FEMINISTA É O CARALHO? Não aponta esse dedo pra mim que eu gostaria de quebrar todos esses seus dedos.

Sonhei que tinha uma barriga de grávida: que estourava e de dentro saíam fuligem e fumaça preta. Acordei de mau humor. Pensando na gente. Ser mulher é foda. Minha antiga ginecologista outro dia me disse que eu tinha que escolher: quer ser mãe ou não quer? Se quiser e não for agora, talvez seja bom pensar em guardar uns óvulos. Guardar uns óvulos? Eu sei que tenho 35, mas não consigo planejar tão bem planejadinho o futuro. Eu precisaria tirar o negócio de dentro de mim, botar numa geladeira, tirar da geladeira e colocar dentro de mim, na hora que quisesse realmente. Eu precisaria ter dinheiro. Há mulheres que se organizam nisso. E há eu. Eu não consigo. Metade da humanidade não vive na pele: não importa o que a gente faça, os dedos estão aí para nos apontarem. Se a gente é mãe, tem que ser deusa e dar conta de tudo (porque nem deus dá, obviamente) - o pai não precisa nem existir, e se não existir, a culpa ainda é nossa -, mas a gente não pode errar uma vírgula, não pode se arrepender por um segundo nem só lá no fundinho da alma, a gente, menina, não pode cansar, porque surgem os dedos. Não faltam dedos também pra quem escolhe não ser mãe – sério? Mas e no futuro? Você sabe que seu útero tem prazo, né? Você nunca vai sentir esse amor? Porque amor incondicional, essa coisa louca, só por um filho. Eu não acredito em amor incondicional! Eu conheço mulheres que amam numa generosidade impressionante sem ter criança. E aí a gente ainda pode estar no grupo das que querem, mas não sabem tanto assim se querem, das que não querem, mas as vezes querem, das que querem, mas não deu. Tanto faz: os dedos estão apontados pra gente. Metade da humanidade não faz a menor ideia. E aponta o dedo. E se vê no direito de apontar o dedo. Eu gostaria de quebrar esses dedos. Tirá-los de cima de todas nós que escolhemos ser mães e que, humanas, cansamos; de cima de nós que já conhecemos o amor de tantas formas por aí e que não precisamos e não queremos ser mães; de todas nós que temos dúvidas ou que quisemos, mas não deu e lidamos com isso. De todas nós que sofremos essa pressão de fora e de dentro do corpo e ainda somos obrigadas a ouvir um ela estava desesperada por aí. Tem uma parte imensa da outra metade da humanidade que não entendeu porra nenhuma ainda, tão concentrados no umbigo que são. E tem nós. Eu gostaria de quebrar todos esses dedos.
 
Eu gostaria de ter escrito esse texto, assim, justinho ele ouvindo Anelis Assumpção - Grávida (Marina Lima - Arnaldo Antunes). Nessas horas a gente entende como é bom botar pra fora, porque bate em muitas. E na verdade escrevemos ele juntas, todos os dias, quando sofremos com os dedos e medos. Li hoje mais cedo num grafite: "você é o que você espalha, não o que você junta". Obrigada pelo texto/inspiração Tati Mattos.

Entendo sua indignação minha querida. Não deixe os dedos te pressionarem, siga o seu coração... E fodam-se esses médicos que pensam que são Deuses...35 é nova sim... Relaxa e espera o seu tempo.  As coisas não acontecem por acaso.

Tamo junta tati! seguimos na luta pela aceitação da outra qualquer que seja a sua opção de vida e de futuro e da porra toda! Ahahahahahaha...

Quero tomar uma cerveja com você hoje pra te dizer que eu escutei a mesma frase nos meus 34. Respondi a gineco que se eu fosse ter filho, ele seria concebido numa noite de lua cheia, num sexo na praia. Ele gargalhou, não acreditou, lógico. Eu não congelei óvulos. E seguimos e hoje estou aqui.

Tamojuntas: Carla, Daniela, Tati, Malu, Ana, Cris, Helena, Marina, Eliza, Cris, Cristiane, Carolina, Silvia, Carla, Isabel e quantas Marias que somos todas juntas. Frágeis e fortes, mas juntas somos todas você Tati, porque você é e somos todas nós.
 
Bjo
 
Sim, estou grávida de terra, gravida de uma nota musical, grávida de um beija-flor e vou parir um terremoto e vou parir um avião e quando o sol dilatar eu vou dar à luz... É que eu to mãe, to grávida, gravida de um furacão... lá, lá, lá... ta, ta, ta... ra, ra, ra, ta... eu to grávida, grávidaaaaa e vou parir uma loucura...