Só nos Resta a Saudade
                                             A Alexandre Gonçalves Borges
                                                 (04.05.64 - 09.02.99)

 
   Não quero particularizar a dor, mas refletir um pouco sobre ela. A violência urbana ou violência nossa de cada dia tem tirado de nós, aprutamente, nossos filhos, pais, irmãos, amigos numa infindável sucessão de dor e lágrimas. Sem aviso ou permissão para a honrosa defesa de nossas vidas, somos, por decisão unilateral de nossos algozes, mortos de forma fria, covarde na insensível selva de pedra urbana. Incompreensível é a inspiração e mais ainda a futilidade que determina quem deve morrer e quando.Temos como certeza única a morte, mas queremos ter a certeza da vida, embora sabendo difícil os seus caminhos, a aventura de percorrê-los. 
   Nascemos, crescemos e vivemos na esperança de que cada um de nós possa realizar em si, ainda que imperfeitamente, o amor, a verdade, a beleza e a justiça, apesar de os nossos olhos estarem se fechando para a alegria, mortos pela dor e o nunca mais. Só conseguimos verdadeiramente ser, quando somos efetivamente ser para outro. A ética nos ensina que o homem é um ser-para-si sem deixar de ser um ser-para-o-outro, o homem é ser-para-o-outro sem deixar de ser para-si. 
   Os olhos da humanidade tê-se fechado para a conquista verdadeira do amor incondicional, que traz em si o milagre da vida, que é feito da paz, em nós e no mundo. "O inferno são os outros", já dizia Sartre. 
   Temos, entretanto.que dar um "berro e um basta" a tudo que seja separação, cisão, e olhar o mundo, a Natureza e cada um de nós como seres necessários únicos, que transformaram a vida e dão significado ao seu tempo.
   A dor não pode e não deve ser mais o ponto de encontro, de união e reunião de nossos sofrimentos e mazelas humanas – aquele lugar onde todos são iguais. Não percebemos ainda, caminhantes de um novo milênio, que não existe vitória unicamente individudual – somos seres históricos, inexistimos como biografia pura. Hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje, devemos curar a nossa egolatria, afastar-nos de nosso egoísmo e caminhar sem medo e culpa os caminhos do mundo, que nos são emrestados para a realização de nosso ser e felicidade temporal. 
   O nosso ato de pensar, de querer, de desejar, de amar, de senir e de criar deve buscar e encontrar sempre o outro, contempoâneo nosso que também necessita de trabalho, moradia, educação e saúde, e que também quer, ele próprio ser coadjuvante na construção de seu tempo e do mundo.
   Chega de dor, chega de lágrimas e lares destroçados pela  fúria homicida de uns. Não queremos mais ver o sangue daqueles que amamos e o nosso próprio ser um número a mais nas estaísticas policiais, um troféu nos índices da criminalidade nacional.
   Quem sabe um dia possamos reconhecer e aceitar da filosofia sua autoridade de Mãe e Mestra, e substituir o atual "Matai-vos uns aos outros" pelo mandamento básico: "Amai-vos uns aos outros".



 
RG
Enviado por RG em 08/09/2013
Código do texto: T4472432
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.