PELO HÁBITO DO PROTESTO
A onda de manifestações reivindicatórias que tomaram conta do Brasil, inicialmente por causa de majoração das tarifas de ônibus, depois por causa do custo de vida e da corrupção política entre outros itens, é o que se vê de mais bonito e simbólico nestes últimos anos de muito silêncio. Silêncio de um povo desencantado com tanta injustiça e tanta falta de a quem recorrer, mas também de um poder público podre, sem escrúpulo e totalmente venal, em todas as esferas. Um poder que não tem o que mostrar, muito menos dizer, de proveitoso e confiável.
Apesar dos atos de vandalismo (tão lamentáveis quanto o vandalismo ideológico, econômico e traiçoeiro que os poderes executivo, judiciário e parlamentar cometem diuturnamente contra a população), essa onda precisa virar costume. Ser mais do que uma onda. Temos que adquirir o hábito de reclamar da injustiça, da corrupção, da inflação, o desemprego e tudo que nos revolta. E temos que fazer isso de formas eficientes: com manifestações populares, publicações em pequenas e grandes mídias, cartazes e placas pela cidade... e se a imprensa não quiser nos apoiar, então protestemos contra a imprensa, de tal forma que o nosso poder de grito alcance proporções que assustem os empresários da comunicação e os jornalistas que a compõem.
Não caiamos nas armadilhas montadas para que a sociedade critique a crítica ou se manifeste contra as manifestações, desacreditando a si mesma. São armadilhas de políticos partidários que às vezes articulam as reações adversas para posarem de vítimas do povo, quando na verdade, o povo é sempre a vítima... os algozes são eles. Nem caiamos nas armadilhas dos que tentam nos desarmar com elogios, como fez a presidente Dilma. Como fizeram tantos outros, visando acalmar os ânimos... os bons ânimos da massa que achou a voz e deixou de ser ovelha.
Protestemos contra os políticos, mas também contra os empresários de má fé. Contra o mau atendimento nos serviços público e privado. Contra tudo que nos indigna, constrange ou massacra de alguma forma. Só não sejamos injustos ao protestar. Nem usemos a nossa voz para gritar em vão e cometer velhos atos que depois se voltem contra nós mesmos. Em suma, não imitemos essas figuras ou entidades contra quem protestamos neste momento, por nos fazerem sofrer desde sempre.