O RIO DA COPA E DA OLIMPÍADA

O combate ostensivo e sistemático ao tráfico de drogas nos morros do Rio não mostram resultados positivos. Só há mais violência, e na maioria dos casos as vítimas em potencial são os inocentes. São eles que, desarmados, ficam entre as balas que se cruzam, não raramente os achando. Essas pessoas são pedras. Pedras que existem no meio do caminho de comunidades nada poéticas; distantes de Drummond.

Sabe-se que o policiamento ostensivo e o combate aberto são hoje as quase únicas alternativas de governos desesperados. Hoje, sim, mas houve um tempo em que se podia fazer algo bem mais inteligente para conter o avanço da criminalidade; o crescimento vertiginoso do poder de fogo da bandidagem. O que seria uma solução bem menos demorada e penosa, hoje é um perspectiva ainda real, sempre será, mas que demandará um tempo, um gasto e uma capacidade muito maior de estratégias para diminuir e quem sabe, dominar o estado de calamidade que a violência se tornou por aqui.

Tudo passa pela educação eficiente, sem demagogia, bem nos moldes do que ensinava o saudoso Darci Ribeiro. Mas era um projeto dispendioso, antipático e de pouco retorno em imagem pública, o que não enchia os olhos de quem sempre visa em primeiro e quase único lugar, os votos da população. Brizola entendeu isso, e perdeu prestígio. Teimou, investiu e quase foi crucificado quando falou em direitos humanos, apregoando um sistema prisional de recuperação plena do condenado, para que este fosse devolvido à sociedade em condições de se readaptar à mesma.

Em todos os sentidos, Darci e Brizola primavam pela educação: Nas escolas, nas casas, nos presídios, nos internatos e nas ruas. Uma educação contínua, sistemática, cidadã, que faria pelos pequenos o que fez pelo próprio Brizola, um dia menino pobre, engraxate, veterano das ruas. No entanto, soube-se sempre que a construção de presídios gera mais votos e possibilidades de lucros. Os milhares de policiais nos morros, combatendo o crime ao melhor estilo do velho oeste americano atraem mais a imprensa e põem muito mais vezes o microfone da mídia, em um todo, à disposição dos políticos.

O tempo passa, e a educação continua preterida. Já se enxerga, em alguns momentos, as consequências da falta de educação eficiente, baseada em suas prioridades reais e profundas, mas a tentação é grande: O alarde atrai mais, além do fato de que hoje, graças ao antibrizolismo fanático, intransigente, essa guerra é mesmo necessária. Necessária sim, mas continuam faltando ingredientes fundamentais da receita da educação, nessas guerras. Ingredientes como o compromisso com a vida dos inocentes que correm de um lado para outro, cada vez que a polícia invade uma favela.

Há quem diga que só cobramos essa postura da polícia. Mas é claro que sim! Bandidos não têm compromisso! Eles podem atirar a esmo, pois se dão o direito, baseados na sua irresponsabilidade social. É a polícia, são os políticos e a sociedade organizada, que deveria ser mais organizada que o crime, os seres sociais que devem se preocupar com a população, como são os pais que devem se preocupar com os filhos e os educadores com os educandos. Sem essa consciência, nada feito.

Enquanto isso, é este o Rio que sediará uma copa, uma olimpíada, e disputa títulos como o de uma das maravilhas do mundo, com sucesso inexplicável, pela realidade horrenda imposta como alma não apenas da cidade, mas de todo o estado. Um estado que a exemplo do país e de grande parte do mundo, sofre pela falta de discernimento... de educação de seus governantes e parlamentares eleitos pelas nossas características similares.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 03/11/2009
Reeditado em 03/11/2009
Código do texto: T1902946
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