O dia: 03 de janeiro; o local: Gaza, na Palestina. O que ninguém não queria acabou acontecendo; Israel e suas centenas de Tanques de Guerra começaram a invasão por terra aos territórios ocupados da Palestina. O saldo parcial de vítimas: 06 israelenses e 450 palestinos; entre os mortos, dois líderes do Hamas e centenas de inocentes crianças e velhos. A perspectiva: mais mortos, destruição de monumentos históricos e propagação do ódio entre as religiões. Sejam bem vindos ao inferno!
 
Uma fileira de centenas de tanques de guerra se espremia no limite entre Israel e Palestina, na Faixa de Gaza, esperando uma ordem de Tel-aviv para invadirem as cidades controladas pelo Hamas, que são considerados terroristas por Israel e acusados de promoverem mortes e torturas, mas antes, uma chuva de poderosos mísseis de médio alcance varreu do mapa casas, prédios públicos, hospitais e praças das pequenas e populosas cidades palestinas. Ao final desta chuva com cheiro de morte, começava o ataque por terra. Estava declarada oficialmente por Israel a guerra contra a Palestina.
 
Analisar a desproporção entre os dois é como comprarmos o poder financeiro entre São Paulo e o Acre; Israel possui navios de guerra, tanques, blindados, aviões de caça, bombardeiros e outros mimos atribuídos a guerra; já a Palestina possui meia dúzia de foguetes de pequeno alcance e pouca destruição, normalmente feitos em casa pelos futuros mártires de Deus, lança granadas de 30 anos atrás, fuzis e o mais impressionante de tudo: a obstinação do povo que é capaz de brigar sabendo que vai morrer sem jamais se cansar. Os palestinos sabem de todos os buracos e armadilhas de Gaza; conhecem bem a região e também sabem que a luta será duríssima.
 
As histórias destes dois povos estão publicadas em artigos anteriores aqui no Irregular e no Recanto das Letras do UOL, mas apenas para relembrar, os dois povos se enfrentam há milênios e ambos acreditam piamente que as terras dos arredores de Jerusalém lhes pertencem por direito, herança de seus antepassados; ambos também acreditam que Deus é um só, mas que os Profetas Divinos são os seus, aqueles que eles acreditam e doam suas vidas. Em 1948, depois da criação do Estado de Israel, a Palestina não o reconhece, da mesma forma que Israel não permite a criação do Estado palestino. Basicamente são estes os motivos da guerra, do ódio e da transformação da “Terra Santa” num inferno sem precedentes.
 
Se analisarmos cada um dos conflitantes irá perceber que Israel possui legislação, Governo, Parlamento, sistema judiciário, moeda, bancos, representações diplomáticas no mundo inteiro, indústrias e uma vasta oferta de turismo, ou seja, é um Estado de fato e de direito, com regras e obrigações; já a Palestina, não possui sistema bancário, moeda própria, indústrias significativas, sistema de justiça, legislação, os palestinos não possuem quase nada além da vontade de viver e servir e Deus (ao seu modo).
 
Olhando o mapa de Israel se pode observar que os palestinos possuem duas faixas de terra sob seus domínios; a primeira entre a Jordânia e Israel, que se chama Cisjordânia e, portanto a maior porção de terras e onde eles se encontram em Jerusalém, que é disputada por ambos e finalmente a Faixa de Gaza, que sobre do norte do Egito beirando o Mediterrâneo, até próximo a cidade de Ashqelon e onde estão ocorrendo os conflitos atuais.
 
Muito embora não estejam ocorrendo invasões ou conflitos mais drásticos na Cisjordânia toda esta região mantêm-se em estado de alerta máximo. Informações que obtive de amigos que moram na região, principalmente no Líbano, informaram que é grande a expectativa dos palestinos da Cisjordânia em ajudar ou receber seus irmãos de Gaza. Da Faixa de Gaza para a Cisjordânia são apenas 35 km, mas no meio, existe Israel. Para se entender sem ver um mapa, a Palestina possui dois territórios que não estão juntos e no meio deles está o Estado de Israel.
 
10 mil soldados israelenses já estão no local e participam dos primeiros conflitos, mas as agências de notícias que estão fixadas na região já afirmam que outros 25 mil soldados já estariam prontos para a guerra, 10 mil ativos e 15 mil reservistas. Como a Palestina não possui exército ou qualquer força armada (a não ser a polícia), todos os populares são soldados em potencial e também vale lembrar que as forças militares de Israel são as mais bem treinadas do mundo.
 
