Tem gente que ouve a expressão INDIGENTE como sendo uma coisa distante da sua realidade. E de fato é. Do ponto de vista idiomático indigente significa "adjetivo e substantivo de dois gêneros que ou aquele que vive em indigência, sem condições de suprir suas próprias necessidades; miserável, necessitado, pobre". Só que essa palavra ficou estabelecida no universo da saúde antes do SUS. Só quem tinha acesso a saúde eram os trabalhadores que recolhiam ao INPS (no âmbito Federal) ou ao IPSEP (no Estado de Pernambuo). Aqueles que não tinham carteira assinada nem recolhiam para o Estado (nessa época não havia previdência nos municípios como hoje) ou para o governo Federal estavam lascados. Entravam na categoria de INDIGENTE. Quem era indigente só poderia ser atendido no SANCHO (hoje Otávio de Freitas) e, muitas vezes morriam feito cachorro mago nas suas dependências. Portanto, in-digente é uma negação de gente, quero dizer, não era gente. Depois do SUS isso foi banido da nossa realidade e ainda tem gente metendo o pau nele. Claro que tem problemas, mas todos tem atendimento garantido mais cedo ou mais tarde e de forma igual. Ariano Suassuna já foi operado pelo SUS no Hospital Barão de Lucena. Ele sabia que era um direito seu e foi buscar e se operou, embora os médicos e os enfermeiros sequer lhe reconheceram, exceto na saída. Ele fez um lançamento de livro e todos ficaram perplexos e eu nunca mais me esqueci disso. 

Carlos Sena - Buscando a Indigência.