Superar a dependência, primeiro superação de si próprio. 

     Quando falamos em dependência química a primeira idéia que temos que estar ciente é que cada caso é um caso, e que embora seja cada situação particular vemos algumas empatias do histórico social, emocional e estrutural tanto da pessoa dependente quando no contexto social familiar. 

     Dia atrás conversava com uma pessoa que tem problemas com o álcool há vários anos, e tenho a oportunidade de acompanhá-lo numa longa temporada. Esta pessoa hoje encontra já na faixa dos 60 anos. 

     Este amigo já esteve varias vezes internado na instituição a qual também atuo e poderia dizer que entre por varias vezes já passou conosco internado, durante um período de 7 anos, sem contar as internações em outras entidades. 

     Este amigo teve inicio no álcool ainda na pré-adolescência, e teve vários facilitadores como o de seu pai ser proprietário de bar, fazer uso abusivo de álcool. Embora, este (pai), fazendo uso abusivo sua família de grande reputação na cidade e de educação rígida familiar, assim sendo, este rapaz foi educado dentro de alguns princípios espirituais e morais os quais passaram a fazer parte de sua personalidade formação ética, moral e social. 

     Pois bem, este rapaz já desde cedo teve conflitos com sua sexualidade, e com tendência ao homossexualismo. Isto certamente, os levou a viver um conflito profundo entre sua formação moral e seu desejo ou impulso pelo mesmo sexo. 

     Sua vida afetiva, sexual só realizavam sobre efeito de álcool, sendo assim, o álcool de certa forma passou a fazer parte de sua vida, já que devido a certos conceitos e formação não conseguia viver a sexualidade de maneira plena sem estar de consciência alterada. . 

     Somando-se a predisposição ao álcool, mais a de seus conflitos emocionais e sexuais este amigo acabou adquirindo a dependência química do álcool e ainda da mesma forma ainda vive seu enorme conflito sexual que a cada tempo vai sendo transformado dentro do contexto de sua idade. 

     É uma pessoa evangélica, mas que não supera o seu desejo e impulso sexual pelo mesmo sexo, desta forma vive de eternas recaída, mesmo consciente de sua doença adquirida (dependência). Mesmo muitas vezes lutando para superar o álcool, tanto quanto seu desejo sexual pelo mesmo sexo não consegue manter sóbrio por um período de máximo de 4 a 6 meses. Esta pessoa não consegue superar sua estrutura de formação e educação para a pratica de sua sexualidade sem o uso de álcool e, por conseguinte acaba recaindo, como também não consegue superar seu impulso sexual para que abdicando dele não faça o uso de álcool. 

     Na verdade esta pessoa teria duas escolhas a fazer para a superação do álcool. Uma seria superar todos seus conceitos construídos ao longo de sua vida, assumindo sobriamente sua opção sexual, para que não faça do álcool a droga motivadora para tais praticas ou afetividades e assim, encontre paz interior. A outra seria renunciar praticas homossexuais já que se encontra numa idade que certamente onde a atividade sexual já esteja mais espaçada e que, renunciar praticas sexuais não significa ter desejos, mas porem, assumi-los sem praticar. Desta maneira pode perfeitamente ter qualidade de vida canalizando seus pensamentos para outras atividades, substituindo e construindo uma nova filosofia de vida sem medo e sem preconceito de seu passado. 

     Este relato é muito interessante, porque sabemos que há muitos dependentes químicos ou mesmo pessoas potencialmente à dependência química por viver a mesma realidade desta pessoa e que pode refletir muito seu pensamento a partir desta leitura.

Ataíde Lemos
Enviado por Ataíde Lemos em 24/05/2006
Reeditado em 24/05/2006
Código do texto: T161952