A PROCURADORA E OS ESCRAVOS ADOTIVOS

O caso da procuradora aposentada de justiça, que foi indiciada por tortura e racismo contra uma criança que seria adotada por ela, faz repensar um dos critérios mais observados para a concessão de adoção, que é a condição socioeconômica. É certo que a procuradora teve prioridade, com base neste quesito, se havia na fila para a adoção dessa mesma criança possíveis casais bem mais modestos, cujos maridos fôssem pedreiros, e suas esposas, donas-de-casa sem grande preparo intelectual. Ambos, no entanto, dotados de um amor, com toda a simplicidade, capaz de fazer um filho adotivo se sentir legítimo.

São muitos os equívocos cometidos pela justiça em suas diferentes instâncias, baseados em status e até mesmo aparências, quando não em outros critérios mais lamentáveis, que já descambam para o terreno da corrupão e do tráfico de influências. Não vai aqui uma acusação aos que julgaram as condições de adoção da menor pela promotora, mas, no mínimo, a condição socioeconômica tranquilizou a justiça e propiciou que se pulassem algumas etapas do processo. Foi talvez a tranquilidade gerada por esse aspecto que "baixou a guarda" e diminuiu a rigidez que um processo dessa natureza exige e quase sempre é cumprida.

Se há vara judicial competente e séria no Brasil, é a da infânca e adolescência, em suas distribuições ou departamentos. Mas há falhas, e creio ter havido nesse caso. Uma avaliação psicológica mais profunda seria capaz de apontar o descontrole emocional e o preconceito da procuradora. Sua incondição humana e psíquica de cuidar de uma criança. Os pedreiros fictícios e esposas, dos quais tratamos linhas atrás, seriam avaliados como o caso exige, e ainda que fôssem reconhecidos humanamente capazes, difilmente conseguiriam adotar, por questões de cultura, padrão econômico e outos obstáculos cavados pela desconfiança do judiciário.

Imagino quanta "gente boa", dotada de todos os quesitos materiais que agradam a justiça já conseguiu adotar crianças, tendo as mesmas intenções notórias da promotora: Ter contra quem exercer sua tirania; vingar-se da solidão e das frustrações pessoais, apesar do sucesso profissional. Criar, talvez, alguém que lhe sirva como escravo, de alguma natureza, em um tempo premeditado. Tudo, porque o "abre alas" socioeconômico se interpôs e tornou "menos necessárias" as outras exigências tão ou mais importantes do que essa. Faltou profundidade de critérios.

Tudo isso, repito, apesar de a justiça deste país, voltada para o menor, ser uma das mais responsáveis e rígidas, quando atua... isso; quanto atua, porque o grande número de crianças abandonadas, em situação de risco e marginalidade, vistas país adentro, mostra que não existe um grande número de atuações neste campo. Uma pena, porque o preço posterior é um grande número de autuações... E aí já é tarde, pois os monstros estão criados.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 30/04/2010
Reeditado em 03/05/2010
Código do texto: T2228614
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