A IDIOTIZAÇÃO E A CURA DO BRASIL

No fim das contas, os supostos eleitores derrotados serão os grandes vencedores. É que as mentes dos supostos vencedores involuíram tanto, e continuarão involuindo, que logo estarão na idade média, completamente perdidas da realidade mundial contemporânea.

Até chegar esse dia, o excesso de moralismo, preconceito, raiva da cultura, fanatismo e bajulação populares do poder continuarão cegando a todos, de modo que um palmo à frente será uma longa distância; um desafio imensurável para eles. Vão se afastar das artes e de qualquer leitura que não sejam a Bíblia e similares. Aceitarão plenamente uma educação escolar tacanha, sem disciplinas que promovam o pensamento crítico e o livre debate. Farão dos templos religiosos e de suas doutrinas desconectadas com o mundo, um exílio definitivo para não encararem a evolução do mundo restante. O avanço das mentes e das realidades que exigem esse avanço.

Quando a total idiotização dos milhões e milhões de supostos vencedores for uma realidade inquestionável, os outros milhões de supostos derrotados estarão anos-luz à sua frente: não terão deixado de ler os livros que decodificam o mundo e abrem horizontes para a modernidade. Não terão deixado de frequentar museus e outros espaços culturais. Terão continuado a estudar, ainda que escondidos do poder e seus lacaios instituídos e voluntários, disciplinas como Filosofia, Sociologia, História e Artes. Também terão continuado a pesquisar sobre tudo e a cultivar os conhecimentos livres de padrões e obrigatoriedades. Mais ainda, terão prosseguido com seus projetos ousados e questionadores de verdades impostas. Em suma, não terão deixado de pensar por conta própria e ser quem são, mesmo contrariando poderosos da política, da economia, seus lambedores mais próximos e os remotos, por questões de vantagens reais ou alegremente supostas.

Nesse tempo, o poder público terá percebido que já não precisa dos bajuladores voluntários, os "de graça, com muito orgulho". Eles terão perdido a validade, vencidos pelo tempo que passou e não foi seguido. Então os supostos perdedores serão chamados para protagonizar os rumos da evolução urgente, mediante concessões legais, reconhecimento dos erros, das perdas oficiais, e acertos necessários para que o país volte ao mapa múndi ou não saia em definitivo. São os supostos perdedores de hoje, os futuros libertadores do país, com os conhecimentos que terão acumulado enquanto os outros terão apenas diluído; perdido essência, consistência e visão de horizonte.

É nesse ponto, que repito a parte final da célebre declaração do inesquecível Darcy Ribeiro, que hoje, assim como Paulo Freire, é execrado pelo atual poder público, seus lacaios bem pagos e os "de graça com muito orgulho": 'Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu. '.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 13/01/2019
Código do texto: T6549739
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