JUSTIÇA BRASILEIRA ESTÁ PROGREDINDO
O goleiro está preso. Emaranhou-se nas redes da polícia, nas da justiça, logo depois, e não teve como escapar. Sofreu esse gol, do qual duvidava, por achar que venceria qualquer partida, fizesse o que fizesse. Apostou demais na regra e desprezou a exceção, no campo das injustiças de um país que às vezes acerta o chute.
Banhadas antes, de glória, suas mãos estão manchadas de sangue. Quem foi um herói no imaginário das multidões, pelas defesas e vitórias inesquecíveis, deixou de ser visto assim. Uma vítima indefesa mostrou com a própria morte o vilão escondido naquela máscara equivocadamente amada.
Hoje, na cama de uma cadeia, o goleiro sonha com o brilho dos holofotes, o aplauso popular e as conquistas pessoais. O que ninguém sabe, no entanto é se ainda assim ele mede o peso do seu ato e se tal peso machuca sua consciência, caso lhe reste alguma.
Nem há como afirmar se o goleiro sofre. Creio ser impossível compreender o coração de um monstro. Pessoas normais têm um coração simbólico, afetivo, permeado por emoções fortes, contraditórias até, mas que não levam a cometer crimes. Monstros, não se sabe. Devem ter somente o músculo, com funções anatômicas específicas.
Fato mesmo é que dessa vez, como dificilmente ocorre, a justiça chutou forte contra um ídolo. Nenhum juiz criou impedimento, a torcida reconheceu e a mídia fez coro ao resultado. É fato que o goleiro tentou de todas as formas agarrar chance da impunidade, mas falhou. Deu no que chamam de frango, no futebol.
Sempre que a justiça é feita numa questão que se torna pública, o grande vencedor é a sociedade. Sabemos que tudo isso não devolve à vítima o dom da vida, mas não deixa de ser uma esperança de melhores tempos.
É certo que a guerra continua. Que o bem prossegue lutando contra o mal, sempre mais amplo e numeroso. O cidadão brasileiro ainda está longe de se sentir satisfeito com o placar. Mesmo assim, reconheçamos que o antes impossível já é visto ocasionalmente neste país. A justiça tem punido alguns culpados ricos e poderosos.