UMA BREVE HISTÓRIA DA LOUCURA

“Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de entendê-lo, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo” (Jostein Gaarder).

Apesar dos avanços tecnológicos pelos quais passamos ao decorrer dos séculos, o cérebro humano ainda continua a ser um grande mistério, estima-se que 80% do que se conhece sobre o cérebro humano, foi descoberto nos últimos 30 anos. Algo que vem a mostrar como a medicina ainda engatinha quando se trata desse pequeno órgão de apenas 1,5kg mas que possui uma rede de ligações tão complexas e organizadas, que nenhum sistema elétrico no mundo, por melhor que seja, é capaz de reproduzir.

E não só em sua estrutura física, mas os estudos psíquicos a respeito do cérebro humano ainda de certa forma são muito recentes, pois começaram a ser estudados de forma sucinta há apenas um século e meio atrás de modo que os transtornos psíquicos fornecem ainda um leque de possibilidades sobre temas de certa forma ainda incompreendidos e que precisam ser investigados.

Em tempos remotos, especificamente no período mesolítico, alguns transtornos mentais eram vistos como possessões por maus espirito de modo que muitos de seus portadores tinham o crânio perfurado para que esses espíritos saíssem. Essa é considerada a primeira cirurgia da história conhecida como trepanação.

Na Idade Antiga, os transtornos mentais eram vistos ou como dádiva dos deuses ou como possessão de maus espíritos de modo que algumas dessas pessoas acabavam sendo segregadas da sociedade. Com a teoria hipocrática dos quatro humores, alguns transtornos mentais acabavam sendo enquadradas de acordo com o humor que estava em excesso no seu corpo.

Na Idade Média os transtornos mentais eram encarados como sendo desencadeados por possessão demoníaca, sendo alguns associados a demônios específicos, como na Inglaterra, onde a depressão era supostamente desencadeada pelos blues devius (demônios azuis). Algumas dessas pessoas ou eram queimadas em fogueiras ou eram torturadas até a morte.

Esse mito continua até durante a Idade Moderna onde a Igreja publica em 1485 o livro Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas), no qual feiticeiras são consideradas como inimigas e deveriam ser presas, julgadas, torturadas e mortas. Porém em 1563 o médico alemão Johann Weyer publicou o livro De Praestigiis Daemonius (Sobre Bruxarias) onde defendia que as mulheres consideradas bruxas eram apenas cidadãs ignorantes e que haviam perdido o controle emocional, isso numa época em que perturbações e calamidades eram até um fenômeno compreensível. Apesar da caça a bruxas ter continuado até meados de 1600 o livro de Weyer acabou sendo uma grande contribuição para a psiquiatria, que se desenvolveria como ciência séculos depois.

Com o surgimento dos primeiros hospitais psiquiátricos, muitos dos portadores de transtornos mentais eram deixados lá, onde o tratamento do mentalmente insano era algo muito bárbaro. Nesses hospitais, doentes enfurecidos eram exibidos em jaulas ou presos ao chão por correntes. Foi nesse contexto que surgiu o Dr. Philippe Phinel, um médico francês que resolveu lutar contra tal situação e passou a se dedicar ao estudo da insanidade e a melhora do estado de suas vitimas.

Com o advento da Revolução Francesa, se procurou humanizar mais os hospitais psiquiátricos onde Phinel conseguiu impor suas ideias e libertar muitos dos enfermos que estavam presos em jaulas e correntes, onde muitos depois de receberem tratamento atencioso, deixavam de ser rebeldes e desordeiros. Por isso Phinel é considerado como o pai da psiquiatria.

MANICÔMIOS, UMA TRISTE HISTÓRIA:

"Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti, 1949)

Acredita-se que o ato de tirar portadores do convívio da sociedade, surgiu com a medicina árabe, e foi adotada pelos europeus quando os árabes invadiram a Península Ibérica, e como foi relatado, muitos horrores como encarceramentos em jaulas aconteciam com os presos.