O local dos conflitos, Faixa de Gaza, recebe este nome porque está numa região chamada Gaza e uma pequena faixa de pouco mais de 360 km² foram negociadas com a Palestina; poucas cidades estão neste terreno pequeno, mas há uma super população de palestinos que se espremem entre o Egito, o Mar Mediterrâneo e Israel. Egito que é praticamente mulçumano, muito embora não seja muito carinhoso com Israel, faz-se de neutro e muitas vezes fecham sua fronteira para impedir que refugiados palestinos entrem em seu território. No mediterrâneo ocorre o mesmo, muito embora a legislação internacional permita a exploração de 200 milhas marítimas à frente de todas as nações, o mar a frente de Gaza é israelense e controlado duramente por ele.
 
Em Gaza há pouco mais de 1,6 milhões de habitantes e afirmam os institutos de geografia que lá está uma das maiores densidades demográficas do mundo, portanto, um ataque por terra poderia gerar uma das maiores matanças das ultimas décadas; 69% desta população são mulçumanas e também existem os nativos de outras religiões e uma minoria cristã.
 
Do po0nto de vista da jurisdição internacional, Israel está proporcionando um ataque contra seu próprio povo ou seu próprio território; se a Palestina pelo menos fosse um Estado, como prometido no passado, em tese a ONU deveria intervir no conflito, mas como afirmou membros da comunidade européia, Israel só está se defendendo; da mesma forma que, se os ataques se intensificarem e muitos palestinos forem mortos, em tese, os líderes israelenses poderiam ser acusados por genocídio em Haya, inclusive podendo haver acusação de limpeza étnica. O resultado deste imbróglio internacional poderá gerar conseqüências gravíssimas para o Conselho de Segurança da ONU.
 
O Brasil e a grande maioria de nações em desenvolvimento pedem urgentemente um cessar fogo por ambas as partes e rogam para Israel revejam suas ordens de invasão de Gaza, mas o que ninguém até agora discutiu é quais conseqüências haveria se a Cisjordânia também entrasse neste conflito; maior e mais bem estruturada, os palestinos da Cisjordânia, que são controlados pelo Fatah, sinalizam apenas em observarem o resultado disso e em fazerem protestos. É obvio que Israel também já deve estar de olho na Cisjordânia, mas nunca é demais lembrar que é lá que os maiores símbolos das três maiores religiões monoteístas estão fixados; local de nascimento e morte de Jesus Cristo, mausoléus dos profetas judeus e mulçumanos, além de inúmeros vestígios de civilizações até hoje não decifradas. Um conflito como o que está ocorrendo em Gaza, se fosse à Cisjordânia, além de matar muito mais pessoas, poderia estar apagando de vez a parte mais mística da história da humanidade.
 
Hebron, Jerusalém, Jericó e Ramalah são algumas das cidades que estariam ameaçadas; símbolos como a Igreja do Santo Sepulcro e da Natividade (onde morreu e nasceu Jesus), poderiam deixar simplesmente de existir; tesouros arqueológicos datados de milhares de anos virariam pó; lugares como o Rio Jordão, único abastecedor de água potável da região, poderia esvaecer, além de milhares de outros pontos importantíssimos para o mundo.
 
Os dois povos não acreditam uns nos outros, seja por questões políticas, seja por questões da ideologia religiosa; as nações do mundo não exercem nenhum tipo de influência em nenhum destes povos; não há nomes capazes de conversar de modo igualitário com nenhum dos líderes e pelo visto, nenhum dos dois aceitará em curto prazo a condição de Estado de seu vizinho, portanto, estamos distantes de enxergarmos uma solução para este impasse. A única verdade é que ambas as partes contarão baixas, gente inocente morrerá e santuários históricos imprescindíveis para a elucidação dos mistérios de muitas religiões estarão ameaçados, e pelo visto, o ódio e a intifada estarão presentes nas famílias de judeus e árabes mulçumanos por mais alguns séculos. Um péssimo destino para dois povos extraordinários, de culturas inigualáveis e capacidade de recomeço inimaginável.
 
 
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 04/01/2009
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