LEI, GRAÇA E DESGRAÇA NAS ELEIÇÕES

Demétrio Sena - Magé

Muitas vezes algo está na lei, mas é desumano. É até justo; no entanto, imoral. Tem algum amparo legal, mas desampara um indivíduo inocente. Nem sempre um ato é bom por estar na lei, porque as leis são criadas pelos homens, e os homens são bons e maus, complacentes e perversos, justos e tiranos. É por isso que a escravidão foi lei... mas foi boa? O nazismo foi lei... mas foi bom para o ser humano? O imposto de um quinto de tudo o que tínhamos e recebíamos também foi constitucional, como a ditadura foi lei neste país; está prestes a voltar... ainda é lei em muitos países e populações imensas vivem sob jugos extremamente pesados.

Lembro aos cristãos, que o Velho Testamento foi lei... o novo é graça e substituiu o velho, porque aquele não era bom... Jesus Cristo, ao defender Maria Madalena do apedrejamento, simplesmente não deixou que aquelas pessoas fizessem algo amparado por lei, naquela época, pois para ele, a graça e a piedade valiam - e valem - mais do que leis como aquelas. Mas ninguém entendeu a graça e quase todos relutam em aceitá-la. Sabem por quê? Porque ela é muito boa para nós, mas também para o próximo, e consideramos uma desgraça o que é bom para o próximo, ainda que o seja igualmente para nós.

Nem sempre devemos nos vangloriar por estarmos na lei. Isso pode salvar nossa pele, mas estarmos na graça, sendo religiosos ou não, indiscutivelmente salva nossa essência. E a graça não é, exatamente, uma inimiga; ela pode ser uma parceira da lei, tornando-a humanitária e mais justa. Isso passa pela nossa consciência como cidadãos, pelas nossas exigências como eleitores em um país democrático e a escolha de governantes e parlamentares que tenham um olho na lei e outro na essência humana; um olho na justiça e outro na piedade; nas punições de crimes dentro dos rigores institucionais, mas também na crença de que o ser humano tem jeito, e por isso, acreditando em penas que ressocializem, não que tornem um criminoso ainda mais criminoso; irrecuperável.

O Brasil atravessa uma fase de muita raiva, em grande parte por causa de uma polarização eleitoral dividindo a população em dois exércitos que parecem defender duas divindades, cada um a sua. Em meio a isso, religiões cristãs determinando em quem os fiéis terão que votar, para não sofrerem a ira de um Deus tirano, juiz impiedoso, totalmente avesso à graça instituída justamente pelo cristianismo, por meio do Novo Testamento bíblico... regido pelos ensinamentos de um tal Jesus Cristo, que hoje parece não "apitar" muito na truculência, na intolerância e na ditadura dos líderes, ao mesmo tempo imposta e delegada aos fiéis, para que esses oprimam aqueles que não seguem as mesmas práticas e crenças.

Sendo assim, as religiões cristãs querem eleger sua divindade política para pastorear o país; não para governar. Querem misturar crimes com pecados, leis com preceitos, mesclar constituição federal, código penal e Bíblia... e não tendo aprendido nada com a graça - nem com as desgraças da inquisição na idade média -, querem instituir uma nova inquisição com essa simbiose governo/igreja, que nunca deu certo em toda a história da humanidade. Definitivamente, as religiões cristãs se distanciaram de todos os preceitos cristãos, nesse vale tudo para mostrar quem manda.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 07/10/2022
Código do texto: T7622204
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