DEVAGAR COM O ANDOR. O SANTO É DE BARRO. FÉLIX É FICÇÃO.
Já vai começar! Este aviso, talvez tenha sido ouvido por quase a totalidade das famílias brasileiras, nesta sexta feira, dia 31 de janeiro do ano de dois mil e quatorze. E reunidas frente à TV, todas esperaram o final de mais uma trama global do horário nobre. Dessa vez, não esperamos apenas mais um final feliz para os do bem e um final dramático para os da linha do mal. No fundo esperamos todos, aquilo que a rede globo vem sonhando nestes últimos tempos: O beijo entre dois homens.
Eu sempre gostei de assistir ao humano. Esquecer que faço parte desse humano e imaginar-me fora como mero espectador. È um exercício que aprendi de muito cedo. Confesso que as coisas se tornam mais fáceis de entender. Mas mesmo assim, não serei hipócrita e dissimulado em dizer que a cena, embora tenha visto apenas pela web, não me chocou. Não avançamos tanto assim como se apregoa aos quatro ventos. Em dois mil e cinco em um texto (SAGA) do livro de minha autoria DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA na página sessenta e nove, assim escrevi:
DE OLHO NA TV QUE NADA VÊ
QUE NÃO VÊ QUE A MESA FARTA DA FICÇÃO É UMA AFRONTA
QUE NÃO VÊ QUE O SANTO É DE BARRO
QUE NÃO ANDA DEVAGAR COM O ANDOR
QUE NÃO VÊ
QUE DESDE A BARRIGA MEU IRMÃO
APRENDEU QUE MULHER COM MULHER
VIRA JACARÉ
E HOMEM COM HOMEM VIRA LOBISOMEM.
Tenho convivido, trabalhado e gozo da amizade de quase uma dezena de homossexuais, corajosamente assumidos. Por gostar de não apenas viver o humano, eu descobri grandes personalidades como também personalidades medíocres, como em qualquer outro grupo. Suas opções sexuais, religiosas, partidárias e outras, não maculam sua qualidade e personalidades de humano. Sim! Mas são homens e mulheres que tem apenas suas opções sexuais diferentes da minha e da sua. Não são Félix(s)! Terminantemente não são Félix(s)! Ou a globo quis rotular ou associar o maucaratismo ao homossexualismo?
É! Realmente a Globo não anda devagar com o andor e não percebe que o santo é de barro. Coloca os que ainda resistem à nova realidade como preconceituosos, ultrapassados, machões... E isso é prestar um enorme desserviço aos homossexuais. Que como negros, pobres, nordestinos, mulheres e outros tem ainda uma enorme luta pela frente. E conquista não é imposição. Pensando assim, todos os homossexuais odiariam o grande e velho Lua, nosso Luiz Gonzaga, rei do baião que um dia nos embalou ao som de músicas como aquela que diz:
“Atenção senhores cabeludos
Aqui vai o desabafo de um quadradão
Cabra do cabelo grande
Cinturinha de pilão
Calça justa bem cintada
Costeleta bem fechada
Salto alto, fivelão
Cabra que usa pulseira
No pescoço medalhão
Cabra com esse jeitinho
No sertão de meu padrinho
Cabra assim não tem vez não
Não tem vez não
Não tem vez não”
Deu pra entender?