A EDUCAÇÃO QUE EXCLUI A LITERATURA

Sempre que participo de uma reunião com educadores de qualquer unidade escolar, para decidir sobre eventos culturais ecléticos, uma coisa me assusta: Em meio a uma infinidade de sugestões que passam pela música, o teatro, as artes plásticas, a dança e o artesanato, quase nunca se fala em literatura. Diversas vezes questionei essa exclusão, e as respostas são as mais inusitadas. Uma delas é a de que o teatro, por exemplo, já tem inserido a literatura. Outra explicação bastante comum é a de que a literatura, por si só, não atrai púbico, se apresentada por meio de leitura ou declamação. Em outras palavras, ela não facilita o espetáculo massificado; o arrebatamento das multidões como visam os educadores burocráticos, quase sempre políticos. São eles que, via documentos formais, projetos e programas de vitrine repassam esses conceitos aos educadores lotados em escolas, que abraçam prontamente essa preguiça instituída; essa má vontade que o aluno absorve, estabelecendo uma corrente letal para o futuro dos nossos jovens.

Todas essas modalidades artísticas são de importância fundamental na educação. Mas as formas como têm sido apresentadas, visando apenas o espetáculo e o garimpo de votos das multidões, são cada dia mais pobres culturalmente. E tudo se agrava com a exclusão das letras, o que deveria estar no topo dos planos de junção educação/cultura. Considero um crime, que a literatura seja tratada como coadjuvante, figurando como atalho em outras modalidades que na opinião popular atraem mais público. Exclui-se a literatura em nome do espetáculo e em detrimento da qualidade. O alvo das escolas é a satisfação do ego de seus superiores ou patrões. Como educador de escola púbica estadual, posso dizer com segurança que essa é a política dos nossos chefes. Temos que agradar os coordenadores regionais, que precisam agradar as lideranças do setor na Secretaria, que por sua vez têm de agradar o secretário da pasta, tendo ele que agradar o governador na sua busca eterna de votos.

O princípio do sucesso educacional está na leitura. Antes do cálculo e de qualquer outro item, até mesmo da escrita, a leitura é o termômetro principal da educação. E o grande instrumento para fazer de cada pessoa um cidadão consciente, pleno e decodificador do mundo é o livro. É a literatura renegada pelos educadores em sua forma original, na hora do evento. Ele não quer enfrentar o desafio; “pagar o mico” da realização de eventos menos frequentados; “fazer feio” perante as autoridades que porventura compareçam a tais eventos. Por isso opta pelos eventos inchados; recheados de desempenhos onde as grandes movimentações e as cotoveladas são os parâmetros perfeitos do sucesso. Para tais educadores, os discursos de seus chefes ou patrões são o ponto alto de seus eventos. Discursos estes, que visam sempre a mesma coisa: Popularidade, prestígio pessoal, conquistas numéricas e quase sempre votos que os mantenham sorridentes...

... E a literatura, meus caros... Em suas formas originais, transparentes e mais fundas, não combina com política partidária. Ela é a mais sincera das artes. Exige mais do que palcos e sorrisos postiços. É claro que falo da literatura como literatura mesmo... Não como espetáculo, comício nem vitrine.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 19/07/2009
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