SOBRE TODA MANEIRA DE AMAR
Demétrio Sena - Magé
A profecia musical de Milton Nascimento, que determinou bem antes da internet: "Qualquer maneira de amar vale a pena", sempre foi vista com limitações no tempo e no espaço. A sociedade, entre concordando e discordando, na maioria das vezes discordando, viu na mensagem somente a máxima do amor nas versões hétero e homossexual. Na versão homossexual, e por longo tempo, considerando apenas a homossexualidade masculina. Com o surgimento ainda bem atual das muitas nominatas encorpadas pela sigla LGBTQIA+, o contexto polêmico de qualquer maneira de amar se ampliou indefinidamente.
O advento e os horizontes da internet ampliaram ainda mais a máxima, com os relacionamentos fixos ou abertos e volantes on-line, além das fantasias... tantas trocas de fantasias! Umas bem saudáveis, porque sem consequências e sofrimentos para terceiros, e outras danosas; que respingam nas casas, nas famílias, pois nem todos utilizam a sabedoria da moderação. Porque nas trocas de fantasias, há os que só querem mesmo isso e os que tarde ou cedo partem para o tudo ou nada e retaliam, se a outra margem acenar com o nada.
Aí, essas maneiras de amar já passam a não valer a pena, porque o livre arbítrio de uns começa a ferir o de outros. Porque o sigilo se torna escândalo, pela quebra do decoro e da ética dos que não aceitam nãos... dos que não admitem adeuses ou hiatos... os que mesmo à distância querem prender, obrigar, ser donos ou donas de quem sempre manteve o contexto inicial e cujos sentimentos ou intenções não evoluíram junto... nem teriam que evoluir, porque relações de afeto não têm contratos nem "acordos de cavalheiros"... ou damas.
E quando muitos descobrem que havendo lado opressor a maneira de amar já não vale a pena, surge o tal do amar a si mesmo, só para não correr mais nenhum risco. Santa ingenuidade! O ser humano é complexo até para se auto amar! Ele agride a si mesmo, espera de si mesmo aquilo que não tem ou não pode oferecer... e no fim das contas, trai a si mesmo e descobre que não há risco maior do que o não correr risco... e mesmo quando não vale a pena lá no fim, toda maneira de amar valeu, em seu percurso... até o solitário.
A procura - sempre legítima, inclusive por formas ilegítimas - da felicidade não tem fim.