas e conservam suas construções culturais, mas é uma minoria. Há hotéis com prédios modernos e a mistura de muitos idiomas em quase todos os países têm em média até cinco dialetos. Há a miscigenação de raças explicadas pela migração europeia e é um continente espaçoso geograficamente e abriga diferentes povos e culturas. A África é o segundo continente mais populoso e o terceiro mais extenso mundialmente e o que possui o maior número de países.

Os negros e negras trazidos para o Brasil colonial em sua maioria eram das regiões de Angola, Congo e Benin vieram à força e tiveram sua vida, cultura e política ceifadas pelos portugueses, perderam o direito ao estabelecimento de sua cultura religiosa e foram obrigados a obediência e conversão ao catolicismo. Mas, os africanos não se calaram, lutaram contra essas imposições e conseguiram traçar um plano estratégico: o Sincretismo e escaparam das perseguições, mas não do preconceito. Os africanos retomam todos os elementos de sua identidade: valores socioculturais, tradições, comidas, crenças, discursos orais, musicalidade, festas etc Nasceu o Candomblé no Brasil e apesar da trajetória sofrida e da insistência do racismo e do preconceito, é a religião que tem o maior número de adeptos no mundo.

Ao final, percebeu-se que com este trabalho não se esgotou o assunto, ao contrário abriu-se um leque de ideias pertinentes e ligadas à temática aqui apresentada propondo diferentes leituras e olhares atentos para a complexidade do tema abordado. Contribuiu e, sugere novas contribuições.

 

 

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