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Prefácio do meu segundo livro MEU PEDAÇO DE CHÃO E MINHAS ANDANÇAS Lançado no final do ano de 2007.
Este foi escrito por FERRER FREITAS. Escritor, como eu natural de Oeiras. A crônica LEMBRANÇAS E SAUDADES escrevi em sua homenagem.



JOTA JOTA É DEMAIS!

Coloca-me o autor destes escritos (não sei se crônicas, contos ou, em alguns casos, poemas em prosa) em uma "camisa de onze varas", expressão antiga que mestre Aurélio registra como "dificuldade extrema em que alguém se mete e da qual é difícil ou impossível sair", qual seja a de prefaciá-los. Lei-os, embevecido, e falo para os meus botões, embora eles nada respondam: como escreve esse cara! Que percepção incrível de coisas que acontecem, e poucos se dão conta, mesmo vivenciando-as como ele. Chico, o Buarque, disse: -saiba que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão.- Pois Jota Jota consegue perceber, nesta Teresina que lhe foi imposta para morar, em uma ante-sala de consultório médico, a aflição de uma velha senhora interiorana ao saber que não será atendida pelo médico, mesmo vindo de tão longe. A criança que dorme na calçada e atrapalha a transeunte que precisa esticar a perna, entediada, para transpô-la. O papo da televisão, de elogios mútuos entre apresentador e entrevistado. Tudo lhe causa profunda indignação que, com certeza, será repassada ao leitor.
Os textos com tipos oeirenses, então, são primorosos. Falar de Indé, Maria de Cota, Raimundinho de Zefinha, Coló, Zé Pangula e outros, tanto dá pra rir quanto pra chorar. Na pequena crônica intitulada Cota de Amor ele diz tudo da caridosíssima Maria de Cota, uma espécie de Madre Teresa de Calcutá de Oeiras. Um moleque , com sua tchiurma , ao passar em frente à residência da pequena Maria, hoje passando dos noventa, depara-se com um caixão, na sala, tendo dentro um defunto, ou defunta, sem uma única pessoa velando, o que o faz gritar, com espanto: -Acho que Maria de Cota morreu!- Aí, para alívio de todos, aparece Maria, um terço entre os dedos, e lhes explica tratar-se de um pobre homem de ?um interior vizinho que estava internado no hospital e morreu. Como ele não tem ninguém por aqui, eu trouxe para velar em minha casa.- Meu Deus!, só Maria de Cota mesmo para um gesto desses, digo eu.
Já a crônica A Grande Parada tem como personagem Coló, que passeia sua loucura pelas ruas de Oeiras e, quando provocada, solta o verbo recheado de palavrões. Só que no livro aparece uma Coló mansa, que dança entre seus cachorros ao ser acordada, por uma música antiga, de soneca no adro da Conceição. E o autor consegue ver que os vira-latas da doida parecem querer dançar com ela. É demais!
Neste seu segundo livro, MEU PEDAÇO DE CHÃO, MINHAS ANDANÇAS, Jota Jota segue o mesmo roteiro do primeiro, DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA. Só que não fica restrito a Oeiras, e o título diz. Muita imaginação, um certo lirismo, sem descambar para o pieguismo, e a capacidade perceptiva inimaginável, se não for exagero de minha parte. De qualquer modo, os leitores desta obra irão conferir tudo. É só deixar de lado, rápido, estas minhas pobres palavras e mergulhar na leitura.

Teresina, outubro de 2007
Ferrer Freitas