Mesmo com as reformas implantadas por Phinel, considerado o primeiro a aplicar uma medicina manicomial, os manicômios acabavam sendo mais um lugar de tortura do que de abrigo onde muitos dos pacientes eram tratados com choques sem nenhum tipo de anestésico para saírem de seu estado de “alienação”.

Não apenas os choques, mas eram comuns outras praticas como sangria, isolamento em quartos escuros, banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.

LOBOTOMIA, A CIRURGIA TIDA COMO SUPOSTA CURA PARA A ESQUIZOFRENIA:

Essa cirurgia consiste na destruição das vias que ligam o lobo frontal ao tálamo, foi uma cirurgia cuja técnica foi desenvolvida pelo médico português e ganhador do premio nobel da medicia Dr. Antonio Egas Muniz, e foi vista como muitos como uma alternativa para tratar transtornos mentais, entre eles a esquizofrenia.

Essa cirurgia era realizada em muitos manicômios, onde um pequeno gancho era inserido na órbita superior do paciente, e com o gancho se destruíam as vias de ligação do lobo frontal, tudo sem anestesia. Todos os pacientes que passavam por essa cirurgia, mesmo aparentando certa melhora, suas vidas estavam fadadas ao fracasso.

Nos EUA o Dr. Walter Freeman era um grande defensor dessa técnica cirúrgica, onde ele adaptou o procedimento com um picador de gelo e chegou até a criar um veículo adaptado para a realização dessa pratica conhecido como o lobotomóvel, no qual ele viajou todo o país propagando a sua técnica. Certa vez Freeman chegou a realizar 25 cirurgias em um único dia. A paciente mais famosa de Freeman foi Rosemary Kennedy, irmã do ex presidente John Kennedy, porém depois que ela passou por essa cirurgia, ficou invalida até o fim de sua vida.

Com o advento da farmacologia, a lobotomia entrou em desuso para tratamento de Transtornos Psiquiatricos, mas ela ainda é usada em alguns casos de câncer no lobo frontal, para a destruição da área afetada pelo tumor.

Porém hoje em dia existe uma luta para humanizar portadores de transtornos mentais e também vem ocorrendo o fechamento de muitos manicômios mundo afora, no qual a primeira cidade do mundo a extinguir seus manicômios foi Trieste na Itália em 1973. Futuramente os manicômios permanecerão apenas como uma mancha negra na história da humanidade, a mancha de uma história de segregação e, de uma certa forma, animalização de pessoas apenas pela sua condição mental. Mas que essa mancha sirva de exemplo daquilo que não deve ser repetido jamais a outras pessoas de modo que a sociedade passe a ser conscientizada de forma a construir uma sociedade mais justa e humana, no fim das contas, uma sociedade melhor.

“A ciência ainda não nos provou se a loucura é ou não o mais sublime da inteligência.”

(Edgar Allan Poe)

CURIOSIDADE:

Histeria feminina-

A histeria feminina já foi um diagnóstico comum que, hoje, está completamente desacreditado. Em 1859, um médico chegou a dizer que um quarto de todas as mulheres sofria com histeria feminina. Outro médico catalogou 75 páginas de sintomas que caracterizavam a histeria feminina. De acordo com o documento, quase todos os males que o corpo humano sofre, independente do motivo, poderiam ser caracterizados como sintomas da doença. Acreditava-se que a “vida moderna” do século XIX fazia com que as moças fossem mais suscetíveis a desenvolver histeria. E isso não é o mais chocante. Como a histeria era associada com insatisfação sexual, o médico fazia “massagens pélvicas” na moça até que elas passassem por “paroxismo histérico” – em outras palavras, o médico masturbava a paciente até que ela tivesse um orgasmo. E, estranhamente, eles diziam que apesar das pacientes não terem risco de morte, elas precisavam de tratamento constante – não vamos esquecer que eles eram pagos pelas massagens pélvicas. Em 1873, o primeiro vibrador foi inventado para propósitos médicos – eles eram apenas disponíveis para os médicos que os usavam e não para as moças insatisfeitas diretamente. Posteriormente, o aparelho se popularizou e as moças puderam comprar seus companheiros sem a “interferência médica”. (extraído de http://hypescience.com/10-chocantes-praticas-do-passado/